A VIAGEM - O Caminho de um Espírito Apegado ao Mundo Material

Em um tempo não muito distante, existiu uma pessoa que era extremamente apegada ao materialismo. Acumulava bens materiais em excesso e, a maioria destes bens, nem era de tanto valor. Esta pessoa simplesmente guardava tudo o que comprava ou ganhava, mesmo que não tivesse nenhuma importância e utilidade para ela.

As coisas e presentes que ganhava, muitas delas nunca usou. Mas não doou e nem vendeu para ninguém. Deixou guardado por muito tempo.

A casa desta pessoa era cheia de objetos e pertences sem valor e sem utilidade.

Os filhos insistiam para que ela jogasse algumas muambas fora ou doasse para alguém ou alguma instituição, mas ela não desapegava e dizia que eram suas "relíquias".

Quando iam visitas na casa desta pessoa, às vezes faltava copos ou pratos para eles, e ela dizia que não tinha e que era pobre. Reclamava da pobreza, mas haviam muitos copos e pratos guardados e que nunca foram usados.

Este tipo de situação acontecia com frequência e os filhos ficavam bolados com isto, mas já estavam acostumados com este materialismo exagerado da mãe deles.

Só que o tempo foi passando e esta pessoa foi ficando velha e adoecendo.

Ela era uma pessoa católica, devota de nossa senhora e extremamente religiosa. Os filhos também eram religiosos.

Era casada com um homem que era de família Espírita e que tinha o Espiritismo como religião. O seu esposo era uma pessoa mais tranquila e que não fazia muita questão de possuir bens materiais. Vivia sua vida de boa e morreu de morte natural.

O tempo foi se passando e a senhora viúva descobriu que estava com uma doença em estado avançado e que deveria fazer uma cirurgia para retirada deste tumor maligno, e que, talvez, não fosse conseguir completar o tratamento.

Ela era uma pessoa que vivia reclamando da vida. Reclamava de tudo e de todos. Já não possuía uma mente saudável e forte, por isto, não resistiu à cirurgia e acabou falecendo.

Os familiares ficaram tristes, mas já estavam esperando pela morte por conhecerem bem a senhora.

Fizeram o velório e enterro conforme era o padrão da época. Houve muita emoção e muitas lágrimas, mas era a única certeza que todos temos: que iremos morrer!

Após todo aquele momento de tristeza e emoção, os familiares foram para a casa, onde a senhora morava, para relaxarem e acertarem os valores que foram gastos com a funerária e com o enterro. Decidiram que iriam dividir os gastos entre os filhos e que a casa iria ficar com o filho mais novo da família. Eles não conseguiram decidir, naquele momento, se iriam vender a casa ou não, então, o filho mais novo, que já morava na casa junto com sua mãe, iria continuar morando ali.

À noite, todos já estavam descansados e alguns já tinham voltado para suas casas, que ficavam em cidades mais distantes.

Os que ficaram na casa começaram a planejar umas mudanças e a trocar algumas coisas de lugar.

A casa estava muito bagunçada e cheia de objetos velhos e sem valor em todos os cantos.

Arrastaram alguns móveis para um lado, outros para outro lado. Alguns móveis e objetos sem utilidade nenhuma, foram levados para um cômodo no andar de baixo da casa e foram amontoados por lá.

No guardas roupas, havia muitas roupas, muitos lençóis, cobertas, pertences, panos de prato... enfim, muita coisa que nunca havia sido usada. Resolveram repartir entre eles aqueles bens. Cada um pegou o que lhe servia.

Após esta pequena mudança e da partilha de alguns bens materiais, a família foi dormir e descansar.

No meio da noite escutaram um barulho estranho na cozinha. Um objeto caiu da mesa no chão e fez muito barulho. Algumas das pessoas se levantaram para ver o que era, mas não encontraram nada. Não havia nada no chão. Acharam estranho, mas não deram muita importância.

No outro dia, nem se lembraram do ocorrido. Dividiram mais alguns bens e deram uma boa faxina na casa, trocando vários móveis de lugar. A casa ficou mais bonita e mais espaçosa. Todos gostaram do resultado.

Após o almoço, os que dormiram na noite anterior foram embora e a casa ficou com o filho mais novo.

Este filho, o mais novo, gostava de fumar um baseado e agora, com a casa só para ele, ficaria mais tranquilo para fumar em casa.

Após todos saírem, imediatamente ele pegou seu baseado e foi dar uma viajada. No meio da viagem, ouviu um barulho de janela batendo em seu quarto. Na verdade, era o quarto da mãe dele que havia ficado para ele.

Ele se levantou para ver o que era, mas a janela estava fechada. Ficou intrigado com aquilo, mas preferiu continuar com sua "viagem".

À noite, já deitado para dormir, mais um barulho diferente soou na sala. Ele se levantou para dar uma olhada, mas não encontrou nada.

Começou, então, a ficar mais intrigado com aquilo. Começou a ter pensamentos mais estranhos e medrosos sobre aqueles barulhos.

No outro dia, ele se levantou, se arrumou, e foi para o trabalho. De lá mandou algumas mensagens para alguns de seus irmãos, falando sobre os fatos que estavam acontecendo. Decidiram que ele iria observar, nos próximos dias, se aquela situação iria continuar. E aconteceram!

Vários barulhos de coisas caindo, vários objetos sumindo dentro de casa, janelas batendo e cortinas balançando... A casa parecia estar assombrada!

O filho mais novo estava intrigado, mas não estava com medo.

Em uma de suas viagens de baseado, ele se pegou pensando sobre a linhagem espírita de seu pai. Pensou que ele vem de família espírita e que, talvez, o espirito de sua mãe estivesse ali na casa e viu que eles tinham mexido e trocado muitas coisas de lugar.

Ligou para seus irmãos e marcaram uma reunião para conversarem sobre aquela situação.

No outro dia estavam todos reunidos na sala de estar.

— Gente, está muito estranho isto aqui. Várias coisas estranhas estão acontecendo e eu estou ficando bolado. Disse o irmão mais novo.

— É. Pelo que você falou, a nossa mãe parece estar aqui mesmo. Isto é assustador. Falou a outra irmã.

— Vocês sabem que a família de nosso pai era espírita. Vocês sabem que eles não eram católicos como nós e viviam fazendo macumba. O irmão do meio falou.

O irmão mais novo voltou a falar:

— Então, gente. Todos nós sabemos que a mamãe era muito apegada nestas coisas aqui de casa. Todos nós sabemos que ela não se desfazia de nada, e agora nós mudamos tudo depois da morte dela. Eu estive dando uma olhada pela internet sobre esta situação, e vi que, segundo o Espiritismo, a pessoa morre e seu espirito fica um tempo vagando na escuridão até encontrar a luz, e conseguir sair daqui. Parece que é isto que está acontecendo. O apego aos bens materiais era tão grande, que mamãe não conseguiu deixar para trás, mesmo depois de morta.

— Entendo. Mas o que iremos fazer? Iremos vender a casa? Perguntou a irmã mais velha.

— Gente, eu sei que isto pode parecer ridículo, mas eu li na internet que há algumas simpatias para ajudar estes espíritos a encontrar o caminho da luz. Me sinto um idiota, mas estou disposto a fazer uma. O que acham? Manifestou o irmão mais novo.

— Eu topo! Eu também! Eu também!

Todos concordaram em fazer uma simpatia, por mais ridículo que parecia aquilo.

Eis a simpatia que fizeram:

5 dentes de alho;

5 alfinetes;

Um prato.

Os dentes de alho foram posicionados em forma de cruz e os alfinetes foram espetados em cada um deles. O prato com os dentes de alho espetados foi colocado num canto da casa onde ninguém pudesse ver. Como a família era muito religiosa, abraçaram-se e rezaram juntos a oração do pai nosso.

Foi uma situação meio inusitada e ridícula, mas eles estavam confiantes que iria dar certo, e deu.

Não se sabe se foi por causa da simpatia; ou se o espírito da senhora encontrou o caminho da luz; ou se era apenas paranoia da cabeça dos filhos.

O fato é que os barulhos sumiram e as coisas voltaram ao normal.

Mas, na cabeça do filho mais novo ficou uma dúvida:

Será que eles eram cristãos de verdade ou eram espíritas de verdade? A fé católica deles não serviu para nada quando foi colocada à prova!