Papai Noel ferido

Era sexta-feira, final de semana propício para o bom velhinho sair com a sua galera e passear com os netos e bisnetos. Afinal, aproxima-se o Natal, o seu colo e a atenção ficam concorridos. Eram muitas cartinhas que precisavam de respostas, apressa o passo para chegar a uma agência dos correios e despachar algumas… para depois, curtir com a família.

A fila é muito grande na agência escolhida. Olha de um lado e para outro em busca de tal “prioridade” para os idosos, não a encontrou, pois todos estavam na mesma situação. Só resolveria com a contratação de novos empregados para a agência, mas o Brasil em crise, só se fala em desemprego. Era Noel e mais uma quantidade de velhinhos querendo a mesma coisa: cumprissem o atendimento prioritário.

E não demora, começam as reclamações, justamente quando chega a vez do bom velhinho ser atendido:

_ Deixe eu passar em sua frente? É só um cartãozinho que irei postar para minha filha em São Paulo.

_ Ah, não! O meu filho está no Rio de Janeiro… Precisando desse documento original, preciso enviá-lo urgente.

_ E eu que estou aqui apenas querendo pagar um boleto, porque o banco em greve…

_ Na minha frente ninguém passa! Estou desde cedo aqui… Como pode? Ter que pegar uma fila gigantesca para fazer um depósito!

Até que alguém olha para o tamanho do saco de Papai Noel… E com raiva por conta da morosidade, encontra alguém para descarregar a sua frustração, diz:

- A culpa é dele! Como é que deixa para atender pedidos das crianças só na última hora! Tem o ano todo, só agora ele aparece no final de dezembro… Vou passar na sua frente, vovô!

Pronto. Um humano erra, os demais seguem…

-Eu também, com licença!

-Eu também, Papai Noel, vá para lá!

- Papai Noel, essa não é a fila dos aposentados! Eu ainda vou trabalhar…

E Papai Noel sem saber o que fazer, apenas repetia:

- Feliz Natal! Hô, hô, hô…

E começa um empurra-empurra. E o bom velhinho foi ao chão. Cartas pisoteadas, rasgadas, amassadas, brinquedos quebrados, sonhos adiados … Desesperado, Papai Noel dizia choroso:

- Por favor, não pisem nos sonhos das minhas crianças! É Natal!

Os adultos e idosos interessados em realizarem os próprios sonhos, não deram ouvidos aos apelos do bom velhinho… ele, cada ano mais ferido com a insensibilidade humana tenta fazer o possível para alegrar as crianças.

E se por acaso, a sua cartinha não teve ainda a resposta, não fique triste , porque o bom velhinho todo ano tenta realizar sonhos, mas sozinho não pode fazer muita coisa… Acho que ele ainda está na fila, mesmo machucado.

-Quer ajudá-lo?

(E. AMORIM/2016)

Elisabeth Amorim
Enviado por Elisabeth Amorim em 26/12/2016
Código do texto: T5863274
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