Um novo destino

A janela sorriu tecendo pássaros azuis sobre o ipê que flori alourado, enquanto a mão do destino fiava no horizonte uma rede, costurados céu e mar, recheada com os sonhos da Bianca, que, após a chuvisco de contas de lágrimas, debruçou su’alma no canto da janela perdida no ir sem fim, entreaberta ao som melodioso de chuva chorada, desfiava as linhas do horizonte, inventando a linha do seu destino a rolar: nas bordas seu destino sonhado, no interior leves pinceladas da falésia da vida.

Bianca menina, rolinha travessa rolando na tarde, segurou pelas beiras a noite que protelava suas penumbras negras; embora seu pensamento entardecia ao cheiro de brisa cansada, a noite não chegaria sem realizar seu sonho, que era ser o próprio fio de seda unindo céus e mares, aranha inocente, fiandeira dançando e arrastando a fumaça da chaminé a assomar nuvens de algodão.

A mãe de Bianca escondida n’algum ponto escondido e mal traçado, costurava reciprocamente a mesma rede, colocando-se e à própria desaparecida, no roteiro desse tema chorão que nas lágrimas da tarde enfadonha rolava.

Sonho crescendo, sonhos engordando a rede que se esvaia no pranto de ambas entre seus próprios fios arrebentados, fertilizaram de tal forma o sonho que as imãtizava, que choveram emoções perfumadas e ungidas pelo amor abençoado, onde cada qual, mãe e filha anulando-se em prol da amada, esticaram suas mãos em busca obstinada.

Beiradas de cima e de baixo transfiguravam o rugido da chuva em beijos estalados que tocavam o etéreo e duma fé inquebrantável, verdadeiro maná de sentimentos puros espargia aproximando-as pelo toque de mãos e mentes.

E se fez a noite sem prata, pois o ouro eternizava o momento de encantamento; e linda e reluzente a noite ensolarada que sacia sonhos da alma, emoldurou o cenário há tanto tecido, para unção dos pedaços de amor rasgados! E entre céus e mares ecoava um uníssono cantar “mamãe” - “filhinha”, sem parar, entre risos soluçados que no amor dessedentaram.

Bianca brilhava mais que o sol, assomando os brilhos da mãe -jamais noite escura de sonhos chorosos, apenas a realização que um sonho concretizara, ou a materialização de um forte desejo que se materializava no sonho eterno.

Seria sonho o encontro das duas almas?

Que importa, afinal a felicidade chegou para ambas, eternizando o momento do desabrochar almejado, que flori jardins dentro da alma, fiando com flores alvas o novo destino rascunhado n’alma e assinado por Deus.

Santos-SP-05/07/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 05/07/2006
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