PRÍNCIPE DESENCANTADO

A moça era modelo das mais requisitadas marcas do mundo. O pai, seu empresário, só aceitaria dar sua mão a um príncipe de rico reinado. Pois sim. A moça conhecia de tudo do melhor: de comer, de beber, de vestir, de bem viver, de viajar, de tudo. Num hotel de alto luxo da mais rica cidade do mundo, ela conheceu o sonhado consorte. Seria um príncipe dos Emirados. Podre de ouro negro. Possuidor de balneários e palácios.

O primeiro presente veio em forma de pérolas e brilhantes jamais vistos. Logo, chegou anel raro, que apressou a lua-de-mel. Se o homem tinha 48 anos e ela seus 21, não faria diferença. Ah! Palácios adornados com tapetes vermelhos, paredes pintadas a ouro, lustres de cristal, festas para grandes estrelas e magnatas do mundo! Quanta paixão! A única exigência do noivo era a comunhão universal de bens. Óbvio. A mulher amada deveria ser possuidora de todos os seus domínios e tesouros.

Passado pouco tempo, a lua-de-mel tornou-se de fel. Junto a suas arcas abarrotadas com vestes para todas as festas, jóias de cacos de vidro, a jovem esposa notou que a comida era trivial e escassa, o de beber era água nem muito pura e o solitário castelo sem único súdito, embora à beira-mar, era de proprietário desconhecido.

Assim, a garota reparou que seu príncipe beirando os cinqüenta tinha nariz comprido, poucos fios de cabelo na cabeça, hálito mal cheiroso, abdome proeminente, pouca estatura. E mais, conheceu que documentos e atestado de realeza que o príncipe apresentara para a realização da pomposa boda eram tão fictícios como os castelos que haviam lhe alimentado os sonhos. Em estado de choque, ela ainda não pôde entrar em contato com a família para contar-lhe o sucedido. Deitada na cama de casal, que havia pensado de ouro, numa ilha de língua muito estranha, ela se acha privada da lucidez necessária para tomar qualquer providência contra o seu príncipe desencantado.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 26/09/2007
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