Natal

A Baixa dos Sapateiros fervilha.O ir e vir de pessoas, todas apressadas.Os palhaços perna-de-pau a anunciarem as ofertas.O movimento na Avenida Sete é grande.O formigueiro humano busca os melhores preços, todos querem oferecer uma lembrancinha ao seu bem-querer.Todos aguardam a noite de Natal, a noite do Menino Deus.

Meninos querem bicicletas, meninas querem bonecas ou jogo de panelas.Todos querem um presente.'Uma árvore de natal tão grande, tão bonita...Ficaria bem na sala de lá de casa.'Assim deve ter pensado D.Deusdete.Olhava atenta e comprou um cartão de natal com um Papai noel na capa.

Ganhava uns cruzeiros a mais, gostava de ficar num local estratégico para faturar um troco a mais, o melhor lugar era defronte ao Cine Guarani.Engraxava uns vinte sapatos por dia, mas natal era diferente. Pensava nos sapatos, no Jesus deitado na palha e uma vaquinha mugindo ao pé do ouvido do Nosso Senhor e um Rei pretinho como eu dando presente ao Menino Jesus.Eu queria ser aquele rei do presépio da Adamastor.

Natal.Mamãe jogava areia em toda a casa, pensava ela que era como a neve, pegava as palmeiras, enfeitava com bolas. Era o nosso Natal.Ficava feliz com a noite de Natal.Galinha assada, guaraná e roupa nova.

Natal rezava um Pai Nosso, perguntava-me, pensando no que Jesus fazia quando era pequeno, do que ele brincava.Lembrava da música:

"Oh,meu bom Jesus

Que a todos conduz

Olhai as crianças do nosso Brasil"...

Ficava imaginando Jesus descalço, comendo pão, pedindo a benção a Santa Maria e a São José. Será que Jesus ria, chorava...Pensava nos milagres que ouviu o padre da Igreja da Graça falar e entrou um dia na igreja e vejo que o mesmo menino que estava no presépio é um homem sangrando, pregado na cruz.

Jesus, a esperança de dias melhores foi pregado na cruz. E o camelô joga um carro na mão de uma criança, que chora pedindo para a mãe comprar.

Deijair Miranda
Enviado por Deijair Miranda em 25/12/2005
Reeditado em 25/12/2005
Código do texto: T90246