O MENINO MALANDRO

Zequinha era um menino muito sapeca e velhaco, por causa disso todos o apelidaram de Zequinha Malandro. Ele era muito desobediente, e sua mãe vivia chamando sua atenção e lhe dando bons conselhos, mas que nada, ele ouvia por um “ouvido e soltava por outro”, como se diz o dito popular.

O pai de Zequinha era um homem bom e ficava triste ao ver seu filho fazendo coisas erradas, sempre conversava com ele:

- Zequinha meu filho, a gente tem que fazer o bem para as pessoas e não o mal, quem faz maldades paga aqui na terra mesmo, e os anjinhos do céu viram às costas para quem é maldoso!

Mas que nada, ele continuava a armar das suas, e todo o mundo já estava saturado com Zequinha, e prometiam que ainda iam lhe dar um belo castigo!

Os coleguinhas da escola nem queriam mais brincar com ele, pois as brincadeiras eram somente para aprontar com as pessoas. Ele mentia, para as crianças que brincavam na praça, que no bar da esquina estavam distribuindo sorvetes de graça e toda a criançada corria para lá, enquanto isso ele pegava os brinquedos das crianças e escondia num matagal que havia próximo dali. Quando as crianças voltavam sem sorvete e chateadas, porque era mentira, não encontravam mais seus brinquedos e aí virava uma choradeira geral.

E assim ele seguia aprontado com todo mundo; não respeitava ninguém; nem as pessoas idosas. Os pais de Zequinha não sabiam mais o que fazer, pois castigo e proibir alguns divertimentos como televisão, vídeo game, jogar bola e outros brinquedos e passeios, não davam resultados, e eles não queriam usar castigos radicais, como surra de cinta ou outros meios, pois achavam que seria pior.

Os professores não queriam mais o menino na escola, porque ele não estudava e perturbava os outros alunos e, ainda, não fazia as lições.

Até que um dia chegou à cidade um viajante, um senhor de meia idade, muito culto e bondoso. Logo que ele chegou, Zequinha que sempre estava desocupado pelas ruas por faltar muito às aulas viu aquela pessoa e logo pensou:

- Quem será?

E como era muito curioso foi se achegando e perguntou sem a menor inibição:

- O senhor não é daqui de nossa cidade, o que veio fazer aqui?

O viajante calmamente respondeu:

- Meu nome é Ageu e sou vendedor de ilusões, sonhos e bondade!

- Ilusões, sonhos e bondade, o que é isso?

- Ilusões são coisas efêmeras, passageiras, sonhos é ter vontade de conseguir algo desejado, e bondade é boa ação que se pratica com os outros, respondeu Ageu, você não as tem?

- Eu não, respondeu Zequinha, pra é que eu quero isso!

Como o senhor Ageu já tinha ouvido falar desse menino malandro logo que chegou à cidade, já tinha bolado um plano para tentar mudar as atitudes dele.

- Pois é Zequinha, embora você não queira, vou lhe contar uma pequena história sobre isso!

Zequinha falou pensativo:

- Como o senhor sabe meu nome se eu não lhe disse!

Ageu respondeu:

- As notícias correm; tanto as boas, como as más, e quando cheguei aqui a primeira coisa que me falaram foi que tomasse cuidado com um menino chamado Zequinha Malandro, e agora que o encontrei estou curioso para saber o porquê desse apelido?

Pela primeira vez na vida Zequinha sentiu vergonha e seu rosto ficou vermelho como pimentão.

Ageu percebendo isso logo aproveitou o momento:

-Zequinha, as pessoas têm a fama pela maneira como agem, se as atitudes são boas elas têm uma boa fama, mas, ao contrário, se elas fazem somente maldades e traquinagens, a fama delas é a pior possível.

Zequinha ficou cabisbaixo e Ageu continuou:

- Você, meu amiguinho, tem somente ilusões; não tem sonhos de ser alguém na vida, ter um bom emprego, ter uma família e muitos amigos. Não tem bondade, magoa seus pais, seus professores e seus coleguinhas e não respeita as pessoas mais velhas, então foi por esse motivo que vim para vender a você sonho e bondade!

-Mas como vou comprar isso! Custa muito caro?

-Não Zequinha, eu lhe ofereço de graça, mas você vai me prometer que vai fazer tudo o que eu lhe pedir, senão não vou lhe dar esses presentes!

- Prometo, disse Zequinha!

Então o senhor Ageu pegou carinhosamente Zequinha pela mão e lhe disse:

-Vamos até a sua casa falar com seus pais!

Chegando lá, Ageu se apresentou aos pais de Zequinha, que por sinal estavam angustiados e tristes. Teve uma conversa particular com eles e contou tudo que combinara com Zequinha.

Chamou Zequinha e lhe disse:

-Zequinha, vamos começar o nosso trato, primeiramente você vai pedir perdão aos seus pais e prometer que nunca mais vai ser desobediente!

Zequinha abraçou seu pai e sua mãe, pediu desculpas e muito emocionado disse:

- Agora sei o que é bondade!

Então ele e o senhor Ageu foram à escola, e pelo caminho, Zequinha foi fazendo planos de voltar a estudar e assim um dia poderia ter uma vida boa e dar muita alegria aos seus pais.

Ageu lhe disse:

- Agora você tem o sonho, faça bom proveito dele!

Chegando à escola, todos ficaram apreensivos pensando no que ele teria aprontado dessa vez. Mas, surpreendentemente, Ageu se apresentou e disse a todos:

- Zequinha hoje recebeu dois presentes e quer dividir com vocês!

Zequinha, meio envergonhado, falou com a voz embargada pela emoção:

- Hoje eu recebi o melhor presente da minha vida: o sonho e a bondade e quero dividir com todos vocês com meu pedido de desculpas e a promessa de ser de agora em diante outra pessoa.

E todos receberam Zequinha com muita alegria e amizade.

O senhor Ageu partiu deixando muita saudade, principalmente para Zequinha que até hoje se lembra dele com muito carinho.

Hoje Zequinha é um homem feliz e realizado; aquele menino malandro ficou num passado distante, pois em lugar da malandragem e da maldade, ficou uma doce saudade daquele bom homem que lhe dera o melhor presente que recebera toda em sua vida!

25-06-2011