A MISTERIOSA VILA 2 - O GAIVOTA

A lembrança, daquela moça de olhos verdes era viva em minha mente. Por vezes pensei em retornar, encontrá-la e fugir com ela, estava apaixonado meu coração doía. Mas, um nômade, caminha com vento, é impossível parar.

Com as economias que ganhei no navio, investi em uma pequena traineira para pescar bacalhau no mar do norte, mas sem destino certo, quem sabe o acaso me levasse de volta à misteriosa vila.

No fim do dia após a cansativa caminhada, finalmente cheguei ao último e pequeno porto nos arredores de Baltimore. O cheiro das algas marinhas me encheu os pulmões, o ranger das tabuas do cais, se confundiam ao grasnar das barulhentas gaivotas aninhadas nos topos dos mastros tentando não cair com a força do vento. O horizonte avermelhado anunciava o descanso do Sol.

Reconheci o homem que acenava para mim sobre o convés, era um velho amigo do meu pai, juntos lutaram na guerra civil em Baltimore onde meu pai foi morto.

A velha traineira de madeira artesanal tinha o costado azul e contornos brancos, seu formato lembrava um barco viking. Me apaixonei pela segunda vez. Subi os degraus da escada desgastados pelo tempo e o sal, fui recebido pelo velho Asgard, e mais três pescadores, depois de uma rápida conversa com todos, assumi meu posto de capitão. Ali agora era minha morada. A noite trouxe o vento frio do oceano nos abrigando a descer para o interior do barco. Sobre uma mesinha desforrada, uma panela fumegando com o pescado fresco, e grande prato de batatas fritas,. Abrimos uma garrafa de Rum, e traguei um gole vigoroso aquecendo o peito e o animo, em seguida nos sentamos no convés sob o céu estrelado, saboreamos o irresistível café torrado. Falamos um pouco sobre meu pai, mas interrompi a conversa quando notei que os respingos da água do mar, se misturavam as lagrimas no rosto marmorizado do velho capitão. Terminamos a noite deitados em nossos estreitos beliches e adormecemos ao balanço das ondas.

A escuridão era completa quando zarpamos, o mar estava relativamente calmo, os clarões dos relâmpagos no horizonte nos indicavam uma tormenta distante. Navegamos por cinco dias, com tempo bom, estimei que chegaríamos bem rápido, mas o nosso primeiro contratempo chegou bem antes do esperado, o mar se aborreceu e nos castigou com uma longa tempestade.

Os ventos uivavam como cães raivosos pelas frestas das escotilhas. As endemoniadas ondas nos puniam como se fossemos pecadores. Nossas faces enrijecidas e receosas, eram castigadas pelo vento e o mau humor do Atlântico Norte.

Lutamos dias e noites, uma luta desigual e penosa, mas com a tenacidade de guerreiros não sucumbimos. Após tantos maus tratos, o oceano se apiedou dos que se aventuram em sua vastidão, e nos deu uma trégua em forma de calmaria. Nossa travessia foi árdua e exaustiva, mas a pescaria foi compensadora.

Já era quase meia noite, cansados e com frio atracamos no pequeno porto de Kalle. Após um asseio roupas secas e limpas, um dos marinheiros foi até o vilarejo e nos trouxe pão quente, coisa que não víamos a um bom tempo. Comemoramos com uma justa e farta janta. Com o pescado mantido no sal, combinamos descarregá-lo pela manhã.

Porém o velho Asgard se apressou em desembarcar, precisava chegar do outro lado da costa, para pagar uma antiga promessa. Ele não esperou o sol nascer.