O livro encantado

Na Rua da Esperança, pertinho da casa de Ana, ficava a Livraria Monteiro Lobato. O estabelecimento recebeu este nome em homenagem ao esmerado escritor de histórias infantis.

A Livraria pertencia ao seu João, homem sério, mas de um humor pra lá de bom. Conservava o seu estabelecimento ainda nos moldes antigos, aliás, até a sua forma de vestir tinha traços de uma bela época, os suspensórios imperavam, as calças de linho bem engomadas, os chapéus, então, eram sua marca registrada.

Todos os dias seu João recebia a visita de Ana em sua livraria. Ana era uma menina sábia, inteligente, obediente a seus pais, fiel aos seus amigos, zelosa nas tarefas escolares e gostava muito de ler. Passava horas olhando aqueles livros que enchiam as prateleiras de alegria. Havia algo que a deixava toda contente, era quando alguém escolhia um livro e depois saía com ele debaixo do braço, rumo a um grande caso de amor. Para a menina, cada um desses momentos significavam uma vitória, era como se registrasse no livro da sua mente quantos exemplares haviam saído naquele dia. E ela ficava toda empolgada e acompanhava os clientes com o olhar até sumirem na rua, dando adeus ao livro que deixava sua morada e agora iria habitar noutra, talvez boa ou não.

Seu João não sabia que em sua livraria havia um livro encantado, só quem tinha conhecimento da existência dele era Ana, por isso suas idas freqüentes à livraria. O livro encantado amava a sábia menina, assim como ela o amava. Eram muito unidos. Mas bem no fundinho do seu coração ela tinha receio de que alguém o comprasse. Entretanto, não havia perigo disso acontecer, afinal o livro estava naquele lugar há muito tempo, só tocado e apreciado por ela.

Apesar de os livros não poderem ser manuseados, para não serem amarrotados, seu João abria uma exceção para Ana em vista do enorme carinho que ela nutria por aquele lugar. Então, ela pegava o livro encantado, colocava-o nas pernas, acariciava-o e depois de enamorá-lo começava a folhear calmamente, página por página, apreciando cada letrinha, cada palavrinha que formavam as mais belas frases e que transmitiam um rico ensinamento. Naquele momento se iniciava uma linda história de amor. A menina ficava horas na mágica conversa, parecia que não tinha fim. Cada página tinha sua particularidade e encantamento, só levantava os olhos quando seu João tocava no seu ombrinho e anunciava que havia chegado a hora de fechar o lugar.

No outro dia Ana iria voltar, no outro também e assim a cada novo dia iniciaria um inédito diálogo com o livro encantado. Ela se despedia como quem se despede de uma pessoa. Fechava-o e colocava-o na sua casinha. No rostinho transparecia uma pontinha de tristeza e o coraçãozinho até batia mais forte.

Não se preocupe, Ana! - disse seu amigo encantado - eu ainda vou permanecer por muito tempo nesta prateleira porque a maioria das pessoas nem sequer me olham, elas não têm tanto carinho assim como você tem pela Palavra de Deus.

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Esta historinha é boa para ser contada nos encontros de catequese. Abre uma reflexão sobre o descuido e a falta de amor que a maioria das pessoas sentem pelas sábias palavras do Pai do Céu. Fará também com que os catequizandos reflitam sobre a maneira com a qual estão tratando os ricos ensinamentos deixados para nós. Se lêem diariamente ou se esquecem nas prateleiras de suas casas como acontece na livraria do seu João.

Um abraço e até a próxima.

Elian Bantim
Enviado por Elian Bantim em 04/06/2008
Reeditado em 12/09/2013
Código do texto: T1019912
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