O Natal Somos Nós

Maria estava contente por receber seus primos no Natal. Os três eram ricos e viviam com luxo pelo Brasil, padrão de vida bem diferente do seu. Por isso, as reuniões geralmente eram na casa de um deles, mas, naquele ano, preferiram evitar que ela viajasse.

 

Estava grávida e a qualquer momento seu bebê poderia nascer, não deveria pegar horas de avião ou ônibus. A decoração foi toda preparada por José, seu companheiro que, carinhosamente, rejeitava todos os pedidos para ajudar.

 

— Nosso filho pode nascer hoje mesmo. Fique deitada na cama descansando até seus primos chegarem. — disse enquanto cobria sua amada com um lençol.

 

— Será que vai dar tudo bem no parto, querido? Rezo todo dia... — A expressão dela demonstrava seu medo em dar à luz pela primeira vez.

 

— Ah, amor... Eu não sei rezar, só sei dizer: quero te amar. — Ele disse com um sorriso galante a letra da música tão conhecida, fazendo-a rir. — Nosso bebê será abençoado como você, não se preocupe. Agora preciso continuar preparando a ceia, seus primos podem estar acostumados com a finura, mas sei que vão adorar meus pratos. — José falou orgulhoso.

 

— Você cozinha magistralmente, impossível não gostarem. Além disso, Belém do Pará é incrível. Podem odiar nossa festa, mas vão amar o passeio. Bendito dia em que você me convenceu a mudar para cá. — falou nostálgica.

 

— Com um homem maravilhoso desses, tinha como você negar? — disse apontando para si, o que levou ambos a caírem na risada.

 

A última coisa que escutou antes de adormecer, foi seu amado praguejando sobre a mudança do nome de castanha-do-pará para castanha-do-brasil. Isso foi há anos, mas ele irritava-se toda vez. Era um pouco chato escutar sempre o mesmo discurso, mas ela entendia o sentimento dos paraenses.

 

Acordou com um lindo beijo de amor verdadeiro de José, que anunciava a chegada dos primos. Ela foi toda alegre cumprimentando Belchior, Gaspar e Baltazar. Os quatro primos se abraçaram felizes, mas com cuidado por causa da barriga de Maria.

 

— Trouxemos presentes para o pequeno... qual nome vocês iriam dar mesmo? — Gaspar coçou a cabeça, sem jeito pelo esquecimento.

 

— Jesus. — respondeu José. — Porque ele vai nascer mais ou menos no Natal.

 

— Então pode ser a qualquer momento. — Belchior demonstrou certa preocupação.

 

— Vai dar tudo certo. — José tranquilizou todos com um sorriso.

 

No dia seguinte, os três primos acordaram com a casa vazia. Já não era de manhã há muito tempo, por isso, sentiram vergonha. Mas a busca por entender onde estariam todos logo substituiu esse sentimento. Por sorte, encontraram logo um bilhete dizendo que o bebê tinha nascido e dando o nome da maternidade em que estavam.

 

— Mas onde fica isso? — Baltazar perguntou.

 

— É só seguir a estrela guia que chegamos lá. — Vendo a confusão no rosto dos outros, explicou melhor. — O Google Maps, ora! Peguem logo o ouro, o incenso e a mirra!