MISTÉRIO NO HOTEL CENTRAL

Alfredo acordou enauseado com o cheiro de cerveja choca que vinha do bar daquele hotel xexelento. Por um momento esqueceu o incidente da noite anterior, para poder respirar um pouco de ar puro e, foi abrir a única janela que o contemplava com o suave aroma da natureza, o cheiro tradicional de terra molhada. Era inverno e o cenário estava cinzento e a rua completamente encharcada; um caminhão passava naquele exato momento, e o barulho do motor, já gasto pela ação do tempo, abafou por completo os ruídos constantes da chuva, da água caindo do céu nublado; o vento soprava em várias direções e raios riscavam o horizonte de um canto a outro. Eram onze e meia da manhã...

- Meu Deus, que final de semana complicado! Disse baixinho o jovem bancário, procurando livra-se das recordações da noite fatídica.

Ele olhou para cama toda molhada pelo seu próprio suor noturno, pois o quarto era completamente abafado, sem falar do álcool que insistia em sair pelos seus poros. O silêncio foi quebrado pela voz estridente da arrumadeira dos quartos:

- Bom dia! O senhor não vai tomar o seu café?

- Não, obrigado! Estou com um pouco de dor de cabeça. Disse-lhe o rapaz.

- Ah, se eu fosse o senhor, aproveitaria o momento de calmaria dos hóspedes!

- Obrigado senhorita, mas prefiro permanecer por aqui mesmo!

Ela despediu-se e saiu sem nem olhar para trás.

O vento soprou forte e trouxe consigo lembranças, das cenas, dos dias anteriores... Alfredo sentou-se na cama e retrocedeu no tempo e assim, as recordações foram fluindo compassadamente. Na verdade, eram lembranças dos momentos que antecederam à morte misteriosa de seu amigo do Banco Leste, o mulherengo Miguel Muniz...

Alfredo foi retomando passo a passo e lembrou-se que tinha saído um pouco mais cedo do Banco Leste e foi se encontrar com Miguel no bar da esquina, para tomar uma gelada e desparecer um pouco; afinal, era sexta-feira início de um final de semana:

- Olá Miguel, você não foi trabalhar hoje? Perguntou-lhe Alfredo.

- Não, tirei o dia de folga! Na verdade, estava com várias horas extras acumuladas. Respondeu-lhe Miguel.

Os rapazes continuaram falando sem parar, entre conversa vai e conversa vem, Miguel aproveitou para fazer um convite irresistível ao seu colega de trabalho:

- Alfredo, você quer passar o final de semana comigo e mais duas amigas, em uma praia afastada da cidade? Vamos acampar em uma praia deserta, um local somente nosso. Seremos apenas eu, você, duas lindas garotas e o mar. Vamos aproveitar o litoral!

- Uau Miguel, que convite irrecusável! Sim, vamos planejar nossa aventura emocionante! Exclamou Alfredo.

Alfredo e Miguel estavam ansiosos. Cuidaram dos preparativos com bastante antecedência, a fim de evitarem problemas de última hora. A viagem, aliás, estava marcada para a madrugada do dia seguinte. Assim, Alfredo resolveu dormir na casa de Miguel. Foi um corre-corre danado. A casa era pequena, sem aposentos suficientes, mas Miguel improvisou o sofá para Alfredo dormir... Os rapazes acordaram ao alvorecer do dia, colocaram os objetos no carro e foram apanhar as garotas, Sandrinha e Amélia, que já estavam esperando por eles... A viagem foi longa e entre risos, gargalhadas, muita chuva e trovões, eles conseguiram chegar ao meio-dia do sábado no local do acampamento. Porém, chovia torridamente e eles não conseguiram armar as barracas porque a ventania jogava tudo pelo chão. Então, os quatros resolveram pernoitar no Hotel Central, o único daquele lugar, tinha um aspecto desagradável, feio por dentro e por fora, o que salvava era sua localização, ele ficava rodeado pelo o verde da natureza. Depois de acomodados em dois quartos, eles foram tomar todas no bar do hotel. Entre geladas e quentes Alfredo agarrou Amélia e Miguel não largou Sandrinha. Foram muitos beijos e abraços; só depois de altas horas é que os casais resolveram dormir. Alfredo foi rebocado por Amélia e Miguel por Sandrinha. Pouco tempo depois, o silêncio predominava nos quartos. De repente, um grito rasgado e um tiro solto no ar despertaram os hóspedes do hotel. O jovem Alfredo olhou para o outro lado da cama e percebeu que Amélia não se encontrava no quarto, ele pulou da cama e foi correndo até o quarto de Miguel... Chegando lá ele se deparou com a pior cena de toda sua vida: encontrou o amigo agonizando no chão, era sangue para todo lado; tinha sido um tiro certeiro, direto no coração. Não deu tempo nem de Alfredo socorrê-lo, o amigo morreu logo em seguida. Alfredo observou que Sandrinha também não estava no quarto, o mistério era triplo. Alfredo ainda desnorteado foi até a portaria do hotel, que já estava cheia de curiosos, pediu permissão e telefonou para polícia comunicando o fato. Logo, depois a polícia chegou e solicitou que Alfredo não se ausentasse do local, pois ele era um dos suspeitos já que a arma não foi encontrada no local do incidente e não havia impressões digitais no quarto da vítima, o caso era mesmo um mistério...

Alfredo foi despertado das suas recordações pela voz da mesma jovem arrumadeira dos quartos:

- Moço, um agente de polícia está aí fora e quer falar com o senhor! Posso mandar entrar?

- Ah, sim! Pode mandar entrar, por favor!

O delegado de polícia entrou e começou explicando o que estava acontecendo:

- Bom tarde, senhor Alfredo Salazar! Sei o quanto o senhor está ansioso para saber dos últimos acontecimentos. No início da tarde de hoje, encontramos no matagal os corpos das jovens Sandra Silva e Amélia Santos, que provavelmente foram assassinadas ontem durante a madrugada; encontramos também o corpo do ex-namorado da vítima Sandra Silva e, junto ao falecido estava à arma dos crimes e do suposto suicídio do mesmo, pois não havia nenhuma outra impressão digital além da dele. Vamos abrir um inquérito para elucidar todos os fatos. Portanto, o senhor, por hora, está dispensado e pode retornar as suas atividades normais. O homem se despediu e saiu em seguida.

Alfredo não conseguia parar de tremer, ele não sabia o que havia acontecido ao certo, e para ele tudo aquilo não passava de um grande mistério. Ele retornou ao trabalho normalmente e participou do velório do amigo Miguel... Os tempos passaram e ele retomou a sua rotina normal, mas nunca se esqueceu daquele final de semana fatídico, onde ele perdeu seu amigo de maneira tão brutal.

O caso nunca ficou totalmente elucidado para ele. A polícia sustentou que o ex-namorado, por ciúmes, matou o jovem Miguel e a jovem Sandra, como também a garota Amélia, que estava presente no local, no momento errado e na hora errada e, logo depois disso se suicidou. Mas, para Alfredo o mistério continuava, ele não conseguia entender por qual motivo Amélia tinha sido morta, se ela foi dormir no mesmo quarto com ele, e ele continuava vivinho da silva? Porém, isso será outra história.

São tantas histórias assim...

Elisabete Leite – 27\06\2019

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 28/06/2019
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