Aquele velho da praça

Sentado no banco de uma praça um velho dava grãos de milho aos pombos que se aglomeravam ao seu redor. Ele ficava ali todos os dias, com sol ou chuva; ele realmente gostava muito daquela praça, daquele banco... gostava de ver o movimento das pessoas, das idas e vindas das carruagens.

Certa vez entretanto quando dava comida aos pombos, apareceu um misterioso homem. Tal homem trajava blusa social branca por debaixo de um elegante paletó preto, uma calça social e sapatos de mesma cor além de uma cartola negra.

Chegou como o vento inesperado e silencioso. Sentou ao lado do velho sem, inicialmente, emitir uma palavra. Passado um tempo falou:

“Lindos animais, graciosos e exuberantes.”

O velho se assustou. Poucos senhores perdiam seu tempo conversando com ele, logo ele, um homem de olhos caídos, pele enrugada, cabelos brancos que mau saia daquele banco. E logo quem ia parar e conversar era um senhor tão elegante? Pensou o velho. Para falar a verdade ele não gostava de pessoas assim, elegantes de mais; realmente não gostava desses cavalheiros que se acham superior e faziam caridade apenas por propaganda, para serem vistas como pessoas que se preocupam com a sociedade.

O elegante homem repetiu o elogio e começou a falar de sua vida, falou um pouco de suas viagens de como era bonito o mundo e como era triste partir dele, sempre mencionou que viajava a trabalho mas em nenhum momento mencionou qual era esse trabalho. Falou um pouco das pessoas que conheceu, das belas damas aos mais rudes homens, pela forma de falar e pelas histórias pode notar que aquele senhor era um homem muito velho. Mas depois de um tempo calou-se, e igualmente o tempo que ficou falando sobre sua vida foi o tempo que ficou calado ao lado do velho. Tempo suficiente que deixou o senhor idoso intrigado, pois há muito o senhor elegante que tinha aparecido misteriosamente estava calado, já estava entardecendo e o homem ao seu lado balançando a cabeça ou apenas olhava para as damas, com seus longos vestidos e suas sobrinhas, passarem. Até o momento o velho nada havia falado, ficou escutando atentamente o relato do visitante, mas a curiosidade era maior, e tomando coragem falou:

“O que fazes aqui?”

“Estou esperando a hora passar para sair com uma pessoa”

“Como ela é?”

“Eu mal conheço, ela nunca foi de falar muito comigo, por mais amigo eu tenha tentado ser.”

“E que horas você marcou?”

“Está perto da hora, eu é que cheguei cedo de mais.” E deu um sorriso. Por um momento ele pode ver pela primeira vez naquela tarde o rosto do homem que sentou ao seu lado. O rosto era muito ossudo, aquele senhor devia ser muito magro, pensou, e a pele era muita clara.

Durante a noite choveu muito, uma chuva que perdurou até o dia seguinte, mas o velho não viu esta chuva, ele não voltou mais à praça no dia seguinte ao encontro com aquele senhor elegante, e mesmo quando fez sol, ninguém mais viu mais aquele personagem que dava milho aos pombos. Com o tempo seu rosto e seus gestos foram esquecidos, e nada mais soube dele, só que era costumeiro estar todos os dias na praça dando comida aos pássaros e um dia desapareceu.

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 29/06/2008
Reeditado em 06/01/2016
Código do texto: T1057060
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