Urbanagonia

Caminhava, pesadamente, sobre o asfalto molhado. Acompanhando os reflexos dos prédios nas poças de água.Desarmonia urbana a emoldurar o dia sem luz.

Abril cinza, em meio a outras colorações do mês no calendário nacional.O centro da cidade não era o que podia chamar-se de downtown.Antes disso, era um aglomerado de edifícios antigos, mal-cuidados, distribuídos em ruas e calçadas estreitas.

Não gostava de ir até lá. Um certo sentimento claustrofóbico o dominava.Saudade de outras metrópoles de avenidas largas e possibilidades a garimpar.Mas, era a sua cidade.Não tivera coragem de içar velas e aportar em outras latitudes.Ao inesperado, tinha preferido a rota rotina de todos os dias.

Aqueles rostos, mesmos.Cansados.A deselegância das vitrines, o tráfego feroz de carros e guarda-chuvas.Tudo o oprimia. Pensou em gritar, em escrever um e-mail para o Prefeito, em chutar o stand dos ambulantes.Crescia dentro dele, uma fúria desconhecida.

Desatento, não se deu conta da falha no passeio público.Esborrachou-se no chão.Agora, sim, podia ver àqueles mesmos rostos olhando-o com um mix de nojo e piedade. Então, estridente, a sirene da ambulância poluiu o ar. Tudo escureceu em sua mente.

Acordou em outra cidade...