DOENTE!

Doente.

Dizem isso de todos que não são previsíveis. A média é medíocre, mas é saudável, não assusta, não interfere, não pensa, não mexe com o equilíbrio precário em que as pessoas vivem. Pois sentem-se tão confortáveis na sua mediocridade, tão seguros! Mal sabem que vivem numa corda bamba. E alguém, sem querer, pode arrebentar esse precário fio da vida com uma palavra, a qualquer instante. Para se agarrarem a essa falsa segurança, dizem: doente. Você é doente, menina. Doente terminal que vive num quartinho escroto nos fundos da casa, família e propriedade.

Boudoir.

Doer.

Roer.

Moer.

Feche as cortinas de veludo do seu antro, menina. Não deixe as pessoas normais olharem. Não deixe que descubram que você pintou as paredes de vermelho. Não lhes mostre os desenhos obscenos que você faz. Não lhes diga que você comprou aquele vibrador. Não lhes conte como você perdeu a sua virgindade no porão da padaria. Não deixe que saibam o desejo que você sente pelo seu tio, a cara do seu pai. Não confesse que não usa calcinha. Não fale que lê livros. Não diga que não acha graça nas baladas. Não use palavras difíceis. Não deixe que descubram que você sabe usar o trema. Não saia do boudoir, menina.

Não

Fique

Doente.

Ísis Velvet
Enviado por Ísis Velvet em 09/04/2005
Código do texto: T10542