O Enigma da Ampulheta de Cristal

Passei a vinda inteira observando aquele estranho objeto que ficava em cima do louceiro de prata da minha sala de estar. Meu pai sempre dizia a quem perguntasse:

- “Foi lembrança do meu avô que o encontrou navegando pelas ilhas nos mares do atlântico e estou com esse objeto sob juramento de nunca o vendê-lo”.

Assim, cresci vendo o estranho objeto que sempre evitei tocá-lo, não por minha mãe ser extremamente ciumenta de seu louceiro de pratas, mas pela sua aparência que me evocava medo e arrepios. Não é muito grande, mas cabe perfeitamente entre o meu cotovelo e o punho, pesa alguns quilos, aparentando ser todo de metal de prata rústica envelhecida com detalhes de dois seres alados com asas semelhantes às de morcegos e cabeças de serpentes, dispostos um oposto ao outro e suas asas firmam uma das âmbulas da ampulheta e na parte inferior dois seres semelhantes a peixes com cabeças de serpentes e suas caldas voltadas para trás, firmando a outra âmbula. Ambas as extremidades são planas em formato de pentagramas e suas bordas contem descrições de uma língua aparentemente muito antiga.

Me casei recentemente com uma jovem senhorita chamada Lilian Teresa que eu a chamo de Lílite e ela me chama de Adamur, devido ao fato de meu nome ser Adão Monteiro. Hoje, estamos de mudança para uma casa que compramos a poucas semanas e minha esposa não está permitindo que eu leve essa estranha ampulheta a qual meu pai me fez jurar que eu jamais desfizesse dela. De alguma forma, tenho que convencê-la a me deixar ficar com este objeto.

- “Querido, não quero aquela coisa horrorosa na nossa casa”. Solicitou Lílite expressando autoridade.

- “Lílite, aquela ampulheta pertence ao meu pai e ele quer que eu seja o protetor dela”. Expressei-me com bastante ênfase.

- “Aquela coisa não vale nada, é uma peça de museu e só serve para meter medo nas visitas, quando na nossa casa vierem”. Expressou minha esposa furiosa.

- “Minha querida, eu prometi a meu pai que não se desfaria dele. Bom, até quando ele não se lembrar mais do objeto”. Retruquei falando baixinho.

- “Eu aceitarei numa condição de você, querido, o manter guardado no depósito das ferramentas”. Falou minha esposa com autoridade,

Assim, se passaram cinco longos anos, meu pai faleceu por complicações pulmonares e minha mãe veio morar conosco. Nessa nova situação, resolvemos fazer uma reforma de ampliação da área de serviço na parte de trás de nossa casa e tivemos que derrubar o deposito de ferramentas e nos desfazer de alguns objetos inúteis e por pressão da minha esposa também da estranha ampulheta que a mantemos guardada por todo esse tempo.

- “Querida, levarei a loja de antiquados na esperança de conseguir uns trezentos reais pela ampulheta”. Afirmei sorridentemente.

- “Faça isso, querido, pois com esse dinheiro compre um quadro interessante”. Solicitou Lílite expressando alegria.

Peguei o estranho objeto e levei para o porta-malas do carro, o deixando lá, acabei esquecendo durante todo o dia de trabalho e ao voltar para a casa a tarde, me lembrei tão subitamente que senti um terrível impacto. Imediatamente me dirigi à rua da loja de antiquados.

E ao chegar lá, vi que era uma rua de final de cruzamento que formava um T com a dita loja que situa- se bem na interseção entre as duas ruas secundárias e a avenida que se estende de fronte a loja. Parei de frente da mesma e desci do carro, coloquei a ampulheta em cima do capô para fechar a porta, nesse exato instante, fiquei completamente deslumbrado pela contemplação de um magnífico poente de um imenso Sol que meus olhos podiam vê-lo em sua totalidade radiante e dourado que preenchia a grande avenida com raios alaranjados. De repente, surgiu um feixe de luz polarizado da ampulheta que refletia do Sol diretamente na porta de vidro da fachada da loja. Fiquei atônito, admirando aquele feixe de luz alaranjado, bem diante dos meus olhos. Vi que nesse momento, que não se tratava de uma ampulheta qualquer, a peguei e vi correndo para casa.

- “Querida, venha ver o que descobri”. Falei meio eufórico.

- “Não me mostre esta velha ampulheta novamente, tenho pavor dela”. Falou minha esposa com bastante autoridade.

- “Tenho algo para te mostrar que vai te deixar surpresa”. Falei entusiasmado.

Nesse momento, retiro o quebra luz cônico do abajur e ergo a ampulheta contra a luz, observo a âmbula que está firmada por seres alados apresenta alguma espécie de ranhuras muito finas que converge para um ponto na sua lateral. Imaginei eu que seja como fibras óticas que converge a luz para um ponto, daí o motivo da luz do Sol ter sido polarizada quando os raios passaram através da ampulheta. Apaguei a luz da sala e coloquei a ampulheta na frente da luz do abajur e o resultado foi incrível!

- “Nossa, Santo Deus”! Exclamou Lílite colocando a mão na boca.

- “Veja mor, isso é luz polarizada e está vindo da ampulheta. Não é incrível”! Exclamei completamente eufórico.

- “Como isso pode acontecer? Que coisa estranha é essa, Adamur? Perguntou a minha esposa confusa.

- “Não sei, querida. Simplesmente aconteceu quando a coloquei diante dos raios do Sol se pondo”. Respondi abrindo os braços expressando dúvida.

Comecei a analisar a ampulheta detalhadamente, tomei nota de cada descrição, fotografei cada detalhe e resolvi polir a estrutura de alumínio e descobri que havia uma descrições celeste sobre uma pirâmide e uma constelação que se assemelhava a de Orion em cima da pirâmide e também, percebi que formavam um alinhamento descendente a partir do zênite, onde se encontrava o Sol e a Lua e, mais abaixo ao lado, a constelação de Orion seguida de pontos de mesmos tamanhos mais à esquerda e mais abaixo.

Fiquei completamente intrigado e resolvi contar para minha esposa que a ampulheta representa.

- “Venha ver Lílite, as descrições na ampulheta, demostra que isto não apenas um relógio antigo de tempo, é uma peça astronômica que talvez sirva para calcular o período de algum evento astronômico, creio eu que seja a de um eclipse”. Me expressei bastante pensativo.

-“ Adamur, por que você não envia essas fotos para o seu amigo, Marcelo que estudou física com você e hoje estuda astrofísica nos Estados Unidos?”. Perguntou Lílite interressada.

- “Boa ideia, querida. Marcelo Gleiser é astrofísico e astrônomo, ele vai saber o que significa aquele desenho. Retruquei com ênfase.

Mais de uma semana depois, recebi o e-mail do grande amigo e colega de universidade, Marcelo Gleiser e dizia o seguinte.

“Saudações querido amigo, Adão Monteiro. Espero que esteja bem e estou vendo que voltasse a ter interesse por atronômia. Fizemos uma análise da sua imagem no simulador de eventos astronômicos que conta com processamento de dados de um supercomputador e concluímos que se trata de um evento astronômico não casual e que o acontecimento anterior foi em 1405 depois de Cristo e o próximo será em 21 de dezembro de 2012 que será daqui a quatorze meses”.

Espero ter ajudado.

Abraço

M. G.

Outubro de 2011

Faculdade de Dartmouth

- “Veja Lílite! Isso não é interessante? A descrição na ampulheta mostra um evento astronômico”. Expliquei com admiração.

- “Querido, essa ampulheta tem algo muito estranho, ela me dá calafrios, quando olho para ela. Se desfaça dela por favor! Pediu Lílite com ar de preocupada.

- “Meu Deus, Lílite! Este objeto está ligado a algo extraordinário. Imagine a descoberta que podemos fazer”. Retruquei segurando as mãos da minha esposa.

- “Por favor, Lílite, permita-me saber mais um pouco sobre esta ampulheta, se caso, não descobrir mais nada me desfaço dela.” Expressei-me com bastante convicção.

- “Está bem Adamur. Então, diga-me, o que mais tem nela que possamos descobrir? Perguntou Lílite observando a ampulheta.

- “Há uns símbolos nas laterais das extremidades que me parece ser muito antigo.” Respondi.

- “Esses símbolos são possíveis de serem traduzidos, Adamur”? Perguntou minha esposa entusiasmada.

- “Creio que sim, querida. Só precisamos identificar a origem dessa simbologia”. Respondi com ar de esperança.

Peguei a ampulheta, fui analisar com uma lupa e descobri detalhes da pirâmide que até então não o tinha percebido de que a mesma era disposta com cinco plataformas de base retangular com a superior menor que a inferior, dando a aparência de camadas e uma escadaria que conduz ao topo. Pesquisei no google e descobri uma pirâmide com as mesmas características chamada de pirâmide do Sol no México.

De posse desses dados, vou conversar com minha esposa e conta-lhe o que estava acontecendo:

- “Querida, tenho algo surpreendente para te falar sobre a ampulheta de cristal”. Exclamei em tom enfático.

- “O que é dessa vez, não vá me dizer que há um mapa do tesouro nesse objeto repugnante”. Retrocou a minha esposa.

- “Não é exatamente um tesouro, mas uma descoberta de conhecimento milenar de um povo muito antigo que desapareceu sem deixar vestígio”. Repliquei em tom eloquente.

- “Nossa! Então, vamos descobrir se realmente for algo que vai mudar o mundo”. Concordou Lílite.

Assim, começamos os preparativos para no próximo dezembro...

ALGUNS MESES DEPOIS.

E já é dezembro, estamos na cidade de Teotihuacan no México.

Chegamos no dia 02 de dezembro e podemos confirmar o fenômeno de solstício de verão que é quando o sol se põe exatamente na frente da pirâmide do Sol. E também, para conhecermos o local e subimos até a pirâmide mais alta e contemplamos todas as outras pirâmides e virmos que há uma abertura na parte da frente da pirâmide que dá para o pôr do sol e uma outra abertura atrás que aponta exatamente para uma abertura na pirâmide da Lua. Isso é completamente intrigante.

À noite, sentimos o calor do verão sendo refrescado pela brisa suave vindo das montanhas e com o céu lindamente estrelado foi um convite para saírmos e conhecer a cidade que circunda a área das pirâmides.

- “Querida, vamos sair e dá uma volta pela cidade”. Solicitei animado.

- “Ótima ideia, querido. Assim conhecerei um pouco da culinária local”. Retrucou Lílite sorridente.

Fomos andar pela cidade e encontramos um restaurante bem espaçoso e aconchegante de fronte a uma grande praça com muitas plantas e árvores ornamentadas, onde há muitas pessoas transitando, conversando e, vimos também, os carros passando constantemente, percebemos que é uma cidade muito movimentada por ser de interior.

Nesse exato momento, sentamos à mesa e pedimos um saboroso jantar da culinária local, enquanto estávamos conversamos, sentou um senhor próximo a nós e fez o seu pedido.

- “Querido, ainda não entendi, o porquê da abertura da pirâmide do sol apontar para uma abertura na pirâmide da Lua. Perguntou minha esposa intrigada.

- “Não sei ao certo, querida. Deve ser por motivos religiosos para alguma cerimonia”. Respondi expressando dúvida.

- “Não exatamente”. Respondeu o senhor ao lado.

- “Permita-me se apresentar. Sou Dr. Arqueólogo David Childrens e pesquiso pirâmides a mais de 30 anos.

- “Estou aqui para um evento relacionado a astronomia que tem forte ligação com a pirâmide do Sol e vai acontecer no próximo dia 21”. Falou o arqueólogo calmamente.

Nesse exato instante, eu e minha esposa ficamos atônito, olhando um para o outro.

- “Diga-nos Dr. Childrens, esse evento está ligado a alguma profecia do fim do mundo? Perguntei expressando curiosidade.

- “Certamente que sim, para ser mais preciso a profecia Maia do fim do mundo que na verdade é uma profecia que foi daqui de Teotihuacan que surgiu e está ligada a um passado extremamente remoto”. Explicou o antropólogo.

-“ Dr. temos que lhe contar. Estamos aqui por causa de um objeto que esteve de posse de meu pai e foi o meu bisavô que o encontrou navegando pelas ilhas do Atlântico. A ampulheta de cristal”. Falei em voz baixa cautelosamente.

- “Então, a chave que estamos procuramos: É uma ampulheta!”. Exclamou o Dr Childrens, atônito.

- “ A ampulheta é uma invenção atribuída ao seculo XIV, mas os arqueologos que estudam a chamada arqueologia proíbida sabem que há vestígios desses objetos que remetem há milhares de anos”. Explicou o Dr. eloquentemente.

-“ Preciso ver esse objeto imediatamente”. Solicitou o Dr Childrens, eufórico.

-“No momento, ele está sob nossa posse e se encontra no nosso quarto de Hotel”. Falei para o Dr. Childrens.

Após o jantar, nos dirigirmos ao hotel e chegando lá, fomos diretamente para o quarto.

-“ Magnífico! Este objeto é feito em peça única, não há roscas, parafusos e o conteúdo escoante parece ser feito de partículas de cristais que refletem a luz intensamente. tudo se encaixa perfeitamente, mas o mais interessante é que sua cultura não pertence a dos Teotihuacanos. Agora tudo faz sentido, antes de desaparecer os Teotihuacanos tiveram contato com uma outra cultura e não sabemos, porque não restaram vestígios. Explicou o Dr Childrens, eufórico.

-“Estou vendo uma descrição que me parece uma variação da antiga língua dos Sumérios e que, mais ou menos, posso interpretar como sendo: - Esta é chave para os que aqui ficaram, irem... – o restante está um pouco danificado, não posso lê-lo”. Exclamou o Dr. em tom de preocupado.

-“Então, já estou entendendo, este artefato faz a intermediação entre a abertura principal da pirâmide do Sol e a abertura da pirâmide da Lua e a luz vai refletir pela ampulheta exatamente no ponto central da pirâmide do Sol, assim como diz a lenda Teotihuacana de que a pirâmide da Lua capta energia da pirâmide do sol. Exclamou o Dr. com admiração.

No dia 21 de dezembro, exatamente ao media, chegamos, eu e a minha esposa para ver o eclipse do Sol alinhado com a Lua e o centro da galáxia. Os astronômicos estão registrando um forte campo gravitacional na área das Pirâmides e ao poente a constelação de Orion estará sobre a Pirâmide.

Agora, o Sol está para se por, nos encontramos no lugar marcado pelo o Dr. Childrens, onde o Dr. já estava nos aguardando, segurando a bolsa com o artefato, se aproximou e disse:

-“Sr. e Sra. Monteiro, devemos ser discreto para não chamar atenção e vocês terão que fazer o que eu disser. O Sr. Adão vai usar a crendencial de físico já que é essa a sua formação e a Sra. Monteiro vai usar essa credencial que é de apoio e logística e, por enquanto, ficaremos na parte central da pirâmide. Explicou o Dr. calmamente.

E, exatamente nesse momento que o Sol estava preste a se por, os seus raios se alinharam com a abertura frontal da pirâmide do Sol e o Dr. colocou a ampulheta exatamente no bloco de pedra cilíndrica com o topo rebaixo que via-se que era de outra pedra diferente da do cilindro e de cor negra e no centro estava em baixo relevo a mesma formação de uma das extremidades da ampulheta e quando a encaixou viu que o ponto de convergências dos raios solares estava a 90º da abertura principal. Então, ele girou 90º anti-horário e nesse momento a âmbula superior se iluminou completamente de luz e saiu um raio polarizado de cor alaranjada em direção a abertura que dava para pirâmide da Lua.

Corremos para lá, vimos que o raio apontava para uma pequena abertura, onde se encontrava mais dois cientistas que lá estavam...

-“Veja a luz indica, onde está a passagem que procuramos”. Exclamou um dos cientistas.

-“ Achávamos que essa era apenas uma parede, porque o raio x não mostrou nada”. Retrucou o outro cientistas.

-“Vamos, ajudem nos a tirar essas pedras!”. Gritou o Dr. Childrens.

De repente, surgiu diante de nossos olhos um imensa abertura que dava para um amparo côncavo de cristal e no centro havia um cristal do mesmo formato da extremidade da ampulheta e o raio polarizado atingiu bem no centro, tudo se iluminou diante dos nossos olhos e abriu-se um portal, onde se via um mundo de uma beleza encantadora com céu muito azul e dois Sois de cor dourada, vastos campos verdes e ao longe podiam se vê uma cidade formada por imensas pirâmides que pareciam tocar as nuvens e de repente, as pessoas que lá estavam começaram a passar para o nosso lado e nos falaram na língua Teotihuacana:

-"Eu sou Rucân, filho da Terra dos dois Sois. Exclamou um dos transpassantes.

-"Povo da Terra de um Sol, vinhemos em paz!" Saudou Rucân.

-"Estamos em paz". Exclamou o Dr.

-" Somos da Terra dos dois Sois e aguardávamos pela passagem a muito tempo". Afirmou Rucân.

-" Diga-nos, foram vocês que construíram a passagem". Perguntou o Dr. admirado.

-"Sim, mas fomos instruídos pelo o povo das estrelas". Respondeu Rucân.

-" Quem eram o povo das estrelas, pode nos dizer como eles eram". perguntou o Dr. Childrens.

-"Sim, seus corpos emanavam luz e sua vozes ecoavam dentro da nossas cabeças. Eles nos trouxeram sabedoria para compreender a natureza e o cosmos". Respondeu Rucân.

-" O povo das estrelas nos mostrou o caminho através da passagem para o mundo dos dois Sois que nos dá energia que alimenta nossa força vital e nos prolonga a vida. Explicou Rucân calmamente.

-" Onde está o povo das estrela, Rucân. Pode nos dizer?" Perguntou o Dr. Children com ar curioso.

-" Não sabemos, acreditamos que o povo das estrelas estão muito além das passagens dos mundos, estão muitos além das estrelas". Respondeu Rucân olhando para o portal.

-" Vocês não têm muito tempo, seu povo precisa se unir e se preparar para o acontecimento que está por vir. Com guerras entre os clãs do seu povo, não irão sobreviver". Falou Rucân com ar de preocupado.

Nesse instante, o Sol se pôs e o portal começou a se fechar, deixando para trás três nativos do mundo dos dois Sois. Assim o nosso planeta percebeu que houve o mais extraordinário contato que mudou a história, mudou a humanidade e foi o fim do mundo que conhecemos para começar numa nova era...