A GINCANA (o grupinho da classe do Zezinho)

I

Algo não foi bem na escola. José logo notou. observou que o filho estava com a cara amarrada, com jeito de preocupado. Dias anteriores Zezinho sempre chegou animado, cor ar de satisfação, um sorriso largo, bem presente e notório no rosto, um olhar alegre nítido, como se a escola lhe fizesse bem. Um bem útil. Muito útil.

José logo quis saber.

- Que houve filho, que cara é essa?

- A professora! - Respondeu.

O pai ficou surpreso, espantado. Como também a mãe, que no momento escutara a conversa e não entendeu a seca resposta do filho.

- Não entendemos filho - Falou ela - Você botava a professora no céu, dizia que ela era muito boa,, boazinha. enfim! que ensinava muito bem, que estava gostando dela, adorava a maneira dela passar e expor as atividades.

- Tá bom, tá bom - Falou José - Tenho que ir trabalhar, logo mais a noitinha vamos analisar direitinho essa conversa.

Maria sentiu-se um pouco incomodada, mas, não quis entrar em detalhes, achou melhor aguardar a presença do marido. Assim poderia ouvir melhor o relato dessa possível complicação que o filho trouxe da escola. A noite as dúvidas e o susto que Zezinho provocou iriam ser esclarecidos.

E assim aconteceu. José abriu o diálogo

- Explica filho! Que houve com a professora?

- Com ela nada pai, é que inventaram uma tal de gincana, trabalho de equipe e veja só a equipe que ela me colocou: Jorge, George, Fatinha , João Bêu e Tatá.

- Que tem demais nisso? - Perguntou a mãe.

- Oh! Maria o deixe a vontade - interveio José.

Meio acanhado e temeros Zezinho continuou.

- Jorge e George dois bestão, só querem ser o que não pode, só porque o pai deles tem as coisas; Fatinha, lesada; João Bêu, aleijado; Tatá,, um nego véi doido.

- Pelo o amor de Deus Zezinho - Interrompe o pai - Não acredito no que está me falando.

- Nenhum deles gosta de mim.

- Tem certeza filho - É a fala de Maria - Ou é você que não gosta deles?

- Como é que vou gostar desses ai.

José ficou preocupado. Maria, mais ainda. E os dois ficaram horas e horas conversando. Era grande a preocupação para com o problema, que poderia ser pequeno, no entanto, acharam ser grande. Um grande problema.

José por não ter tempo disponível, deixou essa tarefa para Maria.

- Mulher, amanhã você vai à escola saber direitinho sobre esse assunto, quero saber tudo dessa história.

II

Dia seguinte Maria explica com detalhe, toda informação, ao marido.

- Como ela falou ser a tal da gincana que vai ter na escola.

- A professora explicou que a gincana vai trazer mais conhecimento, mais espirito de coletividade, ética, afetividade e companheirismo entre as crianças. pedi a ela que mudasse a equipe do Zezinho, ela falou que não podia, que fazia parte do objetivo. Algumas coisas até entendi, mas isso de ética coletiva, não ficou bem explicado.

- Pelo amor de Deus mulher, quer também me decepcionar, pedir a professora para mudar a equipe, isso nem pensar, quando ela falou de ética coletiva é para aproximar mais as crianças, ter mais afeto umas com as outras, saber se ajudar, trabalhar as diferenças, respeitarem-se uns aos outros independente de quem é, de como é, raça, cor ou meio social, se mora na roça ou na cidade,se é filho do empresário, do prefeito, um catador de reciclagem, ou até mesmo nosso filho.

- Oh! homem se é assim, me desculpe, eu quero que meu filho seja um cidadão educado, respeitado e respeitador.

Um momento de pausa e ficaram olhando um ao outro, matutando uma solução de como fazer entender e inserir o filho ao grupinho determinado pela professora.

- Deixa comigo - Falou José, quebrando o silêncio.

- Homem! pretende fazer o que?

- Vou à casa deles, quero conhecer todos.

III

José informou-se onde cada um morava. Por incrível que possa parecer, eram todos da mesma vizinhança, muitas vezes se cruzaram, só que José com seus afazeres nunca ligou nome as pessoas.

E foi a batalha. Saiu a visitar a casa de cada um deles. Ficou admirado a entrar a casas dos irmão Jorge e George, não só pela beleza da casa, pelo asseio, limpeza dos móveis e toda arrumação interior, mas sim, pela educação e trato que foi recebido. Os próprios garotos ao saberem ser opai de Zezinho tomaram logo a frente, lhe recebendo com total satisfação. Após explicar o porquê da visita, ficaram conversando por bastante tempo. aquele jeito de ser dos meninos deixou uma larga positividade.

Curioso perguntou José.

- Qual a relação de vocês alunos, na escola?

- Bom! - Respondeu Jorge - Começamos agora seu José, não deu ainda para conhecer todos, para ter melhor relação com a galera. O Zezinho, não sabemos por que, é todo por fora, parece que não gosta de se enturmar, mas entendo, nem todo mundo é igual.

- É o jeito dele mesmo - George entra na conversa - Ele não gosta muito do nosso grupinho, mas não se preocupe seu José, nossa equipe vai fazer de tudo para ser a melhor. Se não formos, que sejamos a mais unida, a com maior qualidade de aceitação nos trabalhos, de compreensão um do outro. Iremos ter dificuldade, mas, vamos superar.

Jose despediu-se satisfeitíssimo, levando dali um elevado conceito de família.

Realmente pessoas de um nives social bem diferente. Entanto pessoas de uma boa índole e caráter, com um nível de educação admirável.

Duas a três ruas depois moravam Fatinha e João Bêu. A recepção em ambas não foi tão calorosa, quanto a anterior, pois a simplicidade reinava naqueles ambientes.

A mãe de Fatinha passou logo todas as qualidade da filha.

- Seu José, apesar de sermos simples, essa menina é minha vida, esse jeito acanhado dela é assim mesmo, é seu jeito de ser, mas me ajuda em tudo, é a dona da casa. Saio para o trabalho ela toma conta de tudo, da casa e dos irmãos, ainda vai a escola e sempre acha um tempo para estudar, ainda me ensina o que aprende, com ela aprendi até contar e falar correto - E com olhos lacrimejando, continuou - Tenho pena da minha filha, por não poder ajudar, para que tenha um melhor futuro, o senhor sabe, mas não tenho marido, morreu de acidente. logo quando tive esse pequeno ai que o senhor está vendo. É nosso terceiro filho. "Coitado" ele gostava tanto dessas crianças. Quando Fatinha vai à escola, deixamos os pequenos com uma parente. ela se preocupa com os irmãos mais que eu. Diz que tem que me substituir, já que faço o trabalho de pai.

João Abreu, era o João Bêu, citado pelos meninos. Numa casa também simples José viu como é o amor paterno. Como aquela família dedica-se ao limite com a deficiência do filho.

Ao ser indagado sobre o menino, seu Abreu falou todo orgulhoso.

- A deficiência dele é só nos membros, seu cérebro diz que é o maior intelecto da família. Estar por dentro de tudo, apesar de sua pouca idade, sabe tudo: Matemática, ciências, tudo!... Atualidades, TV, novela, futebol. Se for cair na besteira de falar de seleção e copa do mundo vai ser assunto para não acabar mais.

A visita a Otávio, Tatá, foi totalmente diferenciada. Não conseguiu falar com os pais. não viu a mãe, e o pai estava totalmente bêbado.

- "Coitado!" - Pensou.

Um vizinho curioso, percebendo a presença de José, falou.

- Não me leve a mal seu José, já o conheço da rua e de outros lugares. Que mesmo o senhor deseja? Procura alguém? Alguma informação?

- Queria algumas informações sobre Tatá.

E descreveu detalhadamente toda a historia. O vizinho logo interessou-se pelo assunto.

- Tenho pena desse garotinho, o pai dele é isso que você está vendo, fino cachaceiro, alcoólatra de carteirinha, a mãe coitada uma pomba lerda, não tem domínio para com ele. Reflete no pequeno. Mas, todos aqui gostam dele, dizem que ele é maluco pelo jeito espontâneo de querer fazer tudo, se meter em tudo, não com maldade, sim, com o espirito de querer ajudar. tem um desejo enorme que seu pai pare com essa bebedeira. Não para em casa, acho que não suporta ver os pais nessas condições. Esse menino é muito bom, conhece todo mundo. admiro nele a solidariedade. Se vê um animal sofrendo na rua, sai procurando saber quem é o dono, se vê alguém pedindo esmolas, ele é capaz de dar o que tem, gosta de ajudar os velhinhos, dar recado, fazer favores, só quem o conhece sabe quem ele é. Aqui nos arredores todos gostam dele.

- Muito bom saber disso. E na escola como ele é?

- Gosta muito de ir a escola. Ele mesmo diz que a escola é que vai ajudar a mudar a vida de seus pais. A dele,diz que sabe conduzir.

VI

Após toda essa busca de informações dos companheiros de equipe do seu filho, José tirou uma conclusão que já sabia, porem queria certificar-se melhor: " Ninguém é incapaz, todos somos capazes, depende da determinação", outra conclusão foi bem dura de aceitar,que de todos o maior problema era seu próprio filho.

E algo martelava a sua cabeça: " Será se não soubemos educar nosso filho? Será se erramos na sua criação? Ou o quê? Que será que está errado?"

Ainda bem que ainda tem tempo para remendar ou concertar o que não deu certo.

Junto com Maria, José entrou com tudo nas tarefas dos garotos. Não para fazer e sim para nortear o trabalho, como buscar formas de abraçarem a coletividade.

Os garotos foram orientados a fazer suas reuniões , em reversamento à casa de todos eles, cada dia na casa de um, para que todos percebessem a realidade de cada um, Vivenciando o cotidiano um do outro, dentro e fora da escola. Isso seria a lição para saberem conceituar outro, ver cada um com suas realidades.

Logo nos primeiros dias José já sentia a diferença do filho, no comportamento, na dedicação e na vontade de realizar o trabalho coletivo.

O casal emocionou-se quando ouviu do filho:

- Pai, Tatá precisa muito de ajuda dos seus amigos, gostaria que o senhor fosse um dia junto como nosso grupo para falar com o pai dele.

- Tá filho! Depois encontramos um tempo e vamos ver o que podemos fazer.

Duas semanas depois, José chega do trabalho, ansioso para saber o resultado da gincana. Sentiu muito em não poder prestigiar. Desejava muito assistir, não por nota ou vitória. Queria presenciar o comportamento do filho.

- E ai filho como foi o restado das atividades?

- Tiramos o terceiro lugar, mas foi bom, na realidade as outras equipes mostraram trabalhos bem melhores que o nosso. Fomos muito aplaudidos, gostaram muito do nosso empenho, da coletividade, da doação da equipe, da amizade que criamos. Levamos o pai do Tatá, nada melhor que ele para falar do alcoolismo, ele é como vitima e prova pura dos efeitos do álcool. A sua fala emocionou todos. E eu pai ganhei um monte de amigos. Na realidade fomos os mais aplaudidos, apesar do resultado. Todos nos abraçavam , isso me deu um novo conceito para com meus colegas, não só com meus colegas, mas, para com todas as pessoas. Eu quero em nome de todo grupinho agradecer a ajuda de o senhor e a mãe nos deu. E o grupinho está convidando não só o senhor, como todos os familiares de nossa equipe para uma confraternização. Escolhemos a casa do Tatá, vamos fazer uma surpresa ao pai dele e se Deus quiser , vamos tentar mudar a realidade deles. Não que seu pai deixe totalmente a bebida, que sua mãe mude seu jeito de ser, mas que pensem um pouco na família e no futuro de Otávio.

Luiz Viana
Enviado por Luiz Viana em 17/02/2019
Reeditado em 01/04/2022
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