A Mensagem do Além

“Há mais coisas entre o céu e a terra

do que pode imaginar nossa vã filosofia”.

William Shakespeare

Bem, queridos legentes, gostaria de falar para vocês a respeito de um tema pouco recorrente nos dias atuais. Estava eu me recordando dos lugares e pessoas que conheci durante as minhas viagens, longas viagens e me lembrei de um fato ocorrido há um certo tempo e não diria apenas estranho, mas bastante intrigante, porque aconteceu após uma série de eventos cronológicos de intervalos precisos. Mas para que vocês possam entender, eu preciso começar desde o início.

E este acontecimento está ligado a duas pessoas: Ângelo e Dequitymar , amigos de infância e sócios. Ângelo era uma pessoa calma e bem extrovertida, facilmente simpatizava-se com as pessoas, por outro lado, Dequitymar procurava falar sempre o necessário e não sorria com frequência, apesar da diferença eram como irmãos desde a infância.

Ângelo e Dequitymar moravam na cidade chamada de Puranó , uma cidade pequena, pacata e do interior com clima de perdida no tempo pelos aspectos de suas casas de estilo clássico e, certa vez, resolveram viajar à capital do seu estado para fazerem compras para abastecerem uma loja de artigos bíblicos.

Tudo começou exatamente no dia 02 do 12, há 14 anos, quando estavam retornando para casa à noite numa estrada escura, úmida e pouquíssima movimentada...

“Mas que final surpreendente! Exatamente a dois segundos do término do segundo tempo: “Gol!”. Que Revelação! Corínthias finaliza com chave de ouro e faz 2 a 0 no Cruzeiro” à 21 horas e 21 minutos. (Diz o narrador no rádio).

Mas que sorte você teve Dequitymar, o seu time ganhou de novo. (Afirmou Ângelo).

Pois é Ângelo, o Corínthias é colírio para os meus olhos. Esse time é mais valioso que uma cidade em ouro. (Exclamou Dequitymar “com os olhos brilhando”).

Calma Ângelo, vá com calma, você sabe que quando está chovendo a estrada fica... (Interrompido por Ângelo).

Calma você Dequitymar! (Ângelo falar sorridente e calmo).

Você sabe que dirijo desde a adolescência, não é mesmo Dequitymar?

Dequitymar, olhe! O que é isso? (Perguntou Ângelo espantado).

Oh, meu Deus! Segure-se o carro está deslizando, Dequitymar! (Ângelo gritou).

O que foi aquilo, Ângelo?

Não sei! Me parecia uma pessoa estranha que quase bateu no carro. (Afirmou Ângelo).

Pois, para mim pareceu que ele passou através do carro, Ângelo. (Retrucou Dequitymar)

Eu vi! Que coisa estranha, não é mesmo? (perguntou Ângelo eufórico).

Será que foi um fantasma, Ângelo?

Fantasma! (Exclamou Ângelo).

Fantasma existe, Dequitymar? (Perguntou Ângelo franzindo cenho).

Então, o que nós vimos, Ângelo, não era um fantasma?

Não sabemos, Dequitymar! (Afirmou Ângelo com expressão de dúvida).

Não sei, talvez para saber, você tem que se tornar um. (Afirmou Ângelo pensativo).

Ou se algum fantasma vier te dizer. Não sei! Alguém que já se foi voltar para dizer. (Dequitymar complementou as palavras de Ângelo).

Ângelo, tive uma ideia: vamos fazer um acordo de quem morrer primeiro volta para dizer como é do outro lado.

Dequitymar, esquece essa estória. Não brincas com essas coisas! (Exclamou Ângelo em tom repreensivo).

Deixa de ser medroso, Ângelo. Você só precisa dizer sim. (exclamou Dequitymar em um tom bastante convincente).

Mas que bobagem a minha, Dequitymar. Isso não vai dar em nada mesmo. Está bem! faço de sua palavra, o meu consentimento. (Concordou Ângelo).

Após esta noite e, exatamente, um ano depois, Ângelo sofre um terrível acidente e passa alguns dias em coma...

Olá Ângelo! Como você está? (Perguntou Dequitymá sorridentemente).

Estou bem, meu amigo, mas me parece que estou cheio de concreto dentro do meu corpo – sinto-me muito pesado. (Afirmou Ângelo com a expressão de desalento).

Tenha calma, Ângelo e tente relaxar. Logo, você terá alta e vai se recuperar. (Afirmou Dequitymar expressando otimismo).

Sabe Ângelo, quando você estava em coma, você parecia que estava domingo tranquilamente. Parecia até que estava sonhando – você sonhava, Ângelo, quando estava em coma? (Perguntou Dequitymar curioso).

Acho que sim, Dequitymar, (Afirmou Ângelo olhando para o teto).

Acho que foi um sonho, lembro vagamente de ver muito brilho de luz e ouro e portas imensas, mas nada além disso. (Afirmou Ângelo olhando para o teto).

Relaxe meu amigo, tudo vai ficar bem! (Afirmou Dequitymar sorridente).

Dias depois, Ângelo teve alta, mas sua saúde não foi mais a mesma e sua vida se seguiu penosamente com tratamentos e fisioterapias e, consequentemente, veio a falecer um ano exato, após o dia do acidente.

Porém, a vida continuou para Dequitymar sem o seu amigo/irmão que compartilharam, sonharam e construíram muitos planos ao logo de suas vidas. Para este, foi uma grande perca; para aquele, ....

Exatamente, um ano após o falecimento do grande amigo /irmão Ângelo, Dequitymar levantou-se da cama bem cedo, depois de uma noite de insônia e calafrios. Ao abrir a porta do quarto se encontrou na sala ainda semiescura, pois o dia estava quase amanhecendo e viu uma pequena luz azul descendo lentamente pela parede até embaixo no chão, Dequitymar não viu a luz parar, pós já se encontrava por traz do sofá e ao se aproximar viu o velho amigo sentado no sofá com o semblante radiante e jovial, levantando a mão lentamente apontando o dedo indicador para ele.

Querido amigo e irmão! (Exclamou Ângelo serenamente)

Vi cumprir a minha parte do trato de ti falar como é lá do outro lado - não é como tu queres e nem tão pouco como tu pensas, pois lá do outro lado, nenhum vivo viu, nenhum vivo ouviu, nenhum vivo imaginou, o que é de lá é de lá e o que é daqui é daqui e assim está feito e assim sempre será.

José Carlos Pereira de Farias

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