Os sapatos

Ela usou o vestido novo, pois queria estar bem apresentável. Diferentemente de outras reuniões a que sempre ia, esta era sobre poesia. A atenção que dava à roupa estendia-se para o fato da valorização que tinha por literatura. O vestido era branco, o que tornava seus gestos mais luminosos no salão naquela noite de sexta-feira.

É imperativo lembrar, incluindo o prazer de estar com as pessoas da cidade que mais amavam música e poesia, a presença de alunos de variadas escolas, bem como da primeira dama e do Secretário de Cultura.

A mulher suspirou, olhando ao redor.

“É hoje! Ah, que a noite prometia!” E ela projetou os olhos na direção do grupo que conversava alto. E riam, mirando os alunos.

Os pensamentos dela, cheios de receios e ideias quebradas, chegaram a deixá-la com uma sensação de que algo diferente iria acontecer. “Calma, calma, Juliana!”, dizia a si mesma.

Voltou-se para os preparativos iniciais do evento. Juliana descobriu surpresas maravilhosas na poesia simples dos alunos: musicalidade nas rimas e um bucolismo carinhoso.

Assim observando, ia separando quem tinha mais proximidade com sua poesia regional. “Hum, que gostam de animais!” Deixando-se ficar menos emotiva, e procurando analisar a métrica, notou que uma aluna tinha tendência para o soneto – uma presença de Simbolismo nas palavras sugestivamente pronunciadas.

“Quem teria também notado aquelas crianças em todo o esplendor da poesia?”

O som do microfone a chamou. A atenção que os ouvintes davam para ver a pessoa passando e subindo ao palco.

Então Juliana percebeu que os olhares eram para seus sapatos.

Caminhou lentamente para sentir melhor o efeito dos sapatos amarelos claros, quase beges. O vestido branco de corte simples era acima dos joelhos, destacando as pernas bem torneadas.

E, na noite de sarau literomusical, ela mesma soube que seus sapatos fechados de plataforma pequena, deslizavam no chão, lavavam-na como uma dançarina, ou uma flor que voasse ao vento, subindo ao palco.

Juliana sorriu, que talvez as palavras a amassem, e viu-se abraçada por todos – a poesia existia nela – com a musicalidade, as rimas, a expressividade, o sol, as flores, os animais, e o contraste de sua roupa e seus sapatos enquanto gesticulava e caminhava...

Naquela noite, em que cada passo segurava um verso, os aplausos que Juliana ganhou seguiram-na pelos sonhos que teve...

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 24/02/2018
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