LUZINHA NA CASA DA ESTRADA

Márcia e Leandro sempre foram eternos amantes, ou seja, foram, são e serão eternos amantes. Um amor que começou há muito tempo. Com um sorriso, um aperto de mão, algumas palavras ao ouvido. Então, consagraram-se amantes eternos.

No início deste lindo e longo amor, foram castigados pela desaceleração econômica que o Brasil viveu nos anos 80. Foram fortes. Trabalharam muito. Conquistaram um lugar na sociedade e são reconhecidos e prestigiados.

O amor dos dois foi tão imenso que se casaram alguns meses do início do namoro. Foram tantas emoções que resolveram morar juntos com os pais de Leandro. Uma família muito grande, com doze filhos, mais as esposas e esposos, netos, bisnetos, noras etc. Desta forma viviam nesta casa mais ou menos umas trinta pessoas. Muita gente, mas todos honestos, trabalhadores da agricultura familiar e uma ascensão econômica muito forte. Queria o casal se mudar daquele lugar, mas pretendiam ter um pezinho de meia a mais para comprarem sua própria terra. Era difícil, porém estavam juntando sua própria economia e pretendiam rapidamente morar em seu próprio sítio.

A vida de casado era bem ótima. Os dois se amavam muito, faziam planos, cantavam, estudavam e eles eram considerados um exemplo para a sociedade.

O tempo ia passando. Muita gente naquela casa. Todos os dias eram “festas”. A família unida e determinada a vencer todas as etapas.

A liberdade do casal estava restringida a poucos momentos. Nas horas em que iam namorar sempre aparecia algum empecilho. Ora batia na porta do quarto perguntando se o café havia acabado, se a conta da energia elétrica já havia chegado, se o saldo da conta bancária estava negativo. Noite adentro era isso. Faltava a eles um pouco de privacidade.

Um belo dia, Márcia e Leandro resolveram sair passeando à noite pela fazenda. A lua estava clara. Era noite de verão. Muito calor e sensação de abafamento atmosférico. Caminharam e conversam o futuro. Estava difícil viver naquela casa, pois eles não tinham privacidade sonhada pelo casal. Neste momento, viram uma casinha abandonada. Estava limpa, não tinham arbustos por perto, nem grama dentro da casa, nem morcegos. O antigo morador dali havia saído há duas semanas. Tiveram uma ideia: ali era o local certo para namorarem, para conversarem sobre o futuro, enfim, fazer o que o casal gosta de fazer sem interrupções, sem ameaças privativas. Decidiram o momento certo.

Com a lua clara, facilitou-se o deslocamento dos dois. Eles carregavam uma luz de vela para iluminar a estrada. Entraram na casa, acharam algo para sentirem-se à vontade e começaram a apimentar seu amor.

O tempo passava. A hora para eles não existia. O longo amor estendia pela noite. Uma vela, duas velas, enfim, a cada vela trocada o amor deles era mais forte.

João Deitado, apelido dado a um velho conhecido do casal, gostava de ir ao povoado todas as noites. Era chuva, era sol. Ia ele sorridente e gostava de beber uma pinga, não muita, mas algumas doses para alegrar sua vida. Não tinha família. Ficou viúvo muito cedo e não possuía filhos. Era sozinho, mas muito trabalhador e bom tocador de violão. Ficava até tarde no bar do Tatão. Cantava modas de viola, músicas românticas e se aventurava cantar em praça pública, principalmente fazendo serenatas para as mulheres.

Naquela noite, João regressava para sua casa. Meio assustado, tinha medo das almas penadas, andava muito rápido e se deparou com uma cena diferente:

- Meu grande amor, cantava João. Então olhou para a casa e viu uma luz flutuar lentamente. Na sombra da luz, viu duas imagens que se abraçavam, que se beijavam, que se corriam um ao outro e faziam evoluções amorosas para o momento. Ficou intrigado. Quis ver o que era, mas suas pernas tremiam de medo. Não podia correr. Sua voz não saia da garganta. Em um dado momento, jogou o violão no chão e teve coragem para correr e gritar que havia um fantasma dançando, ou melhor, dois fantasmas se amando.

O tempo passou e João não mais se ousava em olhar para a casinha abandonada. Quase todas as noites Márcia e Leandro iam namorar naquela casa. Sempre levavam as velas. Faziam as evoluções amorosas.

João ia ao povoado, mas voltada no outro dia. Arrumou uma pensão no povoado e não quis saber de olhar para a casa abandonada.

Por alguns anos Márcia e Leandro frequentavam aquele lugar. Até o dia que saíram definitivamente da casa de seus pais para sua própria morada.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 22/07/2016
Reeditado em 25/03/2018
Código do texto: T5705189
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