MENINOS DO CASTELO DE AREIA

MENINOS DO CASTELO DE AREIA

Assim que a sirene anunciou o início do intervalo na escola, os colegas da turma de Caio saíram para o pátio eufóricos. Tinham recebido a notícia pela professora que o amigo deles, estaria retornando à cidade naquele dia. A alegria foi geral. Caio de certa forma fazia falta na turma, era ele que cativava a todos, tomava a iniciativa das brincadeiras, fazia as pazes quando de alguma desavença entre os amigos. E haviam três meses, desde as férias de julho, que Caio estava afastado da escola. Durante as férias de julho a escola tinha organizado uma excursão à praia. Caio e outros colegas de turma da escola que ainda não conheciam o mar, estavam bastante entusiasmados com o passeio. Enquanto não chegava o dia da viagem, ficavam imaginando a diversão que fariam: correr na areia da praia, pular sobre as ondas e a bola que não poderiam esquecer de levar.

Acompanhado de seus pais entraram no ônibus, ansiosos que as oito horas de viagem passassem logo. Durante a viagem as crianças iam admirando a paisagem pelo caminho através das janelas do ônibus, a noite estava clara com a lua cheia no céu e eles não conseguiam pregar os olhos. Seria apenas um dia de praia e eles queriam aproveitar o máximo. Chegaram ao destino com o dia já claro. Desceram do ônibus, ajudaram a retirar e guardar as bagagens no hotel. De onde estavam ouviam o barulho do mar e sentiam o vento do litoral tocar seus corpos. As crianças sentiam uma sensação de alegria indescritível, chegaram a afirmar inclusive que não estavam com fome. Compreensível que eles não queriam perder tempo com o café da manhã, mas eram crianças e precisavam antes se alimentar. Quando chegaram em frente a praia, já em trajes de banho e protetor solar no corpo, não resistiram e saíram em disparada em direção ao mar, queriam pular a primeira onda e sentir a água, que os adultos diziam ser muito salgada. Os pais acompanhavam os filhos de perto e sentiam-se contagiados pela felicidade das crianças meio desajeitadas, ora pulando as ondas, ora mergulhando por baixo delas.

Passado algum tempo seus pais decidiram que era hora de saírem da água e ir as barracas merendarem e beber um pouca de água mas, mesmo com muita insistência não conseguiam retirar as crianças. Caio que além do carisma natural de sua personalidade, apresentava também um espirito de liderança e foi ele quem convenceu a todos a saírem da água e irem para a areia jogar bola. Afinal, faziam parte do mesmo time na escola e no final do ano estariam participando de um campeonato, com times nas suas faixas etárias, entre as escolas do município. Correram muito pelas areias da praia jogando bola e retornaram para o mar, e depois de outro banho divertido, como tinham combinado antes da viagem, seguiram para a areia e foram brincar de montar seus castelos de areia como tinham visto na televisão. Despediram-se do mar com o último mergulho nas ondas, era chegada a hora de retornarem para casa.

Chegaram com o início da madrugada e Caio foi um dos primeiros a descer do ônibus e ao atravessar a rua sem olhar para os lados, uma moto em alta velocidade atingiu suas pernas. Caio ficou três meses na capital se recuperando do acidente e retornava justamente no dia da decisão do campeonato e seu time estava na final. Ele não tinha condições de participar ativamente da partida, mas seus colegas da escola faziam questão que ele estivesse junto com o time na quadra.

Ainda durante o intervalo na escola, os meninos se reuniram no pátio e planejaram como fariam para receber seu amigo. À noite o ginásio esportivo lotado, com as torcidas organizadas dos dois times, esperava a entrada dos times na quadra. Primeiro entrou o time adversário e para espanto de todos em seguida surgiu a equipe castelos de areia – os meninos tinham feito o pedido a organização do evento para mudarem o nome do time para homenagear o amigo – na linha de frente vinha caio uniformizado seguido de seus companheiros, ele ainda usando um arrimo embaixo do braço como apoio para caminhar. Uma comoção geral invadiu o ginásio com aplausos e gritos de apoio a Caio. Definitivamente, era uma criança muito especial. Caio ficou junto com os reservas de seu time apoiando da forma que podia. Os minutos de jogo foram passando e o time de Caio perdia com um gol de diferença. No último minuto de jogo, o time de Caio num lance de ataque é marcado pênalti a favor de seu time. De repente, algo inusitado tomou conta do ginásio: começaram a surgir gritos de Caio! Caio! Era espetacular o que estava acontecendo, inclusive a torcida a adversária, todos de pé, aplaudindo e gritando seu nome. Era o pedido para que Caio fosse fazer a cobrança do pênalti. Um campeonato de futsal com crianças, tudo clima de festa. E foi Caio caminhando com o apoio do arrimo em direção ao gol adversário, colocou a bola na marca de pênalti, olhou firme para o goleiro e chutou. Gol de Caio e jogo empatado. Os jogadores, dos dois times, correram para abraçar e comemorar o gol com Caio. Nas arquibancadas, lágrima em muitos rostos emocionados com a atitude das crianças. O juiz apitou o final do jogo. Não haveria um só campeão naquela noite. Foi o jogo da amizade, do respeito e do reconhecimento. Naquela noite, todos os presentes no ginásio, eram os verdadeiros campeões.

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 20/11/2018
Reeditado em 20/11/2018
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