Os passos de um carioca

Prezados amigos:

Tudo começou na minha adolescência,

quando na esquina da Avenida Paulo de Frontin,

com a rua Joaquim Palhares,exatamente no número,

trezentos e oito no bairro do Estácio, eu residia.

Chamavam-me de Luiz,

eu levava uma simples vida de dificuldades

e dava o meu jeito de sobreviver.

Procurando conviver com toda a magia,

sentia todo o ambiente a minha volta.

Apesar de pouca experiência, já conseguia decifrar,

as atitudes das pessoas que freqüentavam o baixo meretrício,

que ali bem próximo se instalara.

Porem gostava muito, pois tudo aquilo fazia parte de um contexto social.

Tinha sempre a impressão de que naquela localidade,

todos eram muito felizes.

Via-se pessoas de varias regiões e ate mesmo de outros países,

integrar-se num tipo de país das fantasias.

Morando muito próximo, adquiri vários amigos,sem discriminação nenhuma,

todos se respeitavam mutuamente e o meu sentimento era recíproco,

em relação a tudo aquilo.

Assim sendo,eu levava a minha vida fazendo pequenas compras e

ganhando sempre agrados por esses serviços prestados.

Tipo:jornais, mercado, farmácia, pão e etc.

Isto marcou tanto a minha vida, que ate hoje, ainda recordo com muitas saudades,

daqueles tempos idos.

Muita coisa hoje em dia , já não se desenvolve como antigamente,

como por exemplo, a naturalidade de se transitar dentro de uma “Zona”

sem ter o medo da insegurança, que afasta o segredo da ilusão.

Vejo um tempo de determinação, no sentido de enfrentar esse devaneio,

que as pessoas desconhecem e imaginam, como deve ser...

e às vezes ate recriminam.

Acho que esse meio hoje em dia é tão absorvedor, que um filho pode utilizar

esse método, para ganhar dinheiro, sem que os pais percebam.

Dando os meus passos no dia a dia, aprendi muito.

Naquele tempo as pessoas ligadas ao mercado dessa fantasia,

de certa forma gostavam muito de proteger, principalmente os meninos de rua.

Recordo-me ainda de uma mulher, e o seu nome é ou era...

Ela nos dava: comida, doce e dinheiro.

Eu e os meus amigos de rua,tínhamos um carinho tão grande por ela,

que a elegemos nossa madrinha.

Nas noites, saíamos pelas padarias pedindo pão, desde o largo do Estácio

ate a Sães Pena.

Nessa época de adolescente, também brincávamos muito.

Tínhamos: patinete, carrinho de rolimã, soltávamos pipas,

jogávamos bola e andávamos de bicicleta.

Por muitas vezes, deixamos os moradores da ladeira do Clube do América,

na Afonso Pena, de cabelos brancos, com as nossas decidas de carrinhos.

Não posso esquecer da fabrica de biscoitos Mirabel, que vendia os deliciosos “farelos”,

feitos das sobras dos biscoitos e era uma festa.

Essa fabrica situava-se , na rua Pinto de Azevedo, justamente, no reduto da fantasia.

Prefiro não citar o nome dos amigos de rua, porque eu poderia esquecer de alguém,

e não quero cometer tal injustiça.

E fui lavando a vida que me cabia, quando podia, estudava na escola Pedro Varela,

Que ficava na rua, Joaquim Palhares.

Digo isso, porque à medida que eu ia crescendo, procurava meios de ganhar dinheiro,

honestamente é claro, para ajudar em casa.

Às vezes tinha um tempo de trabalho certo, tomava conta de carros, num supermercado

De nome, Disco Charque, o de número trinta e três, que ficava na rua,Hadook Lobo e

na cooperativa dos funcionários do Banco do Brasil, na rua, Joaquim Palhares, em frente

ao colégio Martin Luter King.

Vivia assim uma perfeita vida que me parecia normal, porque naquele tempo as coisas eram normais. Quero dizer com isso, que sem uma visão logística, de um padrão para um futuro brilhante, onde eu poderia chegar? O meu berço não tinha uma visão controladora e significativa, mas acho que sempre tive uma força divina.

No final dos anos setenta, uma mudança muito grande veio acabar, com alguns planos já elaborados, porque o progresso pedia passagem, a todos os cariocas e em fim chegou a nossa localidade. O famoso Metrô com os seus buracos, destruindo tudo, para instalar-se com os seus trens subterrâneos, que por sinal são muito bonito.

Com isso, infelizmente desalojaram, a comunidade normal e também o país da fantasia.

Acabando assim,com o seguimento de todas as histórias, que se desenvolvia em torno do mesmo. Lembro-me muito bem de alguns personagens que se destacaram, como:

A doceira dona Helena, o mecânico seu Carlos, seu Lourival chefe dos bicheiros, seu Romeu chefe da garagem de táxi e o pessoal do departamento de conservação da prefeitura.

Todos eram meus amigos e se localizavam facilmente no bairro, mais precisamente, na rua,

Miguel de Frias. Então uma ordem de despejo, mudou o destino de muitas vidas e sonhos.

Para a minha família foi um tempo de superação, porque tudo previa ficar mais difícil

e não demorou a constatarmos isso. Assim mudaram a gente covardemente, de repente e quase que indecente. Bagulhos amontoados, pilhas de gente, todos na carroceria de um caminhão, sem precedentes, forçados a sobrevivermos sem conhecimento algum, daquele novo lugar. Só podia dizer que era: distante, deserto e nu, que só sabíamos o seu nome.

E realmente tudo era mais difícil, nem água tinha, era uma guerra. Mas como tínhamos que nos adaptarmos, fomo levando as nossas vidas, descobrindo no dia a dia, a verdadeira realidade de não termos apoio algum. Meus irmãos iam crescendo e ficava mais difícil olhar a todos. O tempo foi passando e a população aumentando, a violência era de espantar.

Vieram amigos com o tempo, mas a mesma violência acabava com eles em meio tempo.

Quando a violência alcançou um da minha família, foi num trabalho honesto, ate hoje não sei como aconteceu. Hoje somos homens formados pela vida, sabemos o que queremos,

Em resumo de vida por vida, pai não temos, pela separação. Mãe, perdemos por uma doença e abalou a estrutura dos nossos corações.

Caminhamos com a certeza de que tudo pode acontecer. Por isso, ainda assim e apesar de tudo, ficaram as marcas.

Choramos muito, mas temos a esperança de que a vida é mesmo questão do tempo.

Apresento esta família que não desiste e tem certeza que a gloria existe.

Luiz,Regina,Marcelo,Sandro,Márcia,Miriam,Wilson e Igor.

Em memória para; Maria mãe e Waldemir.

O poeta divide com vocês, a própria vida e não poderia deixar essa poesia no ar,

Ainda que seja triste, mas faz parte da vida.

Toca-me no ar

com o meu destino

só peço um dedo de prosa

no segredo do meu verbo.

Assumirei toda a natureza

nem meus erros terão vida.

No terço do meu tempo

nos meus setenta por cento,

sinto orgulho em viver.

Por que me deste senhor

a oportunidade de criar o positivo?

Porem tenho o nobre sentimento

incompleto neste ciclo.

Quando o peso da responsabilidade

capenga em meu corpo

por falta da grande oportunidade.

Talvez se tivesse essa consciência

poderia diversificar a minha escrita

transformando-a em fantasia,

para iludir o coração desse poeta

que escreve por amor,

gerando saídas para encontrar

a estrada da vida perdida,

por descuido de fabricação

de toda humanidade

em mim justificada.

Um beijo em todos vocês.

Condor Azul
Enviado por Condor Azul em 26/04/2006
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