BARBEIRAGEM

Sob a proteção de um papel oficializado, o homem de

bisturi na mão tenta convencer a uma irritada senhora,

de que seu marido não é mais passível de dor: Foi o

seu quisto que reagiu fora do comportamento normal,

na mesa de operação, diz o médico. Nas mesmas pro-

porções um trabalhador, pela cartada do apêndice, te-

ve os tecidos da barriga destruídos; esta é hoje como

um bolo fofo cheio de flacidez a se queixar dos graus

colados nos brilhantes, que assumem o direito de de-

florar a virgindade dos corpos ao amém dos porretes

dos martelos dos juizes. – Descontrolada, a paciente

pulou da mesa, saiu correndo de camisola e tudo,

quando já quase envolta pelo cheiro do desmaio, sus-

surrando discutiam os médicos: “ É piloro!.. Não!...

É hipófise!...” As fotografias não definiam o que de-

veria ser extirpado. – Entre duas crianças, uma foi o-

perada das amídalas, outra de fimose. Foi retirado

de uma o que devia ser retirado da outra.

À luz da barbeiragem decidiram que ambas perderiam

a fimose e as amídalas por necessidade de expli-

cação aos pais. Barbeiros iguais a estes a profissão es-

ta cheia, que digam os hospitais públicos.

Zecar
Enviado por Zecar em 12/05/2005
Reeditado em 01/07/2016
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