O SEGREDO DE UM BEBADO
Em 1955, o mundo ainda estava desprovido de internet, celulares, nas cidades do interior do Rio Grande do Sul era comum ouvir as novelas no rádio, e aqueles que não gostavam de novelas, iam para os bares tomar cachaça – uma pratica mais comum entre os homens eram solicitadas doses em pequenos cálices  e também os chamados lisos que eram em copos maiores.
                Nesses recintos as pessoas além de tomar cachaça até ficarem embriagadas desenvolviam amizades com outros que compartilhavam o mesmo vício - contavam as suas aventuras e desventuras, e quando saiam às vezes nem o nome do amigo de momentos,  lembravam, falavam de suas famílias apesar de mutuamente não conhece-las, sabiam das histórias contadas e alguns conheciam de uma forma imaginária a família do outro, e até sentiam quando a história envolvia desavenças familiares.
 Houve um caso intrigante, quando um desses bêbados após ingerir uma quantidade além do seu limite contou para o seu companheiro a sua história de família: > primeiro falou do seu endereço - mas queria revelar em segredo um fato que o estava atormentando... possuía uma doença terminal e seria uma das causas de se entregar a bebida... não tinha medo da morte apesar dos médicos falarem que seria uma questão de dias. Sua preocupação era proteger a sua esposa, as duas filhas adolescentes e um menino com cinco anos quando ele morresse – ele dizia ter um grande amor pela família e fazia de tudo para que a felicidade sempre estivesse presente, e com a doença ele ficou abalado mentalmente e com isso iniciou um plano, para que a sua família que ele tanto amava o achassem um pouco cruel... e a sua família não sofreria tanto com a sua perda... além do vício, começou, no seu plano tratar a família com desprezo,  achando que com isso após a sua finitude eles ficariam mais aliviados com a perda. Esse era seu plano secreto.

                O companheiro de trago ficou muito preocupado com a situação do seu amigo doente e mais preocupado porque fazia dois dias que o amigo não aparecia na bodega – e foi pela primeira vez à casa do seu amigo para saber das notícias – ao chegar no endereço, notou que a casa era bem pequena e simples... seria essa mesma? Bateu na porta da frente, ninguém respondeu... resolveu ir para os fundos onde tinha outra porta, bateu, também ninguém atendeu... chegou a conclusão que não havia ninguém em casa.... Tinha um vizinho do lado – e lhe perguntou: > é aqui que mora o fulano? (os nomes foram omitidos). Sim! Eu também não o vi sair! Vamos forçar a porta e ver se ele está?  Vamos! E os dois não fizeram muita força para abrir a porta e notaram que o colega de bar estava realmente dentro da casa, mas morto... pela doença que ele tinha... Mas... perguntou onde está a sua família? A sua esposa, as duas filhas adolescentes e o menino de cinco anos? Que ele me contou.  O vizinho respondeu: >  Ele nunca teve família mora há muito tempo nesse casebre e sempre foi solteiro. A doença era a grande verdade, que misturado ao vício lhe alterou a forma de pensar e ver o mundo como ele queria e não como era.     
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 16/08/2018
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