CHAPEUZINHO VERMELHO HOJE

Chapeuzinho Vermelho é uma menina linda que mora com sua mãe no centro da cidade. O pai da menina foi mandado para outro lugar, pois, segundo os pais dele, é muito jovem para assumir responsabilidade de família. A avó da garota que mora na periferia da cidade e vendo que as despesas da casa ficaram grandes à medida que a menina ia crescendo, resolveu mandá-la junto com a mãe para a cidade. Lá pelo menos a mãe arranjaria um emprego para o sustento da filha. No dia em que as duas iam saindo de casa, a avó deu de presente à neta um chapéu vermelho para se proteger do sol. Naquele dia chapeuzinho sentiu-se cuidada, sentiu que alguém lhe dava carinho de verdade, por isso usava sempre aquele chapéu o que a fez ganhar o apelido de Chapeuzinho.

Já fazia alguns meses que não visitavam a casa onde Chapeuzinho nascera. Um dia Chapeuzinho ficou sabendo, por uma vizinha conhecida de sua mãe, que sua avó estava muito doente em casa, pois não tinha Plano de saúde e o tratamento de que necessitava não podia ser feito pelo SUS. Quando a menina deu a notícia á sua mãe, esta ficou muito triste, pois somente com o salário mínino de doméstica não poderia dar assistência à sua mãe. Então foi até a cozinha e preparou algumas tapiocas e bolinhos de chuva. Arrumou tudo numa sacola de papel da Avon. Chamou sua filha e pediu que levasse aquele agrado para a avó. Contou as moedas que guardava numa latinha de leite condensado e recomendou à menina: “tenha cuidado com seu celular que custou cinqüenta reais, pegue o ônibus certo, não desvie do caminho e não fale com estranhos”. Naquele momento, talvez pela tristeza que sentia, a mãe da garota nem pensou que estava violando dois estatutos: o ECA, por mandar uma criança sozinha enfrentar a cidade violenta, o trânsito perigoso; e o estatuto do idoso, pois ela mesma deveria ir visitar e cuidar da mãe.

A mãe da menina ficou com o coração apertado. Mas haveria de ser assim. Chapeuzinho, com toda sua fragilidade, aceitou a tarefa que lhe foi dada. Estava feliz por enfrentar os riscos e os perigos sozinha e nunca tinha imaginado que seria capaz de ficar longe de sua mãe.

Ao descer no ponto de ônibus, já na periferia da cidade, próximo à casa de sua avó, a menina ia se descobrindo corajosa. Caminhava pela rua quando um rapazinho cabeludo de dentes salientes, olhos graúdos e petos se aproxima e pede uma informação. A menina, esquecendo uma recomendação da mãe, diz não saber de nada, pois não mora por ali e que apenas vai á última casa na esquina da rua entregar uma encomenda para a avó dela. O rapaz dá a volta no quarteirão e entra pela janela do quarto da última casa, amordaça a idosa, arrasta-a até a cozinha, volta para o quarto, pega um lençol, joga nos ombros e espera a chegada da menina. Enquanto aguardava, revirava as malas e gavetas que encontrava pelo cômodo. Numa caixa de sapato, encontrou algumas notas de dinheiro e no fundo duas alianças de ouro, rapidamente enfia tudo dentro da camisa.

Vai para a entrada da casa, fica atrás da porta e cobre-se com o lençol, deixando somente o rosto aparecendo. Quando a menina chega, vê a porta aberta, põe a sacola no chão e de celular na mão vai entrando chamando pela avó. É surpreendida pelo lobo branco que primeiro arranca o telefone de sua mão, põe dentro da roupa e depois tenta agarrá-la. Enquanto vê seu chapéu rolando pelo chão, ela dá socos, mordidas e chutes conseguindo gritar por socorro. Os vizinhos correm, cercam a casa e chamam a polícia. O rapaz tenta fugir pela porta da frente, mas logo é agarrado pela vizinhança. Como os policiais demoraram a chegar, algumas pessoas entraram na casa e tiraram a mordaça da avó que foi socorrida pelas vizinhas que logo arranjaram pela casa um pouco de álcool num vidro cheio de pétalas de rosas para a idosa cheirar; outras tentavam acalmar a menina, enquanto outras, na rua, rasgavam as roupas do garoto para ver se ele havia roubado algo da casa. Encontraram o dinheiro, o celular e uma aliança dentro da blusa dele, pelo lado da barriga. De repente alguém gritou que o jovenzinho havia colocado algo na boca. Uns homens furiosos tentavam abrir a boca do rapaz de qualquer jeito, enquanto ele se debatia pelo chão. Nesse momento um grupo de quatro policiais chegou ao local do tumulto. Ouviu-se alguém dizer que os pertences iam ser devolvidos para a avó de Chapeuzinho..

Os policiais quiseram saber quem estava praticando violência contra o rapaz. Ninguém se manifestou e logo foram se afastando um a um. Encaminharam o rapaz à Data, pois era menor de idade. Levaram Chapeuzinho, tremendo, triste com seu chapéu na mão e os olhos cheios de lágrimas, até o Conselho Tutelar para que a mãe fosse buscá-la e dar explicações.

Eveluz
Enviado por Eveluz em 04/05/2010
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