PARA ALÉM DA ÓRBITA

Era comum a João Greg, dizer a qualquer um no seu cotidiano de trabalho, que era pioneiro, com suas invenções. Muito solicitado por arquitetos na desenvoltura de projetos, com ajuda de uma impressora 3D bastante sofisticada. De certa forma impulsivo, criticar hábitos consumistas não lhe passavam em branco. E que se sua companheira pudesse estar por cem anos à frente neste planetinha que se vive, com certeza não teria essa bobagem de consumo, de estar pagando aqui e acolá com desperdício, muito peculiar, dizia... de quem vive sem observar a natureza dos princípios, dizia isto a Neride sua parceira de cama, claro que ele era um visionário...sonhava sempre com o futuro. É que se opunha a gastos a qualquer coisa que não tivesse uso utilitário...joias para ele era esbanjamento e alienação. Quando então foi trabalhar num centro de pesquisas espaciais da BRASPINDORAMA SKY CORPORATION, foi um sonho. Logo conheceu Julian, piloto de nave que só falava em viagens com anos luz de distância.

Cinco anos depois teve a chance de ficar na chefia do projeto, que enviaria ao planeta KS22 6 anos luz distante da terra, uma tripulação que passaria 30 dias de contagem da terra para efetuarem as mais variadas pesquisas...sobretudo experimentos desenvolvimentistas com animais e plantas transgênicos em solo do KS22, tempo suficiente para valer a pena por tão grande jornada a fazer até o pouso. Admitindo-se uma volta mais segura. Surpresas certamente, sempre a espreita de todos envolvidos no desígnio.

Tempo, tempo, tempo, a cabeça de Julian explodiia. Era seu desejo de poder estar atravessando galáxias com velocidade estonteante, para chegar numa dimensão capaz de poder atingir a um futuro avançado, mas bem entendia que o ano de 2132 tinha limites, e que as incógnitas tempo espaço existiam, até porque a velocidade máxima alcançada por uma espaçonave ainda era pouco significativa a velocidade da luz.

Entretanto, sabia que a viagem a um planeta tão longínquo já era possível, mas não se escondia dificuldades e possibilidades de apagões durante a viagem, o que é comum na história de viagens humanas rumo ao que possa ser desbravado. Sabia que a estrela, a qual o KS22 orbitava por ela, ser uma estrela fria e de baixa massa, provavelmente três vezes mais velha que o nosso sol. Por isso entendia que iria atravessar uma zona de baixa temperatura provavelmente de 100 C negativos. Porém o sonho era grande, Esperança de pousar num planeta de atmosfera semelhante à de Gaia. Os estudos que aproximavam que o calor que a estrela oferecia ao planeta KS22, não eram conclusos, podendo ou não ter uma atmosfera semelhante a da terra.

Além de alguns visitantes credenciados, João Greg, Neride, Julian e Alana que era namorada de Julian... se encontram em noite de lua na base de lançamento e observatório astronômico de "VELAME", no arquipélago de São Pedro pelas águas oceânicas da Brasilândia... 15 de novembro de 2132, João Greg pergunta a Julian:

- Veja só que Lua, quantas você poderá ver em KS22?

- Certamente esta que estamos vendo é encantadora, além de inspirar uma trepada (olhando para Alana) ...a questão é a possibilidade de aumentarmos as chances de se ter outra ou coisa que valha. A Mercúrio 200 atingirá quase 200 km/s que não chega 0,0450% da velocidade da luz (em relação à terra) mas se anda ou melhor se navega...o que pode surpreender em muito tempo que se vai precisar...são surpresas cósmicas que tem em toda longa viagem.

Bem mais tarde, quando quase todos tinham saído do lugar de visita, o casal Julian e Alana, se distanciou e os dois deram de ficar em meio a um jardim do complexo da base de lançamento de Velame, num local limpo e escondidos entre arbustos ornamentais fizeram amor, era a despedida para jornada interestelar de Julian, que aproveitava um dia de folga da quarentena que lhe foi concedido... no outro dia cedo da manhã Julian já estava saindo da órbita da terra, com ele a tripulação, que era em número de cinco.

Segue a astronave oito meses de percurso rumo ao KS22, no cotidiano técnico dos ocupantes da nave...Um engenheiro eletrônico uma médica outro especialista em navegação tudo sobre cosmologia outro especialista em linguagem...programador e outra especialista em físico química, mas todos são treinados nas especialidades de cada um, na falta, todos entendem do que outro ou outra é capaz.

Conversa é limitada, as pequenas horas de lazer, mas não falta, no instante propício, todos sem exceção, não há apego entre eles alguma forma religiosa, não que sejam agnósticos, carregam a possibilidade do fim e da transformação no sentido do que a natureza sempre dilui matéria em matéria, embora ainda que sonhem, mas que não é assunto de apego para supremacia da vida. O engenheiro eletrônico e comandante Julian, certa vez numa pequena reunião, brincou: se tivermos dois sois...então teremos dois paraísos, quando morrermos.

Todos os tripulantes estão na faixa de 50 anos de idade, todos desde o nascimento usaram vacinas com telomerase, substância que retarda o envelhecimento, fazendo os cromossomos resistirem, verdade que a população de gaia nossa terra, em geral usa esta vacina, mas estes tripulantes foram bem assistidos pelo programa de nano robôs pela nanotecnologia, enfim todos com rosto de 25 anos, redução em cinquenta por cento...pois precisa-se da experiência e de vitalidade... para uma viagem desta natureza.

Na central de controle, João Greg tem um hiato, paralisa, centra-se na dificuldade, a nave atravessando um espaço super frio, entrando em rota desconhecida, sofre um refreio e flutua reduzindo de 200km/s para velocidade de um veleiro 25 nós, aparentemente estacionada no espaço sideral em pleno espaço interestelar, A questão é descobrir o que fez o refreio e o que fazer para realimentar a velocidade padrão da nave. Todos de sua equipe estão em reavaliação das coordenadas celestes e as possíveis interferências físicas que causaram a interrupção.

Surpreendentemente diante da situação compreendida por todos na nave, Julian escuta de um deles...da médica Jennifer, resta rezar...e responde a ela e a todos:

- Hum, acredito na eternidade pela compactação e expansão da matéria, seja acontecida por acidente ainda inexplicável ou por influência do acaso...o fato é que sinto ou penso, logo existo (sorrindo) como também meu cachorro ligeiro “Foguete”. Isto pra mim abre esperança incógnita, porém sem analogia de mundo paralelo ao que ficou atrás, mas sim a matéria viajando no infinito dentro de um espaço também em expansão...chegada a hora de dizer, a vida é inteligente então se sou cético pouco importa, o fato é que a religião no passado se impôs com o terror assustando pra ter o poder, e nada explicou além do mito, no passado matando em nome de um Deus ou mesmo de uma ideologia religiosa, portanto vou sair...antes vamos analisar o que se precisa levar pra fora da nave e tentar resolver. Rezar não nos nutre neste empenho...porém cada um é livre, e claro nada impede de mistificar a seu jeito, desde que não atrapalhe nosso pragmatismo de resolução. Em frente é que se anda, precisamos sobreviver para contar as próximas gerações sobre os novos paraísos ...

Algum tempo depois, no lado de fora da espaçonave: Julian em meio ao caos da força do silêncio em pleno espaço sideral com sua roupa insinderável e termofria, mal podia se sentir no breu da escuridão, um silêncio assustador um vazio no seu pensar...morrer é fato que a Turritoposis dohrnii não conhece de forma natural, espécie de água viva que só morre por acidente pois tem a capacidade de renovar o sistema celular. Diante disso lembra ainda que 15 dias antes de ir para quarentena de voo, foi feito todos exames que davam condições a todos da tripulação, estado de saúde em plenas condições de viver, com muita longevidade, a não ser que algum acidente ocorresse, e isso evidente lhe assustava. Sedimentos em flocos que lhe pareciam gelatinosos cruzando ao seu redor, sem um mínimo ruído, que lhe dava a sensação que muito longe dali, abria-se um caminho de luz e calor o que lhe permitia a esperança de continuar pensando e não só existir naquela imensidão, como estímulo da matéria...e viu que estava sendo otimista pela razão, claro, pensou já rindo, por ser uma pessoa...o ambiente é que lhe apavorava-o, e sabia que também não estaria sozinho se vencesse aquela situação, espantando assim o medo de morrer, bem entendeu o quanto isto fora assustador...Cai em si por estes questionamentos e reflete novamente e sequencialmente, quantos na terra não olharam para o céu e pensaram também na grande massa que veem, milhares de pontos cintilantes: vida primitiva é o comum? Vida inteligente é exceção tão rara? Estaremos sozinhos nesta imensidão? E por que não podemos levar a tocha da vida para um futuro distante? Ou mesmo estaremos atrás para outros? E se anima por assim, do nada, pela vida, e começa a caprichar no que deva fazer ali no pontual.

Omar Botelho
Enviado por Omar Botelho em 20/05/2020
Reeditado em 24/03/2021
Código do texto: T6953268
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