O manco e o modelo

Se encontraram no ponto, o manco e o modelo. O caminho para ambos tinha sido o mesmo. Quem observava não diria o mesmo. O modelo, com sua extensa experiência no palco, desfilava. Seu andar cheio de pretensão. Convencido, leve e sensual. Já, o manco, pesado, errante, desconcertante, pisava. Pé esquerdo, pé direito. Em um sacrifício singular. Não havia glamour, pretensão ou beleza. Era o mais puro andar animal - instintivo. Não queria nada mais que chegar ao seu destino. O modelo vinha atrás. O que será que pensava? A condição do manco lhe compadecia? Passara por sua cabeça mudar teu andar? Ou pelo contrário, estaria mais certo do que nunca de tal postura? Desejaria o manco andar com tal beleza e ensejo se pudesse? Ou estava confortável como manco? Afinal, com exceção da morte, não há mal com o qual não se consegue viver!?

Naquele ponto de ônibus, duas criaturas distintas se encontravam. Dois roteiros tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos. Ambos jogavam com os dados que lhe foram dados. Quem poderia culpá-los? No entanto, uma dúvida ainda resta. Pegariam eles o mesmo ônibus?

Já distante, não os via mais. Diria que sim: eles deixaram o ponto juntos.

Vicenti Lars Nasaka
Enviado por Vicenti Lars Nasaka em 15/10/2018
Reeditado em 31/08/2020
Código do texto: T6476800
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