A MISTERIOSA VILA 11 - O ROSTO DO TERROR

Ficamos mais dias no porto do que a data planejada da saída. Queria ter certeza que estaríamos seguros, pois nosso destino estava muito além do horizonte. Nesse tempo, Isabelle me confidenciou os acontecimentos sombrios e aterradores ocorridos na Vila, provocados pelo maligno capitão.

Iremos para Kikivo muito distante de Baltimore. Lá, encontraremos um lar de verdade, e viveremos o resto das nossas vidas, nada neste mundo tem poder separar almas gêmeas. O inverno se aproxima rapidamente, não quero ficar preso no gelo do mar do Norte, portanto partimos numa manhã ensolarada, e após dias de navegação atracamos no pequenino porto da linda Kikivo.

Ávidos por encontrar amigos, desembarcamos e fomos visitar a casa de Arthur e Ariel. A recepção calorosa e feliz nos renovou o espirito e acalmou nossos sobressaltados corações. A noite maravilhosa, nos proporcionou conversas e lembranças. Isabelle, a moça dos olhos verdes foi apresentada a todos, e logo as esposas se reuniram em prosa e risos. Bebemos descontraidamente vinho e matamos a saudade.

Com as economias que havia guardado, comprei um lindo chalezinho com a fachada feita de pedras coloridas e uma chaminé maravilhosa, ficava no final da rua, já bem próximo a ravina.

A moça dos olhos verdes, lhe deu seu maravilhoso e inconfundível toque. Jardineiras pendiam grandes cachos de rosas colorindo ainda mais as janelas. A pequena, mas aconchegante lareira no canto da sala estalava a madeira enquanto queimava e jogando para cima fagulhas reluzentes, aquecendo nossos corações e dando um tom romântico as nossas vidas.

Após alguns dias, o inverno chegou, e vestiu de branco o cume das montanhas, as ruas da pequena vila, e as chaminés teimavam em derreter o gelo em suas bordas, enormes colunas de fumaça eram lançadas em direção ao infinito. Eu e minha Isabelle, vivíamos a plena felicidade. Continuei pescando, juntos, eu Arthur e Ariel, abastecíamos a pequena Kikivo com salmão e bacalhau.

Com os fiordes congelados, os peixes migram para mar aberto. Então, é preciso ir até eles. Apesar de ser ermo e distante, próximo a Kalle existem vários naufrágios, tornando um ótimo lugar para pescaria. Com a perspectiva de demorar alguns dias a mais, Isabelle não se incomodou de esperar uma vez que as suas amigas da vila preencheria o vaziu da minha breve ausência. Com a neve caindo intensamente, esperei uma pequena pausa, e então parti, eu, Ariel e Arthur.

Embora estivesse muito frio, a navegação fora tranquila, mesmo tendo que desviar dos grandes icebergs que flutuavam como fantasmas em nossa direção. Já quando nos aproximávamos das ilhas de Faroé, subitamente algo inesperado aconteceu.

Tomado por repentina escuridão eclíptica e rajadas de vento, o inferno chegou trazendo desgraça. A criatura em forma de cão voltou, surgiu em minha frente no convés do Gaivota, como magia negra, seus vampirescos caninos proeminentes e seus olhos opacos, me fitaram profundamente.

Com voz grave vociferou:

- Tenho reparado em você durante todo esse tempo.

- Chegou a hora, já levei o que me pertence, como prometi.

- Quanto a você... não o matarei agora, quero que sofra a dor da perda.

Neste momento tive certeza que era o maligno Capitão. Não hesitei, atirei uma, duas, três, quatro vezes e o alvejei a queima roupa, mas, ele não se abalou. Suas grotescas mãos se ergueram e me atingiram, suas unhas descomunais laceraram meu rosto ao mesmo tempo em que me ergueu pelo pescoço, e me atirou no posseto, (local onde se guarda o pescado). Ensanguentado e impotente, senti um peso enorme nos ombros, e um aperto mortal no peito. O tempo parou, escuridão foi empalidecendo e dando lugar a neblina fosca e mal cheirosa. Quando finalmente pude me mexer, pude imaginar o que haveria ocorrido, retornei imediatamente a nossa casa, meus temores se confirmaram, o chalé estava vazio, minha Isabelle havia desaparecido.

Novamente o pavor se esgueirou no vazio do meu peito e envolveu minha alma.

O desespero se transformou em ira mortal e se instalou em meu coração. Me transformarei na pior espécie alimária para tê-la de volta, descobrirei e resgatarei minha Isabelle onde quer ela esteja, nem que para isso, tenha que matar legiões, ou morrer solitário. Fui tomado de um sentimento imponderável. Havia perdido o que busquei em toda minha vida, não poderia sobreviver a essa tragédia.