PRETINHO - O REI DO ALPENDRE

Na fazendinha amarelo ôvo, lá no interior de Goiás, perto do Rio Doce e da planície dourada de soja, onde o Sol que na pele arde, também é de muitos ganha pão, vivia  Pretinho, um menino alegre, de grandes olhos cor de mel, escurinho como uma noite sem estrelas, ninguém sabia seu nome, ele bem novinho ainda, fora encontrado no meio da plantação, embrulhadinho num pedaço de chita florida, berrando de fome. A Sinhá Rosa se apiedou dele e como tinha acabado de ter um bebê logo, lhe deu de mamar aquietando o pequeno. Seu Aureliano, marido de Sinhá Rosa, fora à delegacia para tentar descobrir o paradeiro da mãe do menino, durante dias investigaram, mas, nada foi encontrado. Sinhá Rosa de tanto alimentar e cuidar do pretinho, já havia se apegado demais a ele, nem lhe dera um nome, pois mais dia menos dia, a mãe dele poderia aparecer. O tempo foi passando e o pretinho sem nome, foi crescendo, sendo filho de todas as mulheres da fazendinha, era Pretinho para cá, Pretinho para lá e o menino foi ficando sem nome. Vivia pelo alpendre pegando ferramentas para um, ração para as galinhas para outro, corria atrás dos porquinhos e o que mais gostava, era tirar e beber leite quentinho da vaca Mimosa. Sempre que alguém brigava com ele por alguma travessura, corria suas perninhas ligeiras para os braços de Sinhá Rosa que o acolhia dizendo
- Pretinho, Pretinho meu Pretinho do Alpendre, eu protejo você
Era um carinho só entre os dois, coisa bonita de se ver.

O Pretinho do Alpendre era o rei daquela fazendinha, mais querido do que o filho de Sinhá Rosa, um menino tímido de bochechas rosadas, que não sentia ciúme de Pretinho, ao contrário, tinha o menino como amigo e inspiração, o seguia por todo o lugar, menos no alpendre, João Pedro era um menino medroso, achava as ferramentas perigosas, tinha medo das galinhas e nem sequer se aproximava da vaca Mimosa, gostava  mesmo era de correr com Pretinho  pela plantação e de brincar com os porquinhos. Os dois eram como irmãos, mas, no alpendre o rei era Pretinho.

Seu Aureliano um dia depois de muito pensar, chamou Sinhá Rosa na cozinha e disse que já era tempo deles adotarem o Pretinho e lhe dar um nome de verdade. Sinhá Rosa desejava isso há muito tempo, ficou tão feliz que saiu pulando dizendo que quando estivesse tudo ficasse certinho e no papel, faria um almoço especial para dar a notícia a todos.

Poucos meses depois, bem cedinho, Sinhá Rosa pediu ao marido para montar uma mesa bem grande na frente do alpendre e mandasse duas moças para ajudá-la no preparo das delícias, ia fazer uma verdadeira festa. Por volta do meio dia, os meninos estavam morrendo de curiosidade, afinal, qual seria o motivo de tanta alegria naquela fazendinha, o cheiro que vinha da cozinha estava enchendo d'água duas boquinhas pequeninas.

Conforme os pratos iam sendo colocados, na grande mesa em frente ao alpendre, João Pedro e Pretinho suspiravam, tinha soja torrada com salsinha, enormes pastelões perfumados à beça, muitos frangos assados, espigas de milho quentinhas com manteiga, feijão gordo, uma salada tão grande das verduras da horta com rodelas de ovos cozido por cima, arroz branquinho, farofa de linguiça e um leitão assado inteirinho, mas, numa das pontas da mesa estavam as deliciosas sobremesas, tortas de massa doce recheadas de abóboras, pudins de leite da vaca Mimosa, doce de banana com canela e um creme batido que Sinhá Rosa fazia e não era igual ao de ninguém, humm...e ainda tinha limonada bem gelada. Aí pensaram os meninos, para comer assim, na fazendinha tinha que ter notícia boa todo dia. Até o Padre José e o Seu Nésio do cartório foram convidados, todos estavam tão curiosos que podia até dar brotoejas rssss...

Depois da fartura de sabores e a abastança dos doces, Seu Aureliano abraçando com força Sinhá Rosa, deu a notícia de que Pretinho agora era de verdade filho deles, iria ser batizado na Igreja Matriz e ganharia o nome de Francisco, foi um bate palmas danado, o menino ainda não entendia direito aquilo tudo, mas, em alto e alegre som disse vou ser Francisco, mas, podem continuar me chamando de Pretinho, com  isso todos caíram na gargalhada.








 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 05/08/2017
Código do texto: T6075299
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