A DISTÂNCIA ENTRE NÓS (**)

Nessa hora, uma mulher está soltando na praia, à beira de um mar barrento, uma penca de balões de gás de todas as cores que acabara de comprar com o parco valor que recebera de acerto pelos seus últimos dias de trabalho naquela casa onde havia aplicado anos, anos e anos de sua miserável e iletrada vida.

Com efeito! _ Murmurava a empregada analfabeta. O diabo do moço surgiu de relance, pintado de bom e de letras. Casara-se com a filha da patroa de muitas posses. Pouco depois, não satisfeito com os carinhos da jovem mulher grávida, seduziu-lhe a neta, único ser que lhe restara de sua família. Um dia, sabendo-se pilhado, deu um jeito nas contas da sogra, de jeito que parecesse que ela, empregada de anos, anos e anos, nos quais desfrutara de inteira confiança, até mesmo do falecido melindrado patrão (de uma agulha até aos serviços bancários), houvesse lhe surrupiado valores. Valeu a tinta de bom e de frases do genro recente. Resta-lhe contemplar o vôo livre dos balões em direção ao infinito........

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 02/10/2007
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