A LENDA DA SERRA ENCANTADA DA SANTA BRÍGIDA

A LENDA DA SERRA ENCANTADA DA SANTA BRÍGIDA

Manoel Belarmino

Há muitos anos, quando a povoação da Santa Brígida ainda estava em formação, os caboclos das caatingas do sertão baiano já admiravam aquela serra vistosa que geograficamente se destaca dentre as tantas serras e picos. Dos sertões de Canindé às caatingas do Raso da Catarina é o mundão dos índios e dos caboclos caatingueiros. Santa Brígida, uma povoação nova, de aglomeração de caboclos, surgia ali com o seu pequeno comércio, que, nas horas de precisão, atraía alguns caboclos das roças para comprarem alguma coisa de necessidade imediata.

Um dia, José de Benício, caboclo matuto da roça, teve a necessidade de comprar açúcar e sal na povoação. Deixou seu rancho logo cedo e dirigiu-se à povoação da Santa Brígida. Montado no seu jumento, parceiro das viagens mais urgentes, quando passou nas proximidades da Serra Encantada, com o Sol no pino do meio dia, avistou, na sua frente, cruzando o caminho, um longo e grosso cordão de pedras brilhantes; pedras de ouro. As pedras brilhavam tanto que encandeiavam os seus olhos.

De repente, olhou para o cume da Serra Encantada. E eis a surpresa: em pleno meio dia, sob o Sol ardente do sertão, aquele monolítico do cume da Serra Encantada estava todo iluminado e duas grandes janelas se abriram. Em uma daquelas janelas estava uma moça bonita. Morena. De cabelos longos e negros. Sorriso encantador. Uma moça tão bela que José de Benício ficou ali paralisado. Nunca havia avistado na sua vida uma moça tão bela assim!

Com um sorriso, a moça disse:

- Moço, aonde você vai, em pleno meio dia?

José de Benício, trêmulo, assustado e admirado, ainda encontrou forças para responder. E, com a voz trêmula, disse:

- Vou à Santa Brígida comprar umas coisinhas de precisão.

Aí, a bela moça, da janela, com sua voz doce, disse:

- Você poderia comprar uns novelos de linhas de bordar para mim? Você compra as linhas e quando você as trouxer de na volta, eu pago a você toda a despesa que tiver. Tenho certeza que você não se arrependerá.

José de Benício nada respondeu. Mudou as vistas, olhou para frente, para o caminho. Aquele cordão de pedras brilhantes não estava mais ali. O caminho estava livre. Liberou as rédeas do seu jumentinho e seguiu em viagem. Olhou novamente para a Serra Encantada, e tudo estava como antes, não havia mais o clarão luminoso e a moça não estava mais lá.

Chegou à Santa Brígida, comprou as coisas de precisão. Na bodega da povoação, a única que havia ali, tomou uma cachaça para dar coragem de retornar e passar nas proximidades da Serra Encantada novamente. Pensou no que a bela moça havia lhe pedido. Olhou os novelos de linhas coloridas para bordados, mas, imaginando que tudo que viu não passava de uma alucinação ou outra coisa parecida, decidiu não comprar as linhas.

Tomou mais uma dose de pinga, cachaça da boa temperada com casca de pau extraída da caatinga rasa do Raso da Catarina, e retornou. Quando se aproximou da Serra Encantada, eis que, ao levar as vistas, na sua frente, cortando o caminho, ali estava novamente um grande cordão de pedras brilhantes. Maior e mais brilhoso que o que havia visto anteriormente. Olhou para a Serra Encantada, e o monolítico estava iluminado. E, na janela, sorridente, a moça se amostrava mais linda e encantadora.

Com aquela voz linda, perguntou:

- Moço, você trouxe as linhas que eu mandei comprar?

O moço, trêmulo de medo, respondeu:

- Eita, moça! Infelizmente eu me esqueci de comprá-las. Perdoe-me.

Triste, a moça respondeu:

- Infelizmente, mais uma vez, eu não consegui me desencantar. Era a minha esperança.

José de Benício, sem entender, disse:

- Não entendi nada.

A moça continuou:

- Esse monolítico é o meu castelo. Eu sou uma princesa encantada. Há muitos anos, como um castigo, meu castelo foi transformado em pedra. A cada 700 anos, eu tenho uma oportunidade de me desencantar e desencantar o meu castelo. Você foi o escolhido para desencantar o meu castelo e o ouro que tem aqui em abundância. As linhas seria a senha para que o processo de desencantamento acontecesse. Eu e meu castelo ficaríamos livres do castigo, e o pagamento das linhas seria todo o ouro que você avistou atravessando o seu caminho.

As últimas palavras da moça da Serra Encantada da Santa Brígida:

- Eu e meu castelo continuaremos petrificados por mais 700 anos, e o moço perdeu a única oportunidade de ficar rico para sempre. Adeus!

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 18/11/2021
Código do texto: T7388273
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