A amizade de João e o gato fujão

JOÃO E O GATO FUJÃO

Foi uma noite de muita chuva e o dia começava a clarear. João acordava ainda preguiçoso e passava as mãos sobre os olhos, como se aquele gesto ajudasse a abri-los completamente. Mas, foi um barulho no telhado e vários miados agudos que o despertaram de vez. Curioso que era, saiu para a varanda tentando descobrir ou pelo menos entender o que de fato estava acontecendo.

Para surpresa sua viu aparecer na ponta do telhado uma gata de pelos brancos e algumas pintinhas pretas pelo corpo. Ela parecia observar o entorno do lugar onde estava, procurando algo que João não soube identificar o que era. Instantes depois, novamente começaram os miados e para alegria de João e pela explicação de seus pais, entendeu que ali tinha vários gatinhos que haviam nascido em cima do telhado naquela noite.

___ Quantos são? Quantos são? Perguntava ansioso para sua mãe.

___ Uns quatro ou cinco gatinhos. Respondeu sua mãe, sem ter certeza da quantidade, mas como forma de tranqüilizar o filho e acalmá-lo.

Os dias iam passando e os filhotes começavam a dar os primeiros passos pelo telhado. Até que num determinado dia a mãe gata apareceu com os filhotes à beira do telhado e João viu três gatinhos de olhos arregalados que pareciam ser bastantes sapecas. Logo voltaram para o lugar onde dormiam e o silêncio foi completo.

As indagações continuam a martelar a cabecinha daquela criança preocupada com a sobrevivência dos gatinhos. Será que estão se alimentando direito? Como irão descer deste telhado que é tão alto? Ele passou então a colocar comida todos os dias, em uma tigela que pediu a sua mãe, de maneira que a gata tivesse o suficiente para alimentar os filhotes. Passado alguns dias a gata e os filhotes começaram a andar por toda casa em cima do telhado, até que num determinado momento João percebeu que a mãe e os filhotes estavam do outro lado da casa, e onde eles dormiam continuava o miado de um dos gatinhos que parecia muito assustado. Instantes depois todos voltaram e o gatinho se acalmou.

Sabendo o apego do filho pelos gatos, seus pais passaram então a conversar com João, mostrando que a gata e os filhotes continuam lá em cima do telhado porque ainda eram bastantes novos mas que, algum dia ela ia levá-los dali. Como o passar dos dias, o passeio da familia de gatos se tornou mais rotineiro e outra dúvida surgiu com o João: Sempre que a gata andava pelo telhado com os gatinhos, tinha um que ficava prá trás. O que havia com ele? João então pediu a seu pai que arrumasse uma escada, queria ver os gatos de perto. João subiu na escada e assim que apontou no telhado os gatinhos se assustaram e começaram a correr e um deles se movimentava com dificuldade, tinha um defeito numa das patinhas dianteira e não conseguia acompanhar os irmãozinhos. Descobriu então que eram quatro filhotes.

E o que já se esperava, aconteceu. Certa manhã João ouviu o miado de apenas um gato. Sua família havia descido o telhado e o que tinha defeito numa das patinhas tinha ficado prá trás. Pediu então a seus pais para cuidar do filhote até que sua mãe viesse buscá-lo. Na cabeça de João, uma mãe jamais abandona os filhos e um dia ela voltaria e o levaria para perto dos irmãos. Desde este dia nasceu entre João e o gatinho uma relação de amizade muito forte, de parceria mesmo. Quando estava em casa era uma alegria só. Passavam horas e horas brincando, ora de se esconderem, ora de correr atrás de bolas de gude, para o gatinho era a diversão preferida. Certo dia enquanto almoçavam e sem perceberem , tinham deixado a porta aberta e o gatinho saiu para a rua. Depois que terminou sua refeição, João levantou da mesa para voltar a brincar com seu amigo e não o encontrou. João olhou para a porta aberta e percebeu que o gato tinha fugido prá rua. Tomou um susto daqueles, mas procurou se acalmar e chamou seu pai para procurá-lo. Andaram por várias ruas procurando e nada do gato, a aflição no rosto do garoto era visível, talvez o medo de perder para sempre seu grande amigo e nunca mais vê-lo. Cansados de procurar voltaram prá casa sem o gato. A tarefa dos pais de João agora era procurar consolá-lo e dizer que ele voltaria, em algum momento ele voltaria. Passou-se o resta da tarde e a noite daquele dia e o gato não apareceu. João estava triste, mas compreendeu que o gato talvez tenha saído para procurar sua família. E se não a tivesse encontrado, voltaria prá casa?

No dia seguinte João acordou ainda um pouco triste pela ausência do amigo, mas com esperança de naquele dia encontrar novamente seu parceiro de brincadeiras. Tomando o café da manhã com seus pais, de repente ouviu um miado ao pé da porta, João levantou-se com um brilho nos olhos e saiu correndo para abrir a porta. Para sua surpresa, estava ali o gato fujão – assim que João passou a chamar por seu amigo- que também demonstrava alegria em voltar prá casa. João percebeu também que em certos momentos o gato fujão parecia triste, alheio com as coisas ao seu redor. Poderia ser que, apesar de bem tratado por João e sua família, esteja sentido falta de sua mãe e irmãos, enfim de sua família verdadeira. Foi num domingo a tarde, seus pais sentados na calçada, ele e o gato fujão fazendo estripulias na rua. Como todas às vezes se divertiam bastante. Próximo dali, na esquina surgiu uma gata e três filhotes. O gato fujão ao avistá-los soltou um miado alto e forte, ficou em pé e de lá sua mãe respondeu com outro miado. O gato fujão olhou firme para João por alguns segundos e depois para sua família e saiu correndo – era engraçado vê-lo correr, quase que com uma mãozinha só – ao chegar perto sua mãe cheirou-o e em seguida saíram todos juntos caminhando pela calçada. As lágrimas brotaram nos olhos de João, ele compreendeu que agora sim, seu amigo tinha ido embora de vez. Mas seu coração transbordava de alegria, enfim, tudo tinha tido um final feliz e ele com a certeza que tinha ganhado para sempre um grande amigo, chamado de gato fujão.

Para meu filho João Henrique 28/05/2017 Inhuma- PI

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 26/10/2018
Reeditado em 31/10/2018
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