O navio na floresta
Era uma vez um menino chamado Cyprian Paticcaadia.
Em um dia ensolarado de verão, como tantos outros na ilha Niccaadia, Cyprian passeava pela praia quando o som de uma sirene de navio começou a ecoar ao longe.
Sem saber o que estava acontecendo, Cyprian continuou andando por alguns minutos. Então, avistou ao longe um navio entre as árvores. “Certamente perdeu o rumo e encalhou”, concluiu Cyprian.
Sem hesitar, Cyprian se aproximou do navio e, ao chegar perto, ouviu alguém gritar: “Socorro, socorro, tem alguém aí fora?”
Ao ouvir o grito, Cyprian congelou por um instante, com as mãos úmidas de suor. Por um instante, o medo o fez considerar fugir, então, respirou fundo e decidiu enfrentar o desconhecido.
Mesmo sem conhecer quem pedia socorro ou vê-la, Cyprian sentiu seu coração acelerar ao ouvir aqueles gritos. O brilho de seus olhos refletia o desejo de ajudar.
Espantado e sem saber exatamente o que fazer, Cyprian começou a compreender lentamente que o certo a ser feito seria ajudar todos a saírem do navio. Sem perder tempo e com muita determinação, ele afastou os galhos das árvores e abriu um caminho para todos saírem.
Antes mesmo que a primeira pessoa saísse do navio, Cyprian foi até o Capitão — um jovem marinheiro robusto que, anos mais tarde, se tornaria um pirata com um tampão preto sobre o olho esquerdo e um cachimbo apagado no canto da boca, navegando mundo afora em um barco adornado com bandeiras coloridas.
— Garoto, você apareceu na hora certa! Como soube que estávamos encalhados? — perguntou o Capitão, com um olhar preocupado.
— Eu estava passeando pela praia quando ouvi a sirene. Depois, vi o navio preso entre as árvores. Não pude ignorar — respondeu Cyprian, ainda ofegante.
— Agradeço por sua coragem. Mas, e agora? Como faremos para sair daqui? Precisamos de combustível e comida. Estamos perdidos nesta ilha — disse o Capitão, com um suspiro de alívio.
— Não se preocupe. Já organizei a fila para desembarcar todos em segurança. Conheço bem essa ilha, posso buscar suprimentos para vocês — respondeu Cyprian, confiante.
— Você é um jovem surpreendente, Cyprian. Como planeja conseguir tudo isso? Os suprimentos, o combustível... Isso é trabalho para um adulto! — disse o Capitão, impressionado.
— Não estou sozinho. Meus amigos elefantes-marinhos vão ajudar a empurrar o navio quando estiver tudo pronto. Quanto ao combustível, há uma cidade não muito distante. Posso atravessar a floresta e voltar a tempo. Mas ninguém vai cortar as árvores para o navio sair. Prometo — disse Cyprian, sorrindo.
— Elefantes-marinhos, é? Nunca pensei que contaria com animais tão... grandiosos. Mas não posso deixar que você vá sozinho. A floresta é traiçoeira — disse o Capitão, surpreso.
— Não dê importância a isso, Capitão. A floresta pode ser densa, mas eu a conheço como a palma da minha mão. Volto antes do anoitecer com tudo que for preciso — respondeu Cyprian, sereno.
— Muito bem, Cyprian. Vou confiar em você. Mas saiba, meu jovem, que você tem mais coragem do que muitos homens que já navegaram comigo — disse o Capitão, com um olhar de respeito.
— Eu só faço o que é preciso, Capitão. E se precisar de mais ajuda, basta chamar. Os elefantes-marinhos e eu estaremos por perto — disse Cyprian, com um sorriso discreto.
As primeiras a descer foram as mulheres com bebês de colo, seguidas das velhinhas e dos velhinhos, depois as crianças maiores e, por último, as mulheres e homens adultos. Entre as famílias, Cyprian reconheceu logo a da amiguinha da escola, Ivy Nerys.
Após todos saírem do navio, Cyprian ouviu algumas crianças reclamando de fome e sede, pedindo biscoitos recheados e refrigerantes e outros alimentos industrializados.
— Estamos com fome! Queremos biscoitos e refrigerantes — gritaram as crianças.
— Biscoitos? Refrigerantes? — Cyprian fez um gesto de reprovação. — Aqui só temos comida de verdade, meus amigos.
Chateado, Cyprian explicou que ali perto, na floresta, só havia comida de verdade, como banana, laranja, mamão, leite e ovos, e na praia, água de coco.
Imediatamente, Cyprian distribuiu toda a comida que tinha para as mães alimentarem seus bebês: uma garrafinha com suco de cenoura e laranja, um sanduíche de pão caseiro com atum e alface, e duas fatias de bolo de banana com aveia. E com a ajuda de Ivy, ensinou a duas crianças mais velhas, Paulinho e Bruninha, onde seria fácil achar comida saudável, logo ali, bem pertinho.
Enquanto as crianças comiam, os adultos se organizavam para abrir caminho a qualquer custo para o navio poder partir. Percebendo essa situação, Cyprian impediu que cortassem as árvores e prometeu que o navio partiria com segurança assim que fosse reabastecido. Ele sabia que seus amigos elefantes-marinhos ajudariam.
Após coletar dinheiro de todos e se manter leal ao Capitão, Cyprian partiu para a cidade mais próxima para comprar suprimentos e combustível. No caminho, teve que atravessar rios e escalar montanhas, mas não desistiu. A vegetação densa tornava a jornada cansativa, mas Cyprian estava determinado a completar sua missão.
Enquanto avançava pela floresta, Cyprian sentia o coração bater mais forte, não de cansaço, mas de ansiedade. Será que conseguiria encontrar o que precisava a tempo?
De volta, já com o navio abastecido, Cyprian e seus dois amigos elefantes-marinhos, com a ajuda da tripulação, conseguiram empurrá-lo de volta ao mar.
Sem que Cyprian percebesse, todos os passageiros e tripulantes se reuniram, ergueram as mãos e, em uma só voz, gritaram: “Viva Cyprian! Viva Cyprian! Viva!”
Cyprian e os elefantes-marinhos, com os olhos úmidos de tanta emoção, agradeceram e se despediam de todos.
Quando a noite começou a cair, Cyprian observou com alegria o navio seguir sua rota pelo mar, até desaparecer no horizonte.