SELMA, A GALINHA CARIJÓ

Há muito tempo atrás, na época que até os animais falavam, havia uma Fazenda habitada por adoráveis criaturinhas, eram diferentes tipos de aves, animais de estimação e uma patrulha do barulho, Galos e Galinhas, que viviam aprontando pelos galinheiros dos quintais...

A Galinha Selma se achava a dona do pedaço, vivia falando para os animais visitantes: - Vão embora! “Cada um em seu quadrado”. E os animais saiam correndo, com medo das bicadas dela, pois Selma colocava qualquer bichinho grande ou pequeno para fora do seu poleiro. A Galinha vivia desfilando toda formosa e ciscando os milhos que ficavam espalhados pelos caminhos, ela andava toda faceira, balançando seus quadris, que a sua bela plumagem branco acinzentada voava pela ação do vento. A deslumbrante Galinha Carijó vivia esnobando o Galo José que era perdidamente apaixonado por ela, porém de pirraça ela vivia soltando suspiros de amor pelo Galo Terêncio, conhecido nos galinheiros, como o bonitão. O Galinho José não era considerado como bonito, pois era de uma única cor e bastante franzino, mas muito bom de coração, ele gostava de ajudar as outras aves. Já o Galo Terêncio era da raça Pedrês, ele tinha um topete de despertar emoções, um verdadeiro galã dos galinheiros. Mas, nem sempre a aparência comprova a evidência...

Um certo dia, chovia bastante naquela fazenda, o cenário era desesperador, pois os galinheiros estavam totalmente alagados não havia quase nenhum lugar que estivesse enxuto por lá, o chão estava todo encharcado de lama, que dificultava a locomoção das aves, Galos e Galinhas, principalmente as Galinhas Caipiras/Poedeiras (galinhas criadas para pôr ovos), pois elas precisavam aquecer os ovos. Mesmo com muita chuva, Selma resolveu passear para se amostrar para o Galo Terêncio, pois o mesmo havia conseguido um lugar mais ou menos enxuto no poleiro mais alto do galinheiro. Assim, Selma olhou para o alto e disse a Terêncio:

- Olá Terêncio! Eu posso ficar ai com você?

- Olá beldade! Estou no lugar mais alto daqui, tenho certeza que você não vai conseguir subir. Fique na sua! Disse-lhe Terêncio esbanjando indiferença.

O Galinho José ouvindo toda conversa, ficou com peninha da sua amada e resolveu oferecer à Selma o seu lugar. E disse-lhe:

- Selminha, você quer ficar aqui comigo? Sei que não é muito alto, mas meu poleiro está enxuto.

- Como ousas falar comigo, José! Limite-se a sua mera insignificância. Selma disse-lhe.

- Perdão, por favor! Não queria me meter na sua vida. Disse-lhe José.

Somente se ouvia no galinheiro muitas e muitas risadas: có, có, ró, có, có... có, có, ró, có, có... có, có, ró, có, có... O Galo José permaneceu cabisbaixo e muito triste, seu semblante era de pura decepção, pois ele gostava realmente dela. A Galinha Selma foi passando por cima dos outros Galos, Galinhas e Pintinhos, escalando os poleiros para chegar até Terêncio. Mas, algo terrível aconteceu, a galinha em um voo desajeitado despencou lá de cima e caiu humilhada no chão, ficando completamente suja de barro molhado. O Galo bonitão, o tal de Terêncio, nem saiu do lugar. Enquanto isso, o Galo José pulou, rapidamente, para junto da Selma, na intensão de socorrê-la.

- Selminha, fale comigo! Você está bem? Por favor, fale comigo! Disse-lhe o coitadinho do Galo José quase chorando.

- José, estou um pouco dolorida, mas penso que estou bem. Respondeu-lhe Selminha.

- Selma, cuidado ao se levantar para não machucar as suas perninhas! Deixe que eu te ajudo! José falou com todo carinho e segurou pelas duas asinhas da amada ajudando-a.

Enquanto isso no poleiro, somente se ouvia risadas: có, có, ró, có, có... có, có, ró, có, có... era o Galo Terêncio que não parava de sorrir.

A Galinha Selma estava horrorizada com a situação formada, ela nunca poderia imaginar a frieza do Galo Terêncio e a bondade do Galo José...

Na manhã seguinte, as chuvas cessaram, o sol resplandeceu no horizonte, seus raios brilhantes e quentes conseguiram enxugar o terreiro do galinheiro. A Galinha Selma permanecia bem quietinha, descansando no primeiro poleiro, que foi cedido pelo Galo José, pois ele estava bem juntinho dela, cuidando do local, vigiando para ninguém a incomodar. Ela abriu seus belos olhinhos pretos e falou:

- José, muito obrigada! Perdão, pelas minhas grosserias! Eu desconhecia os seus valores, sua bondade. Agora, muito te admiro!

- Selma, não é somente bondade! Não precisa pedir perdão, você sabe que te amo! Respondeu-lhe bem calmamente.

José abrigou Selma nas suas asinhas franzinas, mas bastante acolhedoras, esquentou seu coração e colocou para fora tudo que sentia por ela. Assim, os dois permaneceram juntinhos durante longas e longas horas...

Os tempos passaram e a Galinha Selma aprendeu com aquela dura lição, ela passou a valorizar mais as outras aves, reconhecendo os nobres valores de cada uma. Selma e José se casaram, ela chocou muitos ovos e os seus pintinhos eram tão lindos quanto a mamãe Selma e o papai José.

Segundo o ditado popular: “Quem vê cara não vê coração”.

Elisabete Leite – 17/09/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 22/09/2018
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