Coitadinho do jacaré

O sapo saltitava tentando se proteger do sol, fazia um calor escaldante no deserto.

Como assim? O que um sapo do brejo estaria fazendo em pleno deserto?

O fato é que este sapo viajou por muitos quilômetros no bico de uma garça, lutando desesperadamente para não ser devorado. Depois de um longo período tentando estrangular a garça que o tentava engolir.

O sapo já estava exausto quando finalmente conseguiu se abrigar debaixo de uma grande pedra. No dia seguinte ele saiu bem cedo antes que o sol abrasasse o deserto a procura de alimentos. Encontrou alguns insetos que também estavam na mesma busca, não tiveram a mesma sorte e viraram o seu alimento.

Já pensava em retornar ao seu abrigo ou procurar outro melhor, quando a malvada garça o avistou e foi inútil fugir. Mas ele era um sapo honrado e sobrevivente lutava pela vida ate as ultimas forças. Novamente se agarrou fortemente ao pescoço da garça e apertou com todas as forças que lhe restavam ate travar os dedos uns entre outros. A garça tentou resistir voando para bem longe dali, ate que os dois já cansados daquela luta, a garça tentando engoli-lo e o sapo tentando estrangula-la.

Finalmente a garça cedeu e o expeliu e quase sem ar procurou um lugar para pousar. Enquanto isso o pobre sapo caia vertiginosamente, e por sorte desta vez ele caiu num brejo, onde conseguiu se esconder. Passado algum tempo se estabilizou ali e até constituiu família.

O sapo e o jacaré moravam no mesmo brejo e viviam se contradizendo sobre qualquer assunto. O sapo se considerava culto e considerava o jacaré um ignorante. O jacaré pensava o mesmo a respeito do sapo.

– Este sapo é um perfeito idiota! Só não foi comido pela garça ainda por que tem mais sorte do que juízo.

E também porque eu estou sempre perto, e ela morre de medo de mim. Disse o jacaré para a sua namorada.

O sapo gostava de se gabar de suas aventuras sempre fantasiando a realidade dos fatos, o jacaré ouvia sempre com atenção para depois chama-lo de mentiroso.

O pombo correio sobrevoou o brejo trazendo a correspondência, entregou para o papagaio que ao ler. Imediatamente pegou um megafone para divulgar a mensagem que era de interesse geral.

– Atenção! Todos prestem bem atenção... Haverá uma festa de confraternização. Bem no coração da selva!

O asno que acabava de chegar à margem do lago e se inclinara para beber água teve um susto.

– Eu não sabia que a selva tinha coração!

Todos ficaram eufóricos com aquela noticia, e olharam o asno com certa indiferença.

– Uma festa é tudo de bom. Mas será que todos realmente poderão ir? E as rivalidades entre alguns animais, como lidaremos com isso? Perguntou o macaco.

– Só será permitida a entrada na festa, de quem tenha a boca pequena. Respondeu o papagaio. Então o sapo falou com desdém.

– Coitadinho do jacaré!

Enquanto isso na beira do rio, o jacaré e sua namorada continuaram alheios aos acontecimentos, e conversavam sobre os mistérios do mundo.

O sapo empolgado com a possibilidade ir à festa que era proibida aos de boca grandes, olhava para o seu reflexo na água, e repetiu a frase.

– Coitadinho do jacaré!

Em outro momento a garça reclamou para uma amiga que estava com dor de garganta.

– Também querida, você não consegue engolir sapos! Disse-lhe a outra.

O jacaré que estava descansando na sombra da folhagem, oculto pela vegetação a margem da lagoa após uma boa refeição.

Ouviu a conversa das garças. Abriu os olhos e reconheceu àquela garça que reclamava com dor de garganta.

Há alguns dias atrás ela havia conseguido escapar dele, seria uma mordida fatal. Pensou ele. Mas agora tinha acabado de se alimentar, sorte delas. Resolveu então zombar dela.

– Pensei que estivesse com dor de dente! Dente de jacaré... Disse ele assustando ave, que levantou voo, seguida pela amiga e insultando-o.

– Porque não fica na tua aí! Brutamonte... Jacaré bobeia, e com certeza vira bolsa de madame!

O sapo deu um salto e disse.

– Coitadinho do jacaré!

Carlos Casturino Rodrigues
Enviado por Carlos Casturino Rodrigues em 10/07/2017
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