NA SOMBRA DO MOSTEIRO

O relógio do Mosteiro de Santa Clara ecoou doze badaladas. A Irmã Faustina contemplava o céu nublado pelo frio, o vento de julho parecia não aquecer a doce mulher e o jardim iluminado pelas luzes dos postes, davam a certeza da tristeza que deixava imobilizada em oração ao som dos grilos a percorrerem o belo jardim. Ela havia passado um dia muito fatigado. De maneira alguma demostrou sua amargura para nenhuma das outras irmãs, e também não quis atormentar a Madre Superiora, Irmã Veridiana, pois, a abadessa era muito cândida, porém, rígida em sua conduta moral pela sua vida claustra como qualquer outra que adentra para vida religiosa.

Irmã Faustina fechou suavemente a janela da sua cela e a penumbra se deu iluminado por dua velas que estavam no final. Deitou-se na humilde cama, cobriu-se, não tirou suas vestes de freire, pois, a tristeza ainda a atormentava em Cristo.

A Rua João Alves de Lira era tranquila e, apesar do barulho do Parque do Povo em seus festejos juninos em reta final, não era algo que atormentasse a vida de todas enclausuradas.

As badaladas do sino interno do mosteiro chamava todas para as primeiras orações do dia, matinas, eram quase quatro horas da madrugada...Todas formaram uma fila para dirigirem-se para a capela para começar um novo dia. Amanheceu nublado, os pássaros assoviavam seu cantar, a missa das cinco havia terminado e todas iam para o refeitório em fila para o dejejum matinal com o sol entrando pelas frestas e depois, começarem suas atividades alegremente.

Na portaria, ficava sempre a Irmã Angélica, magra, singela em seu movimentos delicados. A cigarra tocou: 'Zimm! Zimm!' A porta abriu-se lentamente e um belo jovem apresentou-se:

- Bom dia, Irmã! - sorriso soslaio;

- Bom dia. - Olhou profundamente, continuou: - O jovem não pode adentrar. - Além da porta, tinha um portão de ferro, prosseguiu: - Em que posso ajudar? Veio da Igreja... - Foi interrompida.

- Não. - O rapaz logo afirmou sem rodeios: - Somos da igreja em frente.

- Ah! - Surpresa.

- Ficamos até tarde e percebemos que havia uma irmã na janela do primeiro andar.

- Como? - Irmã Angélica ficou surpresa e não exitou em perguntar: - Quem o que o cavalheiro viu?

- Uma irmã.

- Não há nenhuma Irmã acordada tarde. - Brusca, interrogou: - Diga-me o que realmente um mórmon deseja saber?

O rapaz informou que havia uma Irmã na janela do quarto. Descreveu toda situação. O caseiro do mosteiro aproximou-se. A Irmã ficou um pouco apreensiva.

- O que o cavalheiro está querendo me dizer, hum!?

- Uma irmã ficou parada na janela por quase três horas e depois...

- Não existe nenhuma irmã no quarto que o senhor apontou.

- Irmã Faustina!!! Ele disse o nome em voz alta, Irmã, acredite, sim?- O rapaz abruptamente como um louco sussurrou alto e calou-se.

- Céus! - assustada e surpresa. - Meu Deus!!!

- Que foi? - Perguntou meigamente.

Manoel, o caseiro, trabalhava no mosteiro há três décadas, respondeu: - Ninguém habita aquele quarto, é fechada há trinta anos.

Os olhos do rapaz congelaram de pavor. Irmã Angélica tremula fechou a porta. Seu Manoel acompanhou o rapaz até a saída. Uma chuva fina, cerrada, estendia seu triste véu cinzento sobre o mosteiro das Clarissas.

Sérgio Gaiafi
Enviado por Sérgio Gaiafi em 09/10/2019
Reeditado em 09/10/2019
Código do texto: T6765500
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