A trajetória de uma Suicida

1 – Dia de Morrer.

“A depressão certamente é o mal do século! Uma terrível doença capaz de matar com facilidade. Ela nunca imaginou que seria derrotado por uma mal tão comum entre os homens. Não podia mais suportar essa dor que vem lhe corroendo por tantos anos. Só queria que parasse. Talvez alguém sentisse um pouco sua ausência, mas ela mesma não podia afirmar com certeza. Nem sabia se o bem que fez até hoje superaria todo mal que havia causado a tantas pessoas.”

“Sentia dores fortíssimas projetadas em seu corpo por sua mente, que a rasgavam de dentro para fora. A respiração lhe falhava durante a noite e mal conseguia pregar os olhos. Seus demônios lhe eram inseparáveis e indesejáveis companhias. Seus raros momentos de paz eram quando estava defendendo algum réu que na maioria das vezes tinha certeza que era realmente culpado.”

“Assim termina uma vida! Pelo menos chamarei atenção em minha partida”. – Imaginou Jessy.

Se aproximou da lateral do prédio, olhou para baixo e avistou vários jornalistas que aguardavam por sua coletiva bombástica.

“Terão uma surpresa maior que qualquer entrevista com a advogada de um assassino” – Sorriu Jessy mesmo querendo chorar.

Ela subiu no parapeito do edifício de 12 andares, se apoiou em uma antena de TV, se lembrou do seu pai e das vezes que lhe foi carinhoso, titubeou por alguns instantes. Depois lhe veio a mente as traições que sofreu. Sentiu seu coração latejar, não bater... Ela estava certa de seus propósitos. Não queria mais viver. Uma lágrima correu por seu rosto e uma amargura, a mesma que lhe fez tomar a decisão.

“Eu e minha mania de pontualidade! — sorriu Jessy novamente — Ainda faltam 3 minutos para as 18 horas. O horário de minha morte. Decido aguardar!

O sol já havia se posto, o entardecer era sempre muito triste para ela. Cada segundo era uma eternidade! Só faltavam 3 malditos minutos e aquela dor se acabaria”

Ela Pensou ter visto uma sombra se movendo rapidamente por alguma penumbra. Uma forma humana seguido de uma sensação estranha.

“Mais uma vez a droga da minha mente me prega uma peça. Preciso partir logo antes que loucura me consuma por inteira.”

“18 horas”

Largou a antena delicadamente e decidiu se jogar para morte...

Suas últimas palavras:

“Adeus pai”

Fechou os olhos e inclinou seu corpo com braços abertos.

Foi estranho para Jessy, não sentiu seu corpo cair na velocidade de um raio, sua mente lhe disse que essa era a sensação normal de se jogar para a morte. Mas, estava enganada! Algo lhe segurava pelo braço esquerdo. Forçou um pouco, mas sentiu um forte solavanco lhe puxando de volta para a vida.

Uma alucinação derradeira? Era esse o grande segredo da a morte? Um homem forte, de expressões maquiavélicas e pouco amigáveis lhe seguravam ainda apertando cada vez mais meu braço delicado. Ele era cabeludo e barbudo, tinha cheiro de álcool e estava mal vestido.

“Um ser humano largado pela vida que deveria estar fazendo o mesmo que eu, ao invés de me privar do meu momento mais esperado. Ou será que ele era um demônio? Talvez eu já tenha feito a travessia sem saber” — A mente de Jessy criava várias alternativas para aquele momento bizarro.

— Quem é você? Me larga! — ela gritou.

Não houve reação do homem, ela no entanto se tornou histérica até ser esbofeteada na face por aquele ogro de sobrancelhas grossas e mal feitas. Ele lhe atirou ao chão sem a menor delicadeza. Ela Imaginou que sem motivos, ele cometeria um feminicídio. Jessy queria morrer, mas não ser assassinada, seu orgulho não lhe permitia. A dor se acabaria do mesmo jeito, porém não da maneira desejada. Ele balançou a cabeça negativamente e simultaneamente lhe segurou novamente pelo braço sobre meus gritos após conseguir se recuperar da agressão anterior foi novamente esbofeteada, dessa vez ainda mais forte e quase desmaiou de dor.

Ele a odiava! Foi o que Jessy sentiu ao encarar aqueles imensos olhos castanhos. Não sabia os motivos, porém eram quase palpáveis... Aquele homem lhe odiava”

Enfiou uma das mãos no bolso, Jessy ainda atordoada podia jurar que ele tinha uma faca afiada e pontuda. Era seu fim ... Ele no entanto arrancou uma caneta do bolso, uma ridícula caneta hidrográfica stabilo de cor azul e ponta finíssima. O que viria a seguir, era ainda mais burlesco, simplesmente começou a escrever no braço de Jessy. Ela mal acreditava no que via. Após alguns instantes imaginava estar vendo “coisas”, talvez o produto final de sua vida.

Após concluir, ele a lançou no chão novamente, guardou a caneta, lhe encarou por alguns segundos e por uma última vez, percebeu um olhar triste, bem mais que o de Jessy prestes a dar cabo de sua vida. Por momentos ela podia jurar que aquele mesmo olhar se convertia em escuridão, ódio, dor além das que Jessy havia conhecido em toda sua vida. Se virou e partiu ainda sobre o olhar perplexo de Jessy, que permaneceu imóvel por alguns minutos.

Jessy tentou se levantar, cambaleou e caiu. Se concentrou e se recompôs, respirou fundo até sentir um certo dinamismo e vitalidade. Queria correr atrás daquele estranho, lhe agarrar e fazer ele morrer com ela. Também o odiou. Decidiu no entanto terminar o que havia começado. Olhou no relógio, e estava atrasada 22 minutos. Detestava se atrasar. Retornou para a posição anterior, iria se jogar. Mas... olhou para o braço antes. Talvez seu maior erro para quem já estivesse decidida.

Eram números! Uma sequência desordenada que não lhe diziam absolutamente nada. Queriam dizer alguma coisa? E quanto mais ela tentava decifrar, menos era sua vontade de morrer sem descobrir...

E aquele olhar? Como pode ser tão sofrido? Mais do que o de Jessy? Poderia haver sofrimento maior? O ódio palpável? Como pode alguém que nunca a viu, lhe odiar tanto?

Quem era ele? O que significavam aqueles números em seu braço? Descobrir antes de morrer, atualmente era seu único objetivo ....

Desceu, e foi conceder a entrevista aos jornalistas.

Em breve... A TRAJETÓRIA DE UMA SUICIDA