Cebola branca

Uma mãe já aflita com seu recém-nascido nos braços em pós-parto normal. O pai com nervos à flor da pele via o bebê a poucas horas que nasceu, levar as palmadas para puxar o ar que agora lhe daria a autonomia do sopro pulmonar, choro contínuo, estranhoso e preocupante enquanto era limpado a banho morno e embrulhado em panos limpos e corados no anil.

O chorinho, -dizia a parteira que ia parar, mas demorou. E outro sinal pleno das exigências do corpo falhou. Foi o que deixou todos aflitos.

- Dá o peito comadre - orientou logo a parteira.

E aquele fungado do menino incomodado que somente os pais sabiam entender que não estava bem prologou-se mais.

- Mama, mama meu filho, pega o peito.

Parto sucedido perfeitamente, a mãe do corpo se posicionava ao normal, ainda atônita a mulher se recuperava dos esforços puerpérios, porém atenta, observante ao frágil novo fruto.

O afeto maternal foi dando um certo consolo, mas seguindo os ponteiros do relógio, deram conta que ficou um sinal do nascido vivo que não fora visível.

Por volta da parte do dia, o olhar paternal e da puérpera mãe perceberam que o quinto herdeiro vivo na genealogia não estava são.

O retorno do chorinho com buáááá intensificando mais e mais incomodou uma comadre vizinha que muito sábia e experiente veio fazer uma visita de urgência, pois sentiu-se na obrigação de ajudar.

Chegando, tomou ciência do que passara por ali. Ouviu a fala da parteira Raimunda Algodão e adentrou ao quarto.

- Boa tarde, comadre, o que está acontecendo com este menino?

- Boa comadre, me ajude!

Pegando-o pelas palmas das mãos, pôs na cama, abriu a boca, os olhos, esticou-lhe as pernas, apalpou o abdômen, sentiu o volume da bexiga elevado e astuciosamente percebeu a obstrução da via uretral, um fechamento na saída e o desconforto e dor agora se resolveriam.

Um massagear delicado deixava o menino excitado pela primeira vez.

A mãe acompanhava e acalentando ele, ouvia a comadre Domingas que enquanto massageava o órgão pueril descrevia o porquê do desconforto. E sabiamente ia cuidando em sanar o mal dos corações dos pais, da parteira que dali não arredara jamais.

O buáááááááá prolongado, a impaciência dos pais, e a astúcia dos remédios caseiros fizeram com que a comadre Domingas pensasse e que logo perguntou:

- Tem cebola branca, comadre?

- Tem Chico?

-Tem.

-Pega lá compadre.

Agora a esfregação traria mais desconforto e ardor.

A comadre foi lentamente esfregando, a cebola na ponta ereta do membro macho. E o choro foi se intensificando, o cheiro da cebola alastrou o recinto do nascituro e da mãe aflita.

E naquele passa, passa veio fortemente um jato duradouro de urina que lavou o rosto de Domingas. Foi um susto, foi um alívio, uma alegria do menino sufocado que logo dormira enrolado em panos corados no anil.

Tia Domingas viu crescer seu filho mijão e ele cresceu sabendo do bem que ela o fizera e com muito amor sempre agradecido e respeitosamente a tratava como uma mãezona. Dia 1º de dezembro de 2021, Tia Domingas partiu, foi cumprir sua missão onde não há dor, tristeza de desilusão. Um dia nos veremos, por enquanto fica por cá, eternizada no meu coração.

Walter Berg

WALTER BERG
Enviado por WALTER BERG em 02/12/2021
Reeditado em 03/04/2024
Código do texto: T7398599
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