Era magia negra

As samambaias penduradas na varanda balançam verdes ao vento quente do Mato Grosso.

Era tardinha.

A casa estava no silencio quebrado pelo uivo do cão vindo de longe.

Coisas doloridas estavam acontecendo aqueles dias . Uma insatisfação estranha invadia o espaço de Amélia .

Dias atrás um sapo enorme debatia-se no vaso sanitário sem

ninguém saber como ele poderia ter ido parar lá.

Confusões e desentendimentos na casa antes serena, agora agitada desabrochando energia maldosa.

Ironias no ar..

Onde tinha-se escondido o amor jurado frente ao altar?

Porque ele sempre chegava tão tarde do trabalho com desculpas esfarrapadas de cansaço e nem mais olhava nos olhos dela?

Desolada e derramando a água do jarro na viçosa samambaia de metro Amelia viu aqueles vermes gordos caindo em seus pés.

Subiu rápida em um banco pra verificar se havia algum bicho morto, algum rato apodrecido ou alguma pássaro que perdido por ali morrera .

Achou que vinham de dentro do vaso, mas com espanto certificou-se

de que agora eles caiam aos montes saindo de entre as telhas do terraço.

Quase caiam em sua cabeça agora!

Um susto desequilibrou-a e ela caiu sentada do chão erguendo-se tão rápida quanto despencara, livrando-se daqueles vermes brancos e roliços.

Imediatamente pediu ao filho de onze anos que subisse no telhado para retirar de lá o bicho que certamente morrera, estando em estado de putrefação

__Mãe aqui não tem nenhum bicho morto.

__Como não tem se esses bichos nojentos estão saindo do meio das telhas? Olha direito.

Enquanto o filho fazia sua inspeção ela juntava com a vassoura aqueles entulhos asquerosos e colocando-os dentro da pazinha de lixo

desvencilhava-se deles.

Desceu a criança e um tanto desconcertada apressou-se a confirmar:

_Não vi nada morto lá em cima mãe.

Amelia incrédula balançou a cabeça e continuou varrendo.

O portão da frente bateu e o tio Valter entrou.

__Nossa minha irmã de onde vieram essas coisas ?Que nojo!

__Ah pois é, seu sobrinho não conseguiu tirar o bicho morto do telhado.

Sobe lá meu irmão e limpa as telhas pra mim. Joga pra baixo o rato morto que dou fim nisso tudo.

Assim aconteceu e Valter la de cima gritou

__Amélia, aqui não tem nada não. As telhas estão limpas, sem nada!

Os bichos foram diminuindo e tudo parou.

Valter desceu e um raio sombrio escureceu seu olhar.

Entreolharam-se.

A noite chegou trazendo o companheiro de Amélia de tantos anos.

Ela nada comentou.

O cão que uivara a tarde toda, emudecera.

Tudo foi só solidão aquele ano.

Aquilo que se havia conquistado ficou no vazio. A casa precisou ser vendida, a oficina faliu. Quase tudo se perdeu .

Só a força e a compreensão de Amélia ficou entre as paredes do tempo.

Ele também se foi com a outra .

Amélia recomeçou e foi tecendo um ponto com outro ponto e fez sua vestimenta de maga.

Aprendeu com dor, mas superou.

Outro dia ficou sabendo que seu ex havia morrido num asilo imundo.

Seu irmão Valter vindo visita-la na capital depois de alguns anos, trouxe-lhe uma noticia macabra!

Contou-lhe que tal mulher que se juntara ao seu antigo marido, já havia morrido bem antes dele.

Parece que ha mais de cinco anos e que o no dia do velório dela tiveram que apressar o enterro porque, alguns bichos nojentos apareceram saindo de dentro do caixão da morta.

Amélia horrorizada então compreendeu.

Toda moeda tem o mesmo valor. Isso é imutável

Ravagnani S.C.

Ravagnani sc
Enviado por Ravagnani sc em 19/02/2020
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