A HISTÓRIA DO MENINO JUCA

A HISTÓRIA DO MENINO JUCA

Juca era um menino pobre, morava numa vila bem longe da civilização, o sonho desse menino era maior que a Lua quando surgia na imensidão que ele avistava do seu pequeno barraco onde vivia com a sua mãe. Juca não frequentava a escola, mas aprendia a ler com a filha de uma vizinha que tinha o maior carinho em ajudar aquele menino sonhador.

Juca sempre acompanhava a mãe quando descia para a cidadezinha lavar roupa em algumas casas, no caminho todo papel que encontrava o menino levava para casa e ficava gaguejando as letrinhas e copiando na sua maneira torta de entender. O tempo passava o menino crescia, um dia acordou falando com a mãe que recebeu a visita de uma menina fada que lhe dizia:

- Logo irá acontecer algo muito bom no seu pequeno mundo, você vai sair daqui e ganhar a imensidão como passarinho em busca dos seus sonhos.

A mãe sorrindo disse: - Filho hoje é o seu aniversário, pare de ficar imaginando coisas nessa sua mente sonhadora. Eu tenho um presentinho para você, não é novo sei que vai amar tanto quanto se fosse novinho em folha, encontrei quando voltava ontem para casa. A mãe entregou abraçando o seu menino sonhador.

O menino olhou para a mãe quando ela estendeu um livrinho todo ilustrado, mesmo amassado era o presente mais lindo desse mundo. Exclamou o menino com os olhinhos brilhando como vaga-lumes acesos. Obrigada mãe! E correu para o seu quarto abraçando seu livro.

Durante o dia nem podem imaginar, - O menino não largou o seu presente, lia, relia cada página com medo que a historinha chegasse ao fim, degustava devagarinho como se saboreasse o mais delicioso dos doces que só via nas vitrines da cidade quando passava nas ruas.

Juca se afastou dos amigos, não vivia mais perambulando pelas ruas da vila sem ter o que fazer, agora tinha seu melhor amigo, com seu livrinho viajava em lugares lindos, falava com os personagens como se pudessem lhe ouvir, as respostas ele mesmo dava como se fosse um dos personagens que faziam a historinha.

A noite dormia com o livro embaixo do travesseiro e sonhava que fazia parte daquela historinha. A imaginação do menino voava tanto que até criava um final diferente, imaginava como seria se ele fosse o cavalheiro andante da história, em seu cavalo de pelos negros e crinas esvoaçantes sairia cavalgando pela floresta na captura da linda menina de cabelos de cenoura que andava desaparecida. E assim adormecia criando uma nova historinha em sua imaginação sonhadora.

De tanto ler o livro de trás para frente de frase em frase ele já sabia descrever cada detalhe que acontecia. Um dia sozinho em casa resolveu inventar uma outra historinha sem sair do enredo daquela e começou a rabiscar palavras, trocava frases, mudava os personagens, o lugar onde tudo aconteceu, agora a sua historinha estava ficando do jeito que sonhava, tudo aconteceu ali mesmo na vila, claro que ele seria o personagem principal e a menina que tão carinhosamente lhe ajudava a conhecer as letras seria sem duvida a heroína da sua nova historinha.

E assim continuava Juca, sentava no alto do morro deixava a imaginação voar, observando aquele cenário com olhos de menino sonhador.

Sempre que chegava ao fim da página do caderninho que a menina havia lhe dado, se perguntava: Tem tantas pessoas que quero colocar na minha historinha, como vai caber tanta gente e ainda os animais que gosto numa historinha...

O menino não desistia e outros personagens surgiam na sua cabecinha sonhadora, - Preciso mudar os nomes, ora i nem pensei nisso. – Que nome eu darei ao meu cachorro, meu gato e os cachorros da vila que ficam perambulando por aqui. Melhor eu seguir escrevendo e dando os verdadeiros nomes quem sabe se os sonhos podem me responder a tantas perguntas. Juca pensativo continuava.

O caderninho era o único papel que tinha para escrever a sua historinha e estava na ultima folha já todo amassado de tanto carregar embaixo do braço de casa para o morro onde sentava para buscar a sua inspiração. O lápis de tanto apontar só restava um toquinho menos que o seu dedo mindinho. Triste pensou: - Como vou continuar a escrever? Papel acabou lápis não dá mais para segurar... Eu preciso arranjar outro caderninho e um lápis maior mesmo usado vai servir.

Sem solução o menino saiu pelas ruas perto da escola pegando folhas e pedaços de papel amassados que encontrasse no lixo. A noite ficou lendo e relendo a sua historinha, retocava algumas palavras, mudava um nome remendava frases. Quando por fim o lápis chegou ao finalzinho, ele chorou muito e adormeceu, na manhã seguinte iria até a casa da menina e pediria que lhe arranjasse alguns tocos de lápis que não servia mais para ela usar, e assim seguiu, quando a menina abriu a porta ele foi falando do seu projeto e do que estava lhe deixando triste, a falta de lápis e papel para continuar.

Penalizada com o que o menino relatou ela entrou e voltou com um saquinho entregando-lhe.

O menino nem ao menos olhou o que estaria ali dentro, voltou para casa pulando nos calcanhares, parecia um foguete sem ao menos dar tempo da menina dizer alguma coisa. Subiu até o morro onde sentou-se, ao abrir o saquinho esbugalhou os olhos diante do que viu, um caderninho novo, lápis e canetas tinha mais de dez contando os dois.

Já com papel e lápis correu para casa fechou-se em seu quartinho e cuidou de retocar as letras. Empolgado passava página por página, lia e relia até ver o Sol despontando por detrás dos tufos de plantas que cresciam atrás da sua casinha.

Enfim de tão cansado adormeceu por cima do caderninho todo rabiscado estava aconchegado entre os seus braços e o travesseiro do menino sonhador.

Os dias seguiam, os amigos cobravam a sua ausência no campinho onde as tardezinhas jogavam bola, Juca já não ligava para as suas bolinhas de gude nem dos carrinhos da lata que ele mesmo fazia usando materiais encontrados no lixo e a sua imaginação. O menino só queria ficar sozinho para continuar reescrevendo aquela historinha.

De tanto os amigos cobrarem Juca resolve ir jogar bola, quando voltou foi correndo até o seu quarto, seus olhinhos se encheram de lagrimas, não encontrou o seu caderninho no lugar secreto onde ficava o seu melhor tesouro, a sua historinha. Remexeu todo o quarto, virou revirou até encontrar embaixo da cama no meio de sapatos e seus carrinhos de lata onde ele os guardava pôs a casa era muito pequena e não tinha lugar para seus brinquedos. Entre soluços de medo e de alegria, pegou o caderninho folheava de página a página, as letrinhas umedeceram se borrando com gotas salgadas das lágrimas caindo dos olhos do menino.

Quanto mais via as letras borradas mais o menino chorava e nem percebia que se não retirasse os olhos do caderno as letras se apagariam totalmente. Com cuidado colocou o caderno sobre a cama onde raios de Sol filtravam pela janelinha baixa, com certeza o calor secaria as lágrimas e as letras voltariam.- Pensava o menino entre soluços e esperança...

Algumas se apagaram, eram escritas a lápis e não voltariam. Desesperado correu até o morro precisava ler para encontrar palavras que se encaixassem nas frases apagadas ou sua historinha ficaria capenga. Não poderia faltar nada, na sua historinha tinha que ter o dia se levantando, o Sol se espreguiçando para secar o sereno das asas das borboletas, as formigas começando a sua luta logo de manhazinha, as horas se espichando enquanto os homens saiam para a luta e as mulheres descendo e subindo as ruas com trochas de roupa para lavar, crianças brincando de soltar pipa no alto do morro, cachorros que dormiam preguiçosos na sombra das casinhas, a Lua bisbilhotando o Sol que demorava para anunciar sua saída, o entardecer o canto dos passarinhos em busca de agasalho, o sabiá e colibri fazendo a festa na laranjeira, e os gatos que só dormiam e miavam querendo comer.

As cigarras que cantavam trazendo aquela sinfonia ensurdecedora ao pé do ouvido. Mas como colocar som em minha historinha? – Pensava o menino sonhador.

Juca continuava em seu silêncio observando novos personagens e onde colocaria todos, sua historinha só seria perfeita se não faltasse ninguém da vila...

Aquela noite o menino teve mais um sonho, um atrevido passarinho dizia ao seu ouvido:

- Você precisa terminar a sua historinha dando vida a cada personagem, mas antes precisa ir á escola aprender a ler e escrever corretamente, lembre-se o saber é que traz vida.

Juca acordou com um sentimento de algo vazio dentro dele, lembrou-se do aviso do passarinho tinha que ir para a escola e foi o assunto do dia, queria ir para a escola aprender a ler e escrever bem para assim terminar a sua historinha dando vida aos personagens.

No dia seguinte estava Juca matriculado na escolinha municipal da cidadezinha, todas as tardes descia o morro com livros e cadernos dentro de um saquinho costurado pela sua mãe. À tardinha voltava para casa, parou junto da lagoa, precisava escrever sobre os sapos, os peixes e as rãs, os grilos que tanto atrapalhavam o sono e até os pernilongos com seus zumbidos agudos ao pé do ouvido para em seguida sugar o sangue das suas canelinhas finas, se era uma historinha tinha que falar deles também.

A noite já em sua cama ele ficava gaguejando com as palavras discordando com as ideias que matutavam em sua mente, assim que adormeceu mergulhou nos sonhos, assim que acordou vasculhou a sua imaginação em busca de novas ideias para a sua historinha.

Um dia eu termino e ficarei feliz em escrever: Fim...

Autoria- Irá Rodrigues

http://iraazevedo.blogspot.com.br/

Diretora Internacional da divisão de Literatura Infanto-juvenil

irá rodrigues
Enviado por irá rodrigues em 02/06/2018
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