Jesus Voltou - capítulo 1 - "Até os Profetas Duvidam"

Jesus Voltou

“Se você carrega Crença em Deus e tem Valores Religiosos, apenas creia e não fique procurando lógica. A busca de quem tem Valores Religiosos por explicações lógicas termina no abandono de toda lógica (fanatismo) ou no ateísmo (abandono de toda religião). Se você considera a religião algo importante em sua vida e em suas relações sociais, crie um espaço de dissonância cognitiva, mantendo a religião em um compartimento totalmente separado da lógica que governa suas ações nos demais espaços.

Credo quia absurdum (“creio porque é absurdo”) é uma fórmula encontrada por Santo Agostinho, um filósofo sofisticado e muito erudito, para conciliar a sua intelectualidade com o Cristianismo ao qual se convertera. O espírito da frase é que a religião não é algo que “conhecemos” ou “sabemos”, mas “cremos”. É necessária a crença, uma aceitação acrítica e irracional porque a matéria religiosa é incompatível com a razão humana. “Creio porque é absurdo” significa que se não fosse absurdo não seria necessário crer, seria possível saber, entender, conhecer, avaliar etc.

Ou você faz como Santo Agostinho, ou enfrentará um conflito insolúvel que o destruirá intelectualmente (fanatização) ou o destruirá religiosamente (desconversão).”

Jose Geraldo Gouvea (in Quora)

Primeiro Capítulo

Até os Profetas Duvidam

Em Brasília, 19 horas. Repousando, ainda entorpecido, acorda o presidente com um chamado insistente: “Capitão!, Capitão!, Capitão!”.

Mais essa agora! Não sabem que tiro a soneca da tarde? Quantas vezes tenho que repetir a minha agenda de sonecas ao longo de cada dia? Isso parece herança dos esquerdistas, a culpa é deles que não respeitam a autoridade, taokey? - o capitão procura os óculos para tentar ver quem ousa retirar-lhe da soneca da tarde, na agenda aberta sobre o móvel contíguo constando como 'Entardecer'. Ao mesmo tempo, a figura ainda indiscernível se aproxima do repousante, e repete: - “Capitão!, Capitão!, Capitão!”.

Não precisa gritar, infeliz! Você já está cuspindo nos meus ouvidos Saulo Quilombola, taokey? Fala logo 'Negão', que é tão urgente assim?

Ô sinhozinho, fique bravo não! É que o general Èmenos disse que era uma questão de segurança nacional.

E por que o Èmenos não veio aqui para falar pessoalmente? Eu, o Jonhny Bravo, sou o presidente, porra!

Ó sinhozinho, o general está aqui na sala ao lado, ele pediu que eu acordasse o capitão, para que o sinhô se recomponha e se apresente com o a faixa presidenciária para conversar sobre uma coisa, que não sei o que é, mas ele diz que é uma 'situação delicada'. Isso, ele disse mesmo 'situação delicada'. - O capitão, ainda de cuecas lava o rosto com água tépida depois de água fria. Veste as calças, mete a faixa por cima da cabeça e sai assim, rapidamente, de calças, sem camisas, mas com a faixa.

Adentrando a sala íntima, o capitão encontra o general de pé, balançado de um lado para outro, demonstrando impaciência e nervosismo.

Diz aí compincha, que merda que eu falei que está causando alvoroço aí? É só dizer que é culpa da esquerda que a cambada se aquieta, taokey?

Capitão, se a coisa for confirmada pela Inteligência nossa, o bicho vai pegar!

Que inteligência o quê, taokey? Você parece que viu assombração, general.

É quase isso capitão, a NSA está investigando cuidadosamente junto com a gente nossa. E nosso pessoal é aço!

Tá bom general, diz logo do que se trata essa situação, taokey?

Vou ser curto e grosso. Quero dizer, não tão grosso como você, capitão. Mas é uma informação de alto risco. Precisamos reunir o Conselho de Segurança Nacional!

Eu não gosto de conselho, taokey? Se for fake news, cabeças vão rolar! Só o pessoal da família e recomendado pode criar fake news, taokey?

Antes fosse, capitão, antes fosse. Prendemos um sujeito que estava divulgando um slogan de incitação e estamos averiguando, porque vem de fonte fidedigna: Jesus voltou!

Olhos arregalados, o capitão fica atônito. Recuperando-se, sorri levemente e em seguida, cai na gargalhada. O general, impávido, cerra o cenho. O capitão, percebendo a seriedade do general e sua notícia, começando a manter um semblante mais circunspecto, senta-se numa cadeira de espaldar alto.

Ó general, é sério isso aí? Você está falando do Jesus, aquele? Aquele que todo mundo vivia dizendo que “em breve voltará”? Diz aí como é isso, taokey?

O incitador foi capturado pela Polícia Federal e trazido de helicóptero para cá para ser interrogado. O meliante foi identificado como um oficial do exército reformado porque fora antes condenado. Já tenho aqui a ficha dele, ele foi preso porque queria explodir o paiol do quartel onde ele servia, pelo menos encontraram com ele um mapa com um plano detalhado de detonação de explosivos, e aí, você sabe capitão, ou ele estava dando uma de louco para ficar de folga o resto da vida, ou é maluco mesmo. No primeiro momento, quando da prisão do elemento, eu mesmo achei que ele estava maluco, ou drogado, ou as duas coisas. Mas depois, informações adicionais daqui mesmo deram conta de que há um grupo em torno de Jesus.

Tá okey! E como é o nome do elemento aí, general?

João Batista, capitão. O homem detido... - o general não conseguiu completar a frase antes que o capitão, em risadas incontroláveis, caísse da cadeira e colocasse a mão no baixo ventre gritando, “facada, facada, facada”, e o capitão rolava pelo tapete em gargalhadas sonoras e repetia “facada, facada, quero a cabeça de João Batista!”

Capitão! É sério! Capitão, é uma situação delicada. É um problema que extrapola nossa soberania, até a França enviou um representante junto com um alto superintendente do MI-6 britãnico, o SIS!

Fim do primeiro capítulo

Amanhã: “As Flores Silvestres” (Capítulo Dois)