Conto do Tonhão
Tonhão era fã da inveja. Via-a como pratos de trigo a serem devorados por milhares de famigerados tigres – alguns com suas listras tão brandas, que seu valor fora intuído erroneamente.
Dos amores que prezou Tonhão, três nunca foram seus e, dois pela inveja perdeu.
Pobre enfermo! Não conseguia andar pelos próprios trilhos, vivia amargurado, distante da satisfação; era um na mão e muitos com espeto de pau desfilando atrás do ferreiro.
Mas, Tonhão tinha amigos... Ah, tinha! Todos da mesma cor, alaranjados. Diz-se popularmente que o excesso de inveja não é mais capital, é interior do estado vegetativo: dá-se passos para dentro de si próprio (isso deve doer!).
Ah, os amigos! Pedrão, João e Prepúcio, leais e intransferíveis. Adotavam postura de capitanias hereditárias, com o Rei Tonhão à frente da multidão.
Certa feita, quiseram os três mosqueteiros surpreender a realeza – enfadados por viverem secionados e à parte da sociedade. Três letras de seus repertórios, extinguiram. Cada um, deu sua valorosa colaboração.
Coitado do Tonhão! Morreu do coração ao ler o posto no papel de amarela seda: Digníssima Inveja, Vossa Excelência Compaixão e Mui Respeitoso Perdão.