OBSERVAÇÕES DO TEMPO DO AGORA - UM MICRO CONTO

Se eu também tivesse o nome de uma árvore eu também plantaria uma “exemplar de mim”, mas, se tivesse plantado uma, assim como o fez a minha amiga que tem o nome de uma árvore, eu a teria visto crescer o seu pouquinho a cada dia e não me surpreenderia um dia exclamando como ela cresceu!

É que eu sou telúrico, um humano mimético com a Terra que a minha fração orgânica tem a mesma sintonia com a freqüência do planeta e a mente de Gaia conversa comigo e me conta os seus segredos de criar e devorar enquanto me empresta o seu olho azul para espiar o universo a sua volta.

Um dia o silêncio a surpreendeu em pleno jardim e na vertigem ela viu além e aquém do tempo, viu a sua árvore crescida e fez perguntas que chegaram a mim que ria da sua solidão por falta de sintonia, ela que não é telúrica e prefere o asfalto, anda de salto alto por dentro dos edifícios cheios da balburdia humana dos que não sabem de si; lhe respondi, então:

Amiga, a tua árvore cresceu em silêncio, sob o silêncio da Lua, primeiro bem de baixo do teu nariz e agora continua acima dos teus olhos... Tudo muda. Até o céu, que pensas que não muda, muda sim, mas não na velocidade limitada do nosso olhar: noutro dia eu vi as estrelas que já morreram e aquelas que nasceram e eu ainda não as vi...