Meganoipse na escola - parte 1

Meganoipse estava lá. Era a sua primeira semana naquela escola, longe de todos os seus, os quais não mais viu nem contatou desde que o avião em que embarcou decolou do seu País, há exatos sete dias.

Tendo em seu poder uma caneta preta, do tipo Liquid Pencil, e um bloco de notas, dirigiu-se a um local mais arejado - um pequeno reservado coberto sobre a caixa de água, cujo telhado foi pintado de roxo, diferentemente das telhas dos demais espaços - de onde se pode observar toda a área escolar e as poucas movimentações nas adjacências, e começou a escrever uma carta, narrando alguns aspectos dos seus últimos dias, a fim de postar a correspondência assim que possível fosse.

Começando pela viagem, descreveu com detalhes cada momento vivido. O voo foi direto (País a País) e durou três horas e quarenta e sete minutos. Não teve como ele escolher outra empresa para o deslocamento pretendido, pois era só a ACINÚNICA que oferecia o serviço demandado de ida e volta e, por motivos específicos, só o fazia entre zero e quatro horas, pela madrugada a dentro.

Não houve maiores adversidades nem quaisquer outros imprevistos na rota escolhida. Nos momentos de decolagem e aterrissagem, bem como no decorrer do cumprimento de protocolos geralmente observados nessas operações, nada de importante houve que merecesse ser registrado. Tudo transcorreu em absoluta normalidade, nada de conversações, silêncio contínuo, luz ambiente padrão, sem quaisquer alterações, como se fossem imperceptíveis para o sistema.

Já em terra firme, seguiu por meios próprios até a escola e não teve restrição alguma na entrada da instituição e tendeu para os fundos, direto para o porão, enorme espaço subutilizado, não muito funcional e pouco acessado, que, na verdade, serve como um grande depósito de materiais obsoletos e danificados de todos os tempos e tipos e, ali, ele se aninhou sem ser incomodado em nenhum momento, durante todo o seu período de recolhimento. A estada dele naquele ambiente perdurou enquanto foi necessária.

Era a primeira semana naquela escola, longe de todos os seus, os quais não mais viu nem contatou desde que o avião decolou do seu País, há exatos sete dias. E ele, enfim, veio a retomar o contato com o envio da carta, em que relatou o seu dia a dia da última semana.

Passados outros sete dias, a instalação de ensino foi alvo da ação de guerrilheiros estrangeiros, que não tiveram dificuldade alguma para entrar no País nem para adentrar na escola, a qual, numa implosão como jamais vista naquela região, veio de alto a baixo, fazendo com que todo o material estocado no porão se tornasse UM SÓ MONTURO com as ruínas produzidas a partir das estruturas do complexo escolar em sua totalidade.

Algo inusitado foi trazido à tona em meio aos acontecimentos narrados. Dez latas de tamanho médio, contendo gêneros alimentícios industrializados somente no País vizinho, foram encontradas nos destroços, amarradas com arame recozido em pedaços de telhas roxas. Após o rescaldo, foi certificado que não houve nenhuma vítima no sinistro. Meganoipse não mais estava lá!