A GAROTA E O MAR

A doce Ana Maria, conhecida por todos como Aninha, desperta ao som da chuva caindo no telhado e o forte aroma de terra molhada, ela respira bem fundo e vai se preparar para tomar o seu desjejum matinal, pois já estava atrasada para o seu último dia de aula. A garota, aos seus dez anos de idade vivia sonhando acordada, suspirando pelos quatro cantos da casa, como admiradora do mar, ela já pensava na possibilidade de retornar, em férias, ao aconchego da casa dos seus avós, Sara e Pedro... Aninha sai correndo pelo corredor e pensando nas férias de junho, que já será no outro dia: “Meu Deus, a partir de amanhã estarei em férias! Eu queria tanto passar meus momentos de lazer na casa da vovó Sara, quero poder molhar os meus pés à beira-mar, banhar-me nas águas cristalinas daquele oceano, contemplar o verde da natureza e correr na areia molhada da praia de Nossa Senhora dos Milagres”.

- Bom dia, mamãe! Eu já estou atrasada para o meu último dia de aula deste semestre. Disse-lhe Aninha bem sorridente.

- Bom dia, querida! Isso para mim filha já não é mais novidade, tome logo sua vitamina e corra para não perder a condução da escola. Disse-lhe sua mãe.

- Mamãe, posso passar as férias de junho com vovó Sara e vovô Pedro? Pois ando com imensa saudade deles, como também do mar. A menina fala e sai correndo, nem espera a resposta da mãe.

Os avós de Aninha moram no litoral em uma praia deserta, mas bem acolhedora e tranquila, eles já são aposentados e foram morar na antiga casa de praia da família, eles foram aproveitar a serenidade do mar... O dia passou rápido, logo mais à noitinha a mãe de Aninha comunica a ela que seu pai a levará para casa dos avós no outro dia bem cedinho.

Exatamente às 10h00 horas da manhã, Aninha e seu pai chegam à casa de praia, seus avós os recebem com muita alegria, a garota observa os mínimos detalhes da casa, seus olhos viajam por todos os cômodos, não deixa nada sem ser visto: Um jarro com flores silvestres em cima da mesa da sala, a transparência das vidraças, os diferentes tipos de frutas na mesinha da cozinha, as cortinas de renda em tecido transparente, fino e delicado, o porta-retratos com a foto dela e seus pais e o delicioso bolo de chocolate, etc. A garota pede licença aos avós, se despede do pai, que logo retornará para cidade e vai descansar um pouco.

Depois de um breve cochilo, Aninha arruma suas vestimentas na cômoda do quarto, veste uma roupa bem confortável e sai para passear um pouco, ela quer desfrutar cada minuto naquele lugar. A menina está radiante de felicidade, ela tira as sandálias e vai caminhando, deixando marcas na areia macia da praia. De repente, ela sente um vento frio, quase congelante, a temperatura cai bruscamente e um frêmito percorre todo seu corpo, ela institivamente olha para trás e percebe duas pegadas a mais, além das dela, que seguem em sua mesma direção, Ela sente medo e emoção ao mesmo tempo. Logo, escuta uma voz bem suave, olha de novo para frente e vê um garoto falando com ela.

- Olá, eu estou te acompanhando! O meu nome é Davi e o seu?

- Olá, que susto! Pensei que estava caminhando sozinha, até o momento que observei suas pegadas. O meu nome é Aninha e estou passando uma temporada na casa dos meus avós aqui perto. Responde-lhe a menina um pouco mais aliviada.

A palidez do garoto é notória, seu semblante é sisudo e vestia-se todo de branco. Aninha acha tudo aquilo muito estranho, mas fica atenta escutando o garoto falar:

- Aninha, você é muito bonita, chega ser apaixonante! Vamos apanhar as conchinhas que ficam à beira-mar? Ele fala e vai logo segurando uma das mãos da garota.

- Vamos sim, Davi! Mas, diga-me uma coisa: Você mora por aqui? Pois acho esta praia tão desabitada. Pergunta-lhe Aninha.

- Eu moro naquela estrutura elevada, em um farol! Responde-lhe e aponta para uma faixa de terra, com uma torre, que adentra no mar.

Os dois de mãos dadas vão apanhando as conchinhas multicoloridas que ficam pelos caminhos. Eles correm felizes, brincam de jogar água um no outro, se deitam na areia, fazem castelinhos, brincam de esconde-esconde, entre outras tantas brincadeiras. Já é quase noitinha quando o garoto diz que precisa ir embora.

- Aninha, eu preciso ir embora, já cumpri minha missão aqui, fiquei muito tempo neste local, esperando estes momentos de brincadeiras, eu queria voltar a sorrir, agora se faz necessário seguir outros caminhos. Fique em Paz!

- O garoto delicadamente beija o rosto de Aninha, abre um grande sorriso, que ela retribui com um longo abraço e muito comovida ela fala:

- Até amanhã Davi! Eu quero muito voltar a vê-lo.

- Aninha, você me deixou muito feliz! Até um dia! No momento certo iremos nos encontrar de novo. Bem comovido, reponde-lhe o garoto.

A garota volta para casa da avó, que já a esperava, pois estava muito preocupada pela demora dela. Aninha entra em casa correndo e gritando:

- Vovó, eu encontrei um garoto na praia!

- Calma, não pode ser querida! Aqui pelos arredores não tem nenhuma casa. Disse-lhe sua avó.

- Mas vovó, foi tão leal! Ele segurou minha mão, brincamos juntos, apanhamos conchinhas à beira-mar, beijou meu rosto. Sabe vovó, ele disse que morava no farol. Aninha disse-lhe quase chorando.

- Querida netinha, não fique triste! Acredito que você tenha sonhado com esse garoto, ficou envolvida pelo mar, que você tanto ama, o sabor do mar faz a gente sonhar acordada. Não fique assim, que amanhã eu e seu avô a levaremos para conhecer o farol e lá te contarei uma história triste e muito emocionante, que marcou a minha vida completamente, agora vá descansar um pouco, que a chamarei na hora do jantar...

Logo cedinho, eles partiram em direção ao farol, serão momentos emocionantes, pois há muito tempo que dona Sara não aparece por lá. O local está totalmente abandonado, a escada de ferro, que é o único acesso ao topo do farol, se encontra comprometida pela ação do tempo e pela maresia. Seu avô vai logo falando:

- Muita atenção, por favor! O perigo de desmoronamento é grande.

- Pode deixar vovô, nós teremos muito cuidado! Disse-lhe Aninha com um ar de ansiedade.

Dona Sara vai narrando uma história muito triste, que aconteceu há muito tempo atrás, quando ela tinha dez anos de idade; naquela época os seus melhores amigos eram os irmãos, Ana Rosa e Davi, eles vieram passar um final de semana com ela na casa de praia e um trágico acidente aconteceu. Dona Sara continua narrado, enquanto as lágrimas escorrem pelo seu rosto, ela conta que sua amiga, Ana Rosa, acidentalmente caiu no mar e que Davi pulou para salvá-la, mas eles desapareceram, seus corpos nunca foram encontrados. O local foi interditado e nunca mais ela voltou ali, até o presente momento. Aninha soluçava de tanto chorar, ela não queria acreditar em nada daquilo. Muito triste, ela pede aos avós para voltar para casa de praia. Eles já iam saindo, quando algo chama atenção de Aninha, na parede suja de lodo tem escrito uma mensagem: “Aninha, agora sou feliz! Voltarei sempre para brincar contigo, Davi”. A garota fica sorrindo, olha fixamente para sua avó e diz:

- Vovó querida, eu tenho certeza que tudo não passou de um sonho! O mar é a minha alegria!

Os tempos passaram, mas sempre que possível Aninha retornava ao aconchego da casa dos seus avós.

Sonho ou realidade?! São vidas que se entrelaçam no tempo.

Elisabete leite – 05/09/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 10/09/2018
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