Que tiro foi aquele...?

Apesar dos protestos de mamãe, sapequei três tiros no intruso. Passava de onze da noite e, embora fosse a minha primeira vez a empunhar um revólver, um Rossi 22, eu estava determinado a repelir a invasão, e ver sangue correr em borbotão.

A distância entre o invasor e a ponta de meu braço não chegava a quatro metros. A única coisa que me preocupou, mas não me parou, foi um grito, de homem, que ouvi a cerca de uns 200 metros à frente, após o barulho seco da bala de encontro a um obstáculo intransponível.

O grito ecoou no breu, e bem claro o entendi eu:

Tão querendo me matar!

Meu alvo contudo, era bem mais próximo, e descarreguei mais duas balas. Com três outras ainda no tambor, comecei a ver a inutilidade de minha bravura.

Com três tentativas, falhara. Mas tinha que consumar meu ato. Armei-me do que estava mais a mão, um rodo e parti para cima do infeliz. Que escapou por mais um triz, e quando sob o matagal num lote vago se meteu, ai foi que fedeu. E, por gambá, escafedeu.

No dia seguinte, a conversa na fábrica não era outra senão a misteriosa tentativa de assassinato de Raimundo Pau de Sebo que só não soube esclarecer se estava indo para, ou vindo da, zona boêmia.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/02/2018
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