Brincadeiras de Meninos

Era um magote de meninos que variava entre seis e oito incluindo as meninas que eram quatro, todos com idade girando entre nove e doze anos. Aquela brincadeira já acontecia há alguns anos, todos os dias quando eles saiam da escola passavam pela bagaceira do engenho para comer um pedaço de alfenim e tomar um pouco de garapa, não garapa azeda que podiam ficar embriagado, e o resto da tarde até escurecer ficavam correndo e fazendo algazarra na bagaceira.

Todos eles tinham o pai ou algum parente que trabalhava no engenho, uns eram cambiteiros, outros cortadores de cana, gameleiro e por ai vai. Como todos se conheciam e eram até parentes uns dos outros, estranharam aquele novo integrante do grupo, sem camisa e descalço, como criança é curiosa por natureza vieram logo às perguntas. Você é filho de quem? Mora aonde? Como é o seu nome? Eram as perguntas básicas como um interrogatório, para fazer parte da brincadeira.

Mas curiosidade de menino é coisa passageira, porque eles logo descobrem outras coisas para passar o tempo. Só as meninas é que ficaram encafifadas com o novo coleguinha, porque além de seminu ele carregava um bisaco a tiracolo que não largava para nada, o cabelo era sarará avermelhado embora ele fosse pretinho que chegava a ser cinzento e era mais rápido que todos eles.

Com o passar dos dias elas notaram que toda vez que a brincadeira estava para acabar ele entrava no mato e ninguém mais o via a não ser no outro dia quando estava pra começar a brincadeira. Você quer descobrir alguma coisa? Peça a uma mulher para observar, elas ao que parece nasceram com o dom de descobrir as coisas, e com as meninas não podia ser diferente. Então decidiram que iriam descobrir o segredo do colega.

Quando ele chegou à bagaceira não viu as meninas, mas como elas às vezes se atrasavam ele achou normal e caiu na gandaia com os outros moleques. Quando a brincadeira estava quase acabando ele se dirigiu para o aceiro do mato, foi ai que as meninas caíram em cima dele, não conseguiram segura-lo, mas ficaram com o bisaco dele, e foram tirando tudo que tinha lá dentro. Um cachimbo feito de barro, um rolinho de fumo, e o mais importante, um chapéu vermelho tipo uma touca pontuda, e só ai elas descobriram quem era ele, perceberam também que ali dentro do mato ele só tinha uma perna, e ficaram tão abismadas que nem notaram que ele podia fazer o que quisesse, mas ficaram com pena dele e devolveram tudo, porque Saci sem barrete e sem cachimbo não é Saci, quando ele colocou o barrete e deu duas baforadas no cachimbo as meninas já estavam meio areadas e não souberam mais voltar pra casa.

Os homens do engenho passaram noite inteira procurando elas, mas só as acharam na tarde do dia seguinte no mesmo horário das brincadeiras. Ninguém acreditou nelas nem mesmo os meninos, e o danado do negrinho deu pra brincar na bagaceira só quando as meninas não estavam.