Gustavo, uma viagem até Jesus

Era uma linda manhã de domingo, o sol já estava forte e Gustavo preparava-se para ir jogar bola com os amigos no campinho de futebol perto da sua casa.

Aos 7 anos, Gustavo é o filho mais novo da família Silveira. São 5 irmãos e os mais velhos já trabalham fora para ajudar nas despesas da família, por isso aos domingos preferem ficar em casa e descansar, além de ajudar os pais nos afazeres domésticos, pois sempre tem muito a se fazer, a família tem poucas condições financeiras e todos entendem que precisam ajudar aos pais no que podem.

Gustavo não entende muito bem essa situação e prefere ir jogar bola do que ajudar em casa.

No caminho para o jogo de futebol, Gustavo começou a pensar que o Natal estava chegando...

O que será que ele pediria de presente? Precisava pensar... quem sabe uma bicicleta? Quem sabe um vídeo game? Não, vídeo game não poderia ser, a única televisão da família estava estragada...

Já sei! Vou pedir um skate bem colorido e roupas de proteção, um lindo capacete e joelheiras!!

Isso, estava decidido, quando voltasse para casa, falaria com seus pais e faria o pedido que seu presente!

O jogo foi bem animado, conversou com seus amigos e se divertiu bastante.

Ao chegar em casa, Gustavo foi correndo falar com seus pais.

Eles estavam tentando consertar o telhado pois na última chuvarada havia ventado muito e algumas telhas racharam, o que estava causando preocupação pois se chovesse novamente, as goteiras molhariam e estragariam seus pertences. O pai de Gustavo comprou as telhas e estava trocando com a ajuda de dois dos seus irmãos pois não tinham recursos para pagar um profissional para consertar. A mãe observava da entrada da casa enquanto lhes servia água gelada, estava muito quente. A casa era muito simples, localizada na periferia da cidade. Os pais pagavam aluguel e isso era sempre motivo de preocupação porque todos tinham salários baixos e nem sempre conseguiam pagar todas as despesas.

-Mamãe, mamãe! Eu preciso muito falar com você e papai! Eu já sei o que vou querer de Natal! Eu quero ganhar um skate bem lindo! Quero também todas as coisas que preciso para me proteger ao andar com ele!! O que você acha do meu pedido? Não é um presente super legal?

A mãe olhou para Gustavo e sua expressão mudou... Como explicar a uma criança que nem todos os seus sonhos podem ser realizados imediatamente? Como fazê-la entender que existem prioridades e que nem tudo pode ser comprado quando queremos?

Ela pegou Gustavo pela mão e levou-o até a sombra de uma árvore ali perto. Colocou-o no colo e começou a conversar...

-Meu filho, você precisa entender que um skate custa caro e não temos como comprar... Precisamos pagar as despesas...

-Despesas, mas que despesas? Quis saber Gustavo.

-A comida, a conta da luz, o aluguel... E ainda precisamos comprar roupas às vezes, sem contar que podemos ter outras despesas, como comprar remédios se alguém ficar doente...

- Mas mamãe, eu tenho direito de escolher um presente! Todo mundo ganha presente no Natal! Por que eu não posso ganhar o que quero? Isso não é justo!

Gustavo começou a chorar e foi para dentro de casa. Não queria ouvir as explicações da sua mãe, estava brabo e queria ficar sozinho.

Sua mãe ficou triste, queria muito satisfazer os desejos do filho, mas ele precisava entender a realidade. Os pais nunca esconderam dos filhos que eram pobres e seus irmãos entendiam e se esforçavam para ajudar. Mas Gustavo era mais teimoso, custava a entender e sempre ficava irritado quando não faziam suas vontades.

Gustavo tomou banho e foi para o quarto que dividia com seus irmãos. Todos estavam na cozinha almoçando, mas ele preferiu não ir, estava triste e inconformado, queria seu skate...

Já no meio da tarde, Gustavo não aguentou a fome e foi até a cozinha ver o que tinha para comer. Sua mãe, amorosa e compreensiva, quando viu Gustavo, apressou-se para esquentar a comida e serviu-lhe um prato. Gustavo sentou e comeu em silêncio. Sua mãe respeitou e achou que o filho pensaria melhor e logo estaria bem novamente.

Quando anoiteceu, Gustavo ainda estava brabo e de cara fechada, não queira falar com ninguém e achava tudo muito injusto. Seu pai, vendo que ele estava assim, questionou a mãe e essa lhe explicou tudo. O pai resolveu conversar com Gustavo pois sabia que o filho precisa entender tudo.

-Filho, você sabia que o Natal não é apenas para ganhar presentes? Sabia que nessa data comemoramos o nascimento de um menino de muita luz que veio nos ensinar sobre o verdadeiro amor?

-Eu já ouvi essa história na escola e não quero entender! Quero meu skate, isso sim provaria que vocês me amam!

Gustavo saiu batendo a porta do quarto e foi dormir, estava chateado demais para ouvir os pais. Chorou muito antes de pegar no sono.

-Ei, Gustavo! Gustavo, Gustavo!

-Quem é você?

-Sou uma coruja que mora na floresta!

-Animais não falam! Corujas não falam!

-Pois eu falo! E mais, eu vou levá-lo para conhecer um lugar! Venha comigo!

Gustavo não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas estava curioso e resolveu seguir a coruja...

-Que lugar é esse, onde estamos?

-Aqui é a casa de um casal muito especial...

Gustavo e a coruja podiam ver tudo o que se passava, mas as pessoas não os viam...

Era uma casa bem simples e lá morava um casal. A mulher estava grávida, tinha uma barriga bem grande e logo deveria nascer o bebê...

-O que eles fazem, por que estão arrumando uma malinha? Eles vão viajar? Quis saber Gustavo, curioso e cada vez mais interessado no que acontecia...

-Eles farão uma viagem até outra cidade para participar de um censo, uma contagem das pessoas.

-Mas onde está o carro deles?

-Eles vão viajar com a ajuda de um burrinho que vai carregar a mulher e os seus poucos pertences. Eles são muito pobres e simples. Mas não reclamam nunca e confiam em Deus, nas suas vontades.

-Deus não é bom para todos. Alguns são pobres e não conseguem tudo o que querem.

-Gustavo, Deus é bom o tempo todo, nós é que nem sempre entendemos... Um dia, um anjo visitou a Maria e explicou para ela que através do seu ventre, da sua barriga, viria à Terra um menino muito especial que teria a missão de ser nosso guia e modelo. Esse menino teria Maria como mãe e José como pai. Cresceria num lar simples, mas muito harmonioso e de muito amor. E esse menino está aí, na barriga dela, logo vai nascer...

-Quem sabe esse menino vai trazer dinheiro para todos!

-Vai trazer riquezas, mas não as riquezas que você está pensando!

-Já sei, ele vai trazer ouro e pedras preciosas que poderemos vender e comprar o que quisermos!

-Não, Gustavo. Ele vai nos trazer o conhecimento das verdadeiras riquezas, que são as do coração! Vai nos ensinar que devemos amar a Deus e aos nossos irmãos. Que a vida não acaba com a morte do corpo e que quando partimos da Terra, vamos para o mundo espiritual, que é nossa verdadeira casa. E para lá não levaremos o dinheiro e nem o ouro, e nem nada que pudermos comprar aqui, inclusive um skate...

Gustavo não entendia muito bem o que a coruja queria lhe dizer mas começou a pensar que talvez tivesse sido muito rude com seus pais. Ficou envergonhado da sua atitude e achou melhor não contar à coruja.

-Nós vamos viajar com eles?

-Sim, vamos acompanhar os dois nessa jornada e você poderá observar cada detalhe!

Amanheceu, José e Maria saíram em viagem. Gustavo e a coruja foram atrás, conversando e observando tudo.

A viagem não foi nada fácil, durou dias e o calor muitas vezes fez com que os dois parassem para descansar e se proteger do sol forte.

Gustavo pôde perceber que apesar das dificuldades que encontraram no caminho, o casal era muito forte e aceitava com resignação toda a realidade. Eles eram serenos e pacientes, como seus pais...

Quando chegaram à tal cidade, foram logo procurar em lugar para passar os dias pois Maria logo teria seu filhinho nos braços e precisavam estar acomodados.

-Essa cidade chama-se Belém e está assim cheia de pessoas porque todos precisam participar da contagem. Explicou a coruja para Gustavo.

Maria e José foram à várias estalagens, que era como chamavam os hotéis naquela época, mas não encontraram onde se hospedar. Passaram o dia todo procurando e nada. Já no final do dia, cansados e sem saber o que fazer, ao receber mais um não de um dono de estalagem, ficaram preocupados pois não sabiam onde dormiriam. O dono da estalagem, vendo que Maria estava prestes a dar à luz, ficou com pena dos dois e ofereceu a estrebaria para os dois passarem a noite.

-Estrebaria? O que é uma estrebaria? Quis saber Gustavo.

-É como chamam o lugar onde colocam os animais durante a noite, para se abrigarem do frio e das chuvas.

-Mas eles vão dormir com os animais?

-Sim, vão dormir ali, com os animais. Mas estão conformados pois não dormirão ao relento, no frio da madrugada.

Gustavo abaixou os olhos e agradeceu por ter uma casa, um lar e uma família. Ficou mais uma vez envergonhado e lembrou que já havia visto na sua cidade vários moradores de rua, pessoas que não tinham o que comer e nem roupas para vestir. Ele tinha tudo isso!

Gustavo estava sem sono e resolveu ficar acordado para ver o que aconteceria, se o casal ficaria bem. Ele e a coruja ficaram conversando e Gustavo quis saber mais sobre o menino que iria nascer.

A coruja lhe contou que quando esse menino crescesse, faria muitas coisas boas para as pessoas, ensinaria, através de parábolas, que era como chamavam as histórias, que devemos amar e respeitar a todos. Ele também curaria muitos doentes e daria muitos exemplos de como devemos ser e como devemos tratar as pessoas, por isso ele seria considerado o guia e modelo da humanidade.

-Ah, mas nós não somos como ele, não podemos fazer tantas coisas pelas pessoas! Retrucou Gustavo.

-Mas se nós nos esforçarmos para evoluir, um dia seremos tão bons quanto ele, Gustavo. Basta seguirmos seus exemplos e acima de tudo aprendermos a amar e respeitar a Deus e nossos irmãos, pois somos todos irmãos, filhos de Deus, que é Pai de todos pois nos criou e nos ama infinitamente.

Gustavo começava a entender o que a coruja queria lhe dizer, esse menino era muito importante...

De repente, uma estrela cruzou o céu e Gustavo percebeu que o menino estava nascendo!

Ali, no meio de animais, com uma caminha improvisada numa manjedoura, com palhas e folhas secas, nascia um lindo menino...

Gustavo sentiu uma energia especial se espalhar... O clima era de muita paz e alegria. Um perfume de flores se espalhava por todos os cantos e podia-se sentir que uma nova era se iniciava. O nascimento do menino trazia esperança e confiança ao mundo!

-Já sei! Esse menino é Jesus!

-Sim, Gustavo. Esse menino que acaba de nascer é Jesus e hoje é Natal. E por sabermos da importância da chegada dele na Terra é que comemoramos todos os anos o seu nascimento. E trocamos presentes para ficarmos alegres entre aqueles que amamos. Mas o verdadeiro motivo do Natal não é trocar presentes e sim comemorar o nascimento de um irmão mais velho que aceitou vir até nós para nos ensinar o Amor.

Gustavo abriu os olhos, já era de manhã e podia ouvir sua mãe na cozinha preparando o café para todos. Ele percebeu que tivera um lindo sonho e que aquela coruja havia sido enviada para lhe ajudar a entender o que se passava e os sentimentos que ele tinha dentro dele.

Gustavo levantou-se e correu até a cozinha. Abraçou a mãe bem apertado e pediu desculpas pelo seu comportamento.

-Desculpe, mamãe. Eu entendo que nem sempre ganhamos o que queremos e que devemos valorizar o que temos pois sempre existem coisas boas nas nossas vidas. Temos a nossa família, somos saudáveis e fortes, podemos trabalhar e estudar. E se nos esforçarmos, poderemos fazer um futuro melhor e quem sabe um dia, comprar as coisas que queremos, mas sempre valorizando as coisas que realmente são importantes, as do coração. E essas eu já tenho, pois conheço o amor e a amizade, aqui na nossa família e entre meus amigos. Eu já sei que quando chegar o Natal, estaremos felizes pois estaremos unidos, mesmo que com algumas dificuldades, com pouca comida e sem presentes.

A mãe de Gustavo o abraçou e deixou caírem as lágrimas, estava agradecida a Deus por seu filho entender o verdadeiro significado do Natal.

Gustavo tomou café e saiu para ir à escola. Enquanto caminhava, olhou para o céu e fez uma prece a Deus. Agradeceu por tantas dádivas na sua vida e pediu proteção para ele, sua família, seus amigos. O próximo Natal seria especial, Jesus já havia nascido no seu coração!