QUANDO ALBERTO DE OLIVEIRA CHEGOU AO INFERNO

Quando Alberto de Oliveira, nos idos de 1937, deixou este mundo, não conseguiu retirar os bilhetes para entrar no céu, devido a uns problemas de ordem técnica. Portanto fora mandado diretamente para o inferno. Não perguntou nada, mas se intrigou com o fato de não ter sido mandado primeiramente ao purgatório. Acompanhado de um anjo escalado para a tarefa, à porta do lugar sinistro, o Diabo, em pessoa, estava lá resolvendo sebe-se lá o quê. Do jeito que estava (muito diferente, aliás, da figura medonha que as pessoas na terra faziam dele) o temível “senhor das trevas” nem seria percebido se estivesse andando pelas ruas de uma cidade grande, a não ser pela roupa extravagante: calça de brim riscado, camisa de viscose lilás com mangas curtas, alpercatas de couro cru. Os aspectos da vida terrena atraem sumamente as atenções do “demo”.

Assim que o capiroto avistou o poeta, se espantou:

- Alberto de Oliveira! – O poeta aqui no inferno! – completou o “feio”.

- Não, não! Esse daí não pode ficar aqui de jeito nenhum! Ele vai acabar atapetando de flores todo o chão do inferno. Isso, não! Claro que este lugar – afirmou – está cheio de poetas, mas apenas, os particularmente ruins.

Alberto não teve coragem de interpelar o Diabo, embora o tenha achado muito cortês.

O anjo, um pouco afastado, esperou que Alberto o acompanhasse. O que o poeta queira mesmo era voltar para Niterói ou mesmo Palmital, mas confessa a curiosidade que tinha a respeito daquele lugar.

Não tinha idéia aonde aquele anjo o levaria depois de ter sido rejeitado no inferno, mas incrivelmente não estava preocupado. Por entre a forte neblina, ambos desapareceram...

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 28/08/2008
Reeditado em 28/08/2008
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