Iludido por uma estrela

Em uma certa noite de luar, sentei em uma cadeira na varanda da minha casa, pousei a refletir sobre as minhas decepções amorosas e os meus desafetos. A brisa era suave e me acariciava mansamente. O silêncio da noite, o momento de exclusão, estavam conformes ao meu estado de meditação. Coloquei meu pescoço sobre o aresta da cadeira e dardejei o meu olhar para a imensidão celeste. Eu descavava lentamente, ao passo das reflexões, as minhas suposições sobre a crueldade do destino. Era um momento de dúvidas e inquirições infindáveis que me causava um desânimo profundo e, irresolvivelmente, me deixava vazio e abjeto às incomensuráveis suposições e conjecturas, sob a ótica de um limitado ser humano que navega no mar da vida temendo as ondas da morte. As dúvidas era uma espécie de doença incurável, que abrandava e reaparecia, intensa às vezes, às vezes fraca, mas sempre insolúvel.

Naquele momento, fiquei átono diante da ausência de respostas e, assim, preferi aceitar a minha limitação cósmica. Por mais que eu fosse um grão de areia na imensidão do infinito, me senti um grão que vibrava inconformado com o fluxo irrevogável do destino. Era mais sadio e viável aceitar o silêncio como resposta e deixar que o influxo à morte me conduzisse ou à plena consciência, ou à inconsciência eterna.

Após alguns minutos perscrutando o além, um brilho singular que resplandecia no horizonte celeste me assaltava inexplicavelmente revogando as minhas reflexões. Era uma bela e encantadora estrela, que lá estava amainando a minha solidão momentânea. Achei impressionante a magnificência do seu brilho —era surreal a forma como despendia seus traços luminosos. Fiquei tão fascinado com a sua unicidade que resolvi chamá-la de Bella.

Durante vários dias, passava horas apreciando a singularidade de sua performance. Nos dias chuvosos e nublados eu ficava chateado por não desfrutar da celsa visibilidade. Eram momentos de reflexão ascendente, que singelamente me levavam a um sentimento de ternura celeste, de abraço cósmico, e sobretudo, de compreensão da incompreensão do infinito.

Bella era tão cordial e acariciadora, que eu via nela um verdadeiro amor, e por mais que intangível fosse, era-o correspondido por sua presença. Foram momentos inexplicáveis e deveras prazeroso. Toda noite, sentia-me abraçado com sua presença. Seu brilho era tão consistente que o luar perdia a sua excentricidade. Sem dúvidas, encontrei o amor, cuja essência é pura e cuja presença é única. Entre nós não havia dúvidas e sim, uma única e regojiza certeza, eu nunca iria sentir abandonado ou desprezado novamente, pois eu encontrara o Amor da minha Vida. Por mais longe que estivesse, a nossa ligação era decerto íntima, e daquele dia em diante, luz de Bella iria iluminar as minhas noites vazias e lúgubres.

Ledo engano! Essa foi a minha conclusão após passar inúmeras noites lamentando o sumiço de Bella. Ela sumiu do mesmo jeito que apareceu em minha vida: inusitadamente. Descobri que não era uma estrela comum (fixa no céu), era uma estrela cadente. Sua cadência fora lenta e ao mesmo tempo rápida, no entanto, a sua presença será eterna na minha memória. Talvez ela tenha me desamado, ou quem sabe enjoado de mim e foi procurar outro para admirá-la. Talvez ela nunca tinha sido minha, e o ego fora o único que me forçou a acreditar na correspondência amorosa. Eu, mais uma vez me senti iludido, e desta vez, iludido por uma estrela.

José Rony de Andrade Alves
Enviado por José Rony de Andrade Alves em 31/03/2019
Código do texto: T6612209
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