POR CAUSA DE UM SONHO

Nesse dia, a mulher ficou radiante. O primeiro, desde que a tristeza ocupara suas intimidades. Desde quando o homem de seus sonhos sumira no rio, sem deixar nada no barco, além do molinete, o samburá, a lata de minhocas, a camiseta verde-amarela que usava em todas as pescas.

Um sonho a levara a entrar no quarto de despejo da casa, lugar antes proibido (fosse ela lá arrumar as tralhas, estaria atrapalhando a organização do marido). Sonhara que, naquele cômodo de coisas de pouco uso, havia uma arca do tesouro.

Não ansiava tesouro deste mundo, que o seu mais precioso bem a água sugara. À entrada, foi surpreendida com a visão de uma caixa grande de madeira maciça. Cismou de levantar-lhe a tampa. Queria conhecer o que seu homem seco, sem açúcar, sem afeto, guardara com resguardado empenho.

Encontrou pétalas secas de flores, papel de bombom, discos antigos, livros, cartas, bilhetes, ingressos de cinema........ coisas que fizeram parte de cada bom momento de suas vidas.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 10/09/2007
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