Leitura de mundo

Ele vigorou

Ao despertar do sono após almoço. Já na quebrada da tarde, pois o sol entrava pela janela e dava sinal até a porta do quarto avisando que era chegada à tardinha. Acordava sempre ouvindo um trá, trá, trá trá trá.... Era um barulho que despertava também a mente para entender o que mãezinha fazia ali. Ali de pé, olhava a arte que ela cosia, ora era bolso de pano de tergal, camisa de saco de algodão, retalhos de panos viravam roupas pra crianças e adultos, mas uma coisa escrita chamava a sua atenção. Era um letreiro que dava a marca da máquina de costura que a mãe havia comprado com seus meros esforços femininos. Bem no centro estava escrito na tábua de apoio da costureira “Vigorelli”. Eu perguntava a ela apontando pra letra maiúscula:

- Que letra é essa, mãe?

- A primeira letra de seu nome.

Era só o que ela dizia.

E o astuto menino olhava, olhava pro letreiro e não arriscava decifrar, pois não sabia ler, mas a formosura da letra primeira sempre chamava atenção e a outros não arriscava perguntar, pois essa curiosidade sempre surgia quando a máquina estava pra fora, já que em descanso ficava no bucho do objeto.

- O que a senhora costura aí, mãe? Pergunta o menino curioso.

- Já fiz um calção pra você!

Era uma alegria só.

- Do pano da calça que Madalena me deu.

- Quero ver. Fez mais o quê?

- Uma bolsa pra teu pai levar para as caçadas dele e uma camisa de saco pra ele trabalhar.

Toda tarde ouvindo o rádio que trazia ondas da rádio piauiense: Pioneira, programa “Seu gosto na berlinda” líder de audiência desde os anos 1960 na locução do radialista Roque Moreira, a costureira era habituada a costurar retalhos ouvindo a programação emocional que o radialista sabia fazer. Mãezinha se distraia e ali na escuta desejava saber notícias de sua genitora que estava mundo a fora.

Aquela melodia usada na abertura do programa era o que embalava o sono do menino e também, o despertava para encontrar sua mãe que não respondia nada sobre a leitura que ele perguntava, pois ela sabia que um dia ele ia ler e escrever coisas que só sua curiosidade poderia descobrir.

WALTER BERG
Enviado por WALTER BERG em 14/05/2018
Código do texto: T6336054
Classificação de conteúdo: seguro